"Eduardo Guerra Carneiro"
domingo, janeiro 04, 2004
«Na triste cidade
de tristes cafés
de chuva a cair
nos olhos doridos
de tanto sofrer
são mesmo os sorrisos
trocados a medo
a sombra tão vaga
de pura alegria
que eu sei
e tu sabes
ser falsa esta música
no meio da praça
Na triste cidade
cidade em escadas
desenho de vento
no arco das pontes
luzeiro de ruas
uma vez por ano
Talvez por engano
talvez seja vinho
eu sei
e tu sabes
madrugada vem
cansados os gestos
da noite alegria
regressa o cinzento
a névoa
e a bruma
Dom Sebastião
num barco rabelo
virá
com tristeza
saber que morreu»
Eduardo Guerra Carneiro, «Balada da Cidade Triste»
de tristes cafés
de chuva a cair
nos olhos doridos
de tanto sofrer
são mesmo os sorrisos
trocados a medo
a sombra tão vaga
de pura alegria
que eu sei
e tu sabes
ser falsa esta música
no meio da praça
Na triste cidade
cidade em escadas
desenho de vento
no arco das pontes
luzeiro de ruas
uma vez por ano
Talvez por engano
talvez seja vinho
eu sei
e tu sabes
madrugada vem
cansados os gestos
da noite alegria
regressa o cinzento
a névoa
e a bruma
Dom Sebastião
num barco rabelo
virá
com tristeza
saber que morreu»
Eduardo Guerra Carneiro, «Balada da Cidade Triste»
Foi jornalista , fez carreira nos anos 60 e 70, nas redacções de «O Século» e «Diário Popular», hoje já desaparecidos, mas à época jornais com tiragens de grande dimensão, que se comparadas com os dias de hoje, eram capazes de fazer inveja aos títulos de referência deste iniciozinho de século XXI...
Mas há muito que Eduardo Guerra Carneiro havia abandonado o lufa-lufa do jornalismo diário. Com excepção de umas crónicas semanais que fez para a Antena 1 no início da década de 90 (1992, creio), e que mais tarde coligiu num livro a que deu o título que dava nome à rubrica («O Revólver do Repórter»), tirando isso, EGC tinha perdido, há anos, o interesse por este jornalismo.
Mas atenção: como muito bem recordou o Aviz, Eduardo Guerra Carneiro nunca foi um ressentido. A sua faceta à margem do sistema, com um certo toque surrealista (terá sido um dos seus últimos representantes portugueses), tornou-o afastado do dia-a-dia, mas continuou a fazer o que sempre fez melhor: escrever.
Obras como «Isto Anda Tudo Ligado», «Contra a Corrente», ou «Dama de Copas» merecem ser lidos.
A diferença de idades fez com que não tivesse chegado a conhecê-lo verdadeiramente, mas as três ou quatro vezes que falei com ele foram suficientes para guardar alguns traços fortes que o identificam: o tom melodioso de uma voz inimitável; o gosto pela conversa demorada e sem roteiros.
Não vai ficar para a história como um dos mais consagrados, mas vale a pena conhecer a sua obra, sobretudo os poemas.
Publicado por André 01:00:00
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