A prudência das ilações
terça-feira, abril 29, 2008
O caso de Jaime Gama, indicado por um jovem ex-aluno da Casa Pia, como envolvido no escândalo sexual, continua a ser analisado em sede de julgamento de difamação, promovido pelo indigitado, contra o indigitador.
No julgamento que decorre com publicidade restrita, dois amigos de Jaime Gama, Mário Mesquita e Luís Salgado Matos, conhecidos publicamente, já declararam a sua crença na imaculada personalidade de Jaime Gama, apontando a perplexidade e inverosimilhança da imputação.
Hoje, no Público, Helena Matos, aponta o caso como revelação e sintoma do estado da Justiça: “(…)sentado ao lado do presidente da República, nesta sessão solene do 25 de Abril, estava Jaime Gama, que, na véspera, ouvira novamente serem proferidas contra si graves acusações de abuso sexual por parte de ex-alunos da Casa Pia. E ninguém se indigna nem se apieda. Porque já nos habituamos a que a justiça não absolva nem condene. Antes, se transforma numa espécie de via-sacra que trucida honras e deixa escapar os crimes.”
Dito assim, permanece uma dúvida: Jaime Gama, segunda figura do Estado, será responsável, por factos graves da sua vida privada, com óbvios reflexos na sua vida pública, por causa da infâmia dos crimes?
Tal não foi apurado, em sede de julgamento, porque nem houve julgamento.
Essa Verdade, indefinida judicialmente, não é conhecida. E o ex-aluno será um mero difamador, interessado em continuar a sustentar a sua história pessoal, por motivos imponderáveis, ou uma vítima real e plausível do queixoso?
É essa Verdade que agora se tenta descobrir, também judicialmente. Uma exclui a outra, naturalmente, no mundo do senso comum. Mas ambas podem subsistir, no melhor dos mundos da Justiça, por força de argumentos insondáveis do senso jurídico, que como é bom de ver, nem sempre coincide com o comum e diverge até vezes demais.
Por muito que alguns pensem em atribuir à Justiça propriedades mediúnicas, próximas dos oráculos da antiguidade clássica, não é assim que funciona, em Portugal ou qualquer outro lado, a máquina inventada para atribuir a cada um aquilo que lhe pertence, apurando a Verdade material das coisas que se conhecem.
Incidentalmente, atinge-se essa verdade. Acidentalmente, o simulacro mais perfeito. Verdadeiramente, o imponderável é regra e a incerteza, companheira habitual desta Justiça nossa que em muitos casos se mostra a si mesma, numa tragédia clássica, atropelada e desfigurada, pelas regras do seu próprio funcionamento, no palco de um tribunal.
Nessa altura, essa verdade processual, é apenas uma lição moral que resulta do entrecho representado, para simular a Realidade.
Uma absolvição ou uma condenação, nesse caso, são a expressão dessa lição, num epílogo da encenação.
Assim, quem julga que num tribunal, em exercício de representação da Justiça, se sentencia sempre a Verdade das coisas, confunde esta com a ilusão das ficções, em que a Verdade existe por si mesma, na sua lógica intrínseca, derivada do entrecho representado.
Por muito que alguns pensem em atribuir à Justiça propriedades mediúnicas, próximas dos oráculos da antiguidade clássica, não é assim que funciona, em Portugal ou qualquer outro lado, a máquina inventada para atribuir a cada um aquilo que lhe pertence, apurando a Verdade material das coisas que se conhecem.
Incidentalmente, atinge-se essa verdade. Acidentalmente, o simulacro mais perfeito. Verdadeiramente, o imponderável é regra e a incerteza, companheira habitual desta Justiça nossa que em muitos casos se mostra a si mesma, numa tragédia clássica, atropelada e desfigurada, pelas regras do seu próprio funcionamento, no palco de um tribunal.
Nessa altura, essa verdade processual, é apenas uma lição moral que resulta do entrecho representado, para simular a Realidade.
Uma absolvição ou uma condenação, nesse caso, são a expressão dessa lição, num epílogo da encenação.
Assim, quem julga que num tribunal, em exercício de representação da Justiça, se sentencia sempre a Verdade das coisas, confunde esta com a ilusão das ficções, em que a Verdade existe por si mesma, na sua lógica intrínseca, derivada do entrecho representado.
Qualquer mentiroso sabe isto e qualquer inocente o pressente.
Daí que a presunção de ilações, imponha a prudência no julgamento da inocência. E vice-versa: a presunção de inocência, imponha a prudência nas ilações.
Publicado por josé 17:26:00
10 Comments:
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Porque a justiça serve para evitar a barbárie mas não substituiu a velha arte de "apalpar as bossas".
E é um facto que há comboios de muito má fama, em que só entra quem se põe a jeito.
Quanto a "justiças" nunca tive dúvida de que o melhor é andar longe...
Agora que ele(JG) como "avaliador" é mau lá isso deve ser.Anos e anos no MNE e não conhecia os atributos do Rito para evitar vergonhas como a de Marrocos, África do Sul e finalmente a de colocar mal o Sampaio ao propor-lhe o LOUVOR com medalha?
Quanto a quem é ou não culpado, mesmo antes do tribunal se pronunciar considero que este irá pelo JG.É a força das coisas...
Acho,no entanto,pitoresco que esteja comprovado que aconteceram violações,o Estado tenha pago as indemnizações e não existam violadores...
Apenas Carlos Silvino confessou.
Parece que há muitas vítimas,muitos anos de violações e apenas um violador.
Depois...claro um Estado que assume responsabilidade moral e para tanto pega no dinheiro dos contribuintes e repara os danos.
Moral da história?
Não há!
Segundo a Coordenadora da PJ, Gama foi referido por 3 miúdos
http://dn.sapo.pt/2008/04/25/sociedade/coordenadora_pj_que_gama_referido_3_.html
Até amanhã e boa sorte :)
Já agora. Esta meia-noite será a décima sétima alteração ao preço dos combustíbeis desde o início do ano, com apenas três no sentido da baixa e as restantes a representarem aumentos. "O povo é sereno".
continua com:
coordenadora_pj_que_gama_referido_3_.html