"O último dos Moicanos"
terça-feira, março 30, 2004
É exactamente assim que eu me sinto.
Não fico particularmente abalado com as greves da Carris, agora imagine-se já programadas até ao mês de Junho, não fico assim com a intenção dos professores em distribuir folhetos onde divulgarão que existem 40 mil docentes desempregados e um milhão de analfabetos, não fico assim com a greve do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras que prometem não cumprir os acordos de Schengen, não ficarei assim com a mais que provável avalanche de greves que se seguirão nos próximos dias.
A greve é para mim, como o tabaco, quando acaba temos que ir comprar mais, e é assim que os sindicatos vivem,, do vício da greve. Se não fossem as greves e os abandonos das reuniões magnas de concertação social jurando a pés juntos que este acordo é o pior de todos, quem ligaria aos sindicatos . Ninguém.
Os tempos do desfraldar da bandeira pela Avenida da Liberdade já lá vão e mesmo com as greves gerais, que de geral nada têm a não ser que geralmente são as sextas-feiras, a adesão de outrora é recordada com a lágrima no canto da bandeira.
Que fique claro que a greve é um direito.
Que fique claro que podem fazer as vezes que entenderem greve, sempre que achem que a reindivicação é justa.
Que fique claro que não é justo utilizar um evento de projecção mundial para fazer valer os direitos, por mais legítimos que sejam.
Enganam-se!
Vão conseguir isso sim envergonhar todo um país de uma situação que sendo sobejamente conhecida nunca me lembro de ter sido discutida numa manifestação.
Será democrático na altura em que o SEF mais falta faz, para controlar as entradas de visitantes , este marcar uma greve ?
Se eu fosse alemão, e chegasse a Portugal sem precisar de mostrar qualquer documento devido à greve do SEF, onde os autocarros estivessem sempre em greve, onde na esplanada do Rossio recebesse um postal a dizer que na terra onde estou existem 1 milhão de analfabetos, onde no restaurante não conseguisse almoçar porque o cozinheiro está de greve, onde não conseguisse ir a nenhum museu - In Portugal the Extra Time is always de better part - porque estes estão de greve, onde ao ligar para o 112 uma voz me disser em português " Por favor tente mais tarde", onde ao deslocar me ao hospital tivesse que esperar 10 horas pela consulta devido a greve dos enfermeiros.
E será isso mesmo que acontecerá se esta atitude provinciana se manter.
Quando perceberam que das poucas vantagens que o pós Euro-2004 trará para a nossa economia serão as receitas futuras de turismo, já que é impossível atingir o efeito-barcelona, já será tarde demais. Sem turistas os museus fecham, os autocarros reduzem a sua frequência, os restaurantes deixam de ter clientela, as fronteiras são menos utilizadas.
ou melhor será sempre a mesma merda...
Publicado por António Duarte 22:21:00