A Legitimidade do "Cartão Amarelo"

Afinal não é só em Guimarães que a frase “o que hoje é verdade amanhã é mentira”, faz sentido já que também na política ela faz todo o sentido.

Recuando cerca de 2 anos e meio no tempoeleições autárquicastodos nos lembramos dos apelos do Partido Socialista, para que os portugueses não mostrassem um cartão amarelo ao PS.

Diziam eles na altura que alguns municípios PS poderiam sair penalizados pela governação – eu preferia aqui dizer desgovernação – que o Engº Guterres estava a fazer, e com isso em vez de estar a ser avaliada a política municipal estar a ser avaliado o desempenho do Governo. Nada mais ambíguo certamente.

Hoje, ao andar pelas ruas de Lisboa, vejo, os seguintes cartazes, vindos do PS “3 anos a perder poder de compra”, “ Assim não Sr Durão”,“ Pela Europa com Portugal “, e o célebre cartão amarelo na mão. Bom, qualquer semelhança com o passado é pura coincidência.

Mas continuando, porque desta ambiguidade política estamos todos fartos.

Se porventura se questionassem os portugueses das seguintes questões europeias...

a) Quantos países vão aderir a União Europeia em Maio ?
b) Quais as consequências do alargamento para Portugal ?
c) Poderá a PAC acabar, e quais as consequências para a UE ?
d) O que é o PEC ? Como será a revisão do novo PEC ?
e) A nova constituição europeia mudará alguma coisa ?
f) Devera a UE ter uma única polícia ?
g) Quais as funções do BCE ?
h) O que é o BEI ?
i) Acordos de Lisboa ?

Acreditem, mas muito mais de 90 % dos portugueses não responderiam objectivamente às perguntas acima colocadas.

E sendo verdade que cada partido tem uma política europeia diferente, neste caso continuo a não compreender como é que um partido que esteve sempre na primeira linha da Europa como o PSD, se junta numas eleições europeias a quem se diz euro-calmo. Bom como se não bastasse ainda adoptam o lema “Força Portugal”.

A questão que se coloca aqui, é que os deputados que forem eleitos, terão um papel importantíssimo na Europa. À beira da discussão da nova constituição, depois de ela ser aprovada nunca mais nada será como dantes. Bom não vale a pena sermos tão radicais como Manuel Monteiro e a sua Nova Democracia nos querem fazer crer, mas é um facto, que por exemplo, em determinados assuntos onde exista sobreposição entre leis portuguesas e comunitárias, qual delas prevalecerá ?

Já terão os portugueses percebido isto ?

Ao Partido Socialista, não lhe interessa discutir isto ?

É mais fácil apelar à demagogia do voto e do cartão amarelo. O PS, chamuscado com o caso Casa Pia, sabe que precisa de um resultado favorável numas eleições para inverter a tendência e pôr o Largo de Rato cheio de bandeiras, para na manhã seguinte ir a Santa Apolónia esperar vindo do exílio o Engº Guterres ( já vi este filme algures após o 25 de Abril...)

Ao PS é indiferente quem vá para Estrasburgo desde que isso signifique um cartão amarelo ao Governo ?

Temo que, no final da campanha, à pergunta qual é diferença entre votar PS e PSD nas Europeias não haja resposta, e por isso a Grande Loja lança um apelo...

Serão os partidos do bloco central que sempre se alhearam de discutir as questões europeias, capazes de as discutir em campanha ? Serão capazes de explicar aos eleitores o que vão defender ?

Ou teremos que ser nós a faze-lo ?

Quantos aos cartões amarelos, na altura das legislativas, aí sim, podem e devem ser exigidos à vontade, porque , estaremos a avaliar a governação do executivo, não agora.

Mas já agora, porque não pede o PS um cartão amarelo ao euro-deputado Mário Soares pelo seu brilhante desempenho em Estrasburgo ?  Os padrinhos são sempre padrinhos, ou elefantes como Francisco Assis um dia, num rasgo de rara lucidez, disse.

Publicado por António Duarte 16:10:00  

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