"Canção de D. Maria esperando o regresso das Naus"

«Por tanto homem atrair
Tem la mar de ser mulher
Com voz de sereia os chama,
Com segredinhos de dama
Deles faz o que bem quer.

Fracos abismos se escondem
Debaixo da minha saia.
A rival que assim me mata
É feita de espuma e prata,
Dorme em leitos de cambraia.

Aquelas gentis gentias
Que feitiços te farão?
Passo a noite a magicar,
Agulha de marear
Cravada no coração.



Ai que mentiras guardavas,
Meu marido em teu olhar.
Mal tomavas de mim posse,
Já te rendias ao doce
Chamamento de la mar

Dizem que trazes fortuna,
Escravos, pós e pedraria.
Que me importa tal riqueza,
Se eu já estarei já, com certeza,
Velha e feia, morta e fria?

Ai, pobre de mim, traída
Ai, pobre de mim, deixada!
Se me voltarás com vida,
Se te esperarei honrada?
Ou se me acharás perdida,
Por sol-posto inda deitada
Com escudeiro que ao meio-dia
Me namorava a criada?»

«Canção de D. Maria esperando o regresso das Naus», in L’Amar, 1993

Letra: Hélia Correia

Música: Vitorino

Interpretação de Filipa Pais

Publicado por André 23:11:00  

0 Comments:

Post a Comment