Cunha Rodrigues, volta...
...Tás perdoado, pá!
sábado, janeiro 10, 2004
A recente declaração ao País (vamos realçar a expressão) de Jorge Sampaio foi tão inoportuna como a frase de Durão Barroso no jantar de Natal da Casa Pia - «há males que vêm por bem».
Parece que o Senhor Presidente da República ficou melindrado por o seu nome, alegadamente, ter sido mencionado numa carta anónima que foi anexada ao processo de pedofilia.
Não discutindo se a referida carta falava ou não em mais nomes, até porque quem a leu garante que além de Sampaio só leu o nome do comissário Europeu, António Vitorino, e só publicou esses dois nomes – certo é que o nosso Presidente resolveu esclarecer a Pátria (Paulo Portas é um leitor diário deste blogue), afirmando que o seu nome foi «insultuosamente envolvido» no processo.
O resto da declaração é a lenga-lenga do costume, independência dos tribunais, crítica ao segredo de justiça, mais os célebres recados de Belém, que ora são para ali, ora são para acolá, ora ninguém percebe para onde são e inventam-se destinatários.
O que está em causa é que Jorge Sampaio resolveu utilizar o meio mais solene de se dirigir ao País para reagir a uma denúncia anónima. Algo que poderia ter rematado num comunicado escrito.
O que é estranho é que Sampaio dirigiu-se ao País para se defender a ele próprio, quando houve ocasiões em que preferiu manter-se calado, enquanto muitas pessoas, algumas em cargos de importância política, eram atingidas pelos textos anónimos do blogue «Muito Mentiroso» que, aliás, a Grande Loja analisou em tempo oportuno.
Mais, Sampaio deveria ter percebido que houve apenas um único objectivo com a divulgação: arrastar mais gente para o pântano, para assim desviar as atenções do tema central.
O que, em bom rigor, tem acontecido desde o início, não há nenhuma crítica à substância do processo, tudo o que é questionado é a forma, os aspectos laterais.
Sampaio resolveu, então, alinhar nesse jogo.
Inocentemente, ou não, o Chefe de Estado, por muito que diga a todos os intervenientes para se calarem, alimentou o ruído à volta do processo, mesmo que insistentemente defenda o contrário.
O que se espera do Presidente não é isso!
Sobre a tentativa de afastamento de Souto Moura, o nosso Venerável Irmão José já a dissecou. O Expresso esta semana confirma: «O presidente foi ao limite», segundo uma fonte de Belém, que acrescenta «Se o desfecho for negativo para a acusação, depois de tanta gente ter visto o seu nome envolvido, é natural que Presidente queira apurar responsabilidades».
Ou seja, segundo a fonte, o Presidente da República vestiu o fato de presidente de um clube de futebol à espera de resultados.
Se a equipa ganhar, o treinador mantém-se, se perder, ergue-se o chicote psicológico.
Resta saber se este clube funciona ainda no antigo de modelo de gestão ou se já é uma SAD.
Se assim for, gostavamos todos de conhecer os accionistas… de referência.
Publicado por Carlos 10:29:00