As nojices
sexta-feira, abril 11, 2008
“É evidente que António Mota quer recrutar Jorge Coelho pelos seus contactos políticos. Pela sua influência no PS, que governa. Porque a Mota-Engil está prestes a renegociar com Mário Lino os contratos de concessão de estradas. Porque estão anunciadas oito novas auto-estradas. Mas qual é o mal de querer contratar alguém pela sua rede de contactos? “
É assim que escreve, hoje, em editorial, o director do Jornal de Negócios, Pedro Santos Guerreiro.
Alguns parágrafos antes, escrevia no mesmo editorial, intitulado “o nojo”:
“A indicação de Jorge Coelho para presidente da Mota-Engil convocou o debate das promiscuidades entre política e empresas. E dividiu o país em duas facções: os moralistas e os ingénuos. A demagogia adora divisões assim.
Pensar que Coelho está a ser pago por favores prestados é um insulto à inteligência de António Mota. Não é pelo que fex no passado que Coelho é o preferido pela família que controla a empresa, mas pelo que pode fazer no futuro. Politicamente, é claro”
Este tipo de argumentação em editorial de jornal económico, explica-se a si mesma. Nem precisa de comentários. O que revela o estado anómico a que chegamos e que perpassa por todos os sectores que entendem o exercício democrático pela via do realismo que o advogado Lobo Xavier, demonstrou no último programa da tv, da Quadratura do Círculo: é a vida! Ou, melhor dizendo, a vidinha.
A ética, nesta altura, já nem é tida nem achada. O que se passa, tem mais a ver com a estética, o modo de aproximação à vidinha. Quem conseguir o melhor disfarce, ganha o jackpot.
Sendo assim, retoma-se a velha discussão, caindo na crónica de José Miguel Júdice, hoje, no Público, intitulada “as regras da calúnia.”
Ultimamente, tudo são calúnias para o actual apaniguado PS, ex- PSD. E a vitimização sucedânea, é recorrente.
Na essência do escrito, porém, ressaltam algumas frases de injúria à inteligência colectiva. Por exemplo, esta, em que estabelece comparações entre Jorge Coelho e ele mesmo, Júdice, por causa dos ataques públicos à reputação:
“ As nossas situações são aparentemente diferentes e os movimentos são até opostos: Jorge Coelho serviu o país, bem ou mal, para o caso pouco importa, durante anos; entendeu agora dedicar-se à vida empresarial. No meu caso, sempre estive no mundo privado, profissional e empresarial e decidi agora dedicar parte substancial do meu tempo durante três anos a tentar servir Lisboa, (…) aliás de forma não remunerada.”
“No caso de Coelho, com tais comentários assume-se que quem foi ministro, poderoso dirigente partidário, quase líder do PS, só pode ser incompetente e incapaz e por isso só pode ser chamado para uma empresa para assim viabilizar tráfico de influências.”
Júdice acha depois que toda a gente tem direito ao seu bom nome e que está instalada em Portugal, “uma atmosfera miasmática, doentia que enlameia tudo e todos. Essa atmosfera nasce em blogs, e comentários anónimos em jornais on-line. “
E depois adianta uma novidade:
“Veja-se outro exemplo: uma vez, um jornal afirmou que o meu escritório de advogados recebia um milhão de euros de avença mensal de uma entidade pública ou ( noutra versão) um milhão de euros por 15 dias de trabalho. As notícias ( melhor seria falar em manobras de intoxicação) eram falsas e nada tinham de verosímil, foram desmentidas várias vezes, mas volta meia volta regressam.”
Pois bem.
Como este blog tem sido um dos divulgadores da notícia que Júdice diz ser falsa, nada melhor do que o próprio Júdice esclarecer as coisas como elas devem ser esclarecidas.
Este blog, limitou-se a divulgar a notícia do tal jornal que é nada menos do que o Pùblico, onde Júdice escreve. Se tal notícia era falsa, ninguém deu por nada na altura, porque ninguém a desmentiu, publicamente e que se saiba. E os arquivos dos jornais, estão aí para serem lidos.
À semelhança do que Júdice pretende atirar para a opinião pública, sobre a sua vitimização por via caluniosa, também não adianta afirmar algo que não corresponde à verdade, procurando o efeito contrário…
Este blog, limitou-se depois, a reproduzir um requerimento de um deputado do PS, António Galamba, na altura na oposição, dirigido ao Governo e com indicações precisas sobre o teor da notícia: um milhão de dólares ( e não euros), quinzenais, pagos pela Parpública, durante tempo não definido, ao escritório de advogados PLMJ, de que Júdice faz parte e que ele refere como “meu escritório de advogados”.
Esse requerimento de Galamba, nunca foi publicamente respondido, pela entidade requerida. Quanto aos desmentidos, a única vez que li ou ouvi qualquer coisa parecido, foi uma breve e lacónica declaração, numa revista esconsa e de suplemento, no sentido que o número dos milhões e a regularidade do pagamento, não estavam certos. Só isso, uma vez e de um modo nada, mas mesmo nada, esclarecedor. Pode sempre perguntar-se o seguinte, a Júdice:
Se entende que existe calúnia, nesse caso, porque não divulga o teor do contrato com a Parpública, em vez de se miasmar em explicações que nada explicam? Porque não respondeu, ele mesmo, ao requerimento de António Galamba? Não ouviu falar nele?
Esse esclarecimento cabal, é essencial para que Júdice, e não só, reganhem a confiança do público que sabe desse assunto e tem todo o direito se saber o que se passou. E é simples de responder. Embora não bastem os desmentidos que nada de essencial desmentem, e não limpam a imagem que foi publicamente focada como dúbia, numa vertigem da denúncia pública, no próprio Parlamento.
Se Júdice, neste caso, se pode queixar de alguma coisa, é dele próprio, e nunca dos comentários anónimos em jornais online, ou em blogs. E pode queixar-se do jornal onde escreve. Não dos blogs...
Júdice, é repetente nesta vitimização pública sobre as calúnias, maledicência e má-vontade de comentadores.
Mas não esclarece a essência do que deveria esclarecer. Fica-se na atoarda aos caluniadores e julga que assim fica sanado o problema. Não fica. Para além de deixar totalmente em claro, por falta de sensibilidade para o mesmo, o problema mais profundo e básico: a organização do Estado e as suas relações com os privados que dele dependem cada vez mais, por via dos contratos de parceira e dos negócios de consultadoria e afins.
Esse é que é o verdadeiro problema, a que Júdice, tentou dar uma solução: o Estado deveria consultar, para esse efeito e sempre, as três maiores sociedades de advogados. As outras, incluindo os singulares, que se amolassem.
Assim, problema de Júdice pode muito bem não ser a calúnia e a maledicência de que se diz vítima.
O problema de Júdice e o de alguns outros, poucos, na ordem dos milhares de beneficiários directos, é, antes de tudo o mais, a transparência entre a actividade privada, com regras de negócios e contratos, bem definidas e precisas, e a coisa pública que é de todos e é negociada por vezes com regras diferentes dos privados. Negociada por entidades públicas, entenda-se.
E como é de coisa pública que se trata, o público, todos nós, temos o pleno direito de saber como é que as coisas se passam. É um direito, legítimo e reconhecido legalmente. Por isso é que os deputados legislaram sobre essas regras que devem ser o mais transparentes possível.
É essa transparência que incomoda Júdice e os demais. É um valor democrático, demasiado oneroso para quem prefere o segredo como alma de negócios.
É essa a essência do problema. Seja o de Júdice, seja o de Coelho.
É essa transparência que incomoda Júdice e os demais. É um valor democrático, demasiado oneroso para quem prefere o segredo como alma de negócios.
É essa a essência do problema. Seja o de Júdice, seja o de Coelho.
Setrá que eles entendem bem o que isso significa? Já começo a duvidar.
Publicado por josé 11:57:00
5 Comments:
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Pela minha parte acho que ainda não atigimos o zénite do sec XVI onde a malta "comprava" o local de trabalho num lugar longínquo do império, onde claro fazia pela vida.
Mas a moral da história é que de facto os capitalistas conseguem "absorver" as pequenas dissidências e escolhos do percurso.
Com um Estado tão generoso porque arriscar em produções exportáveis que tanta chatice podem dar?
Pois, neste caso, estou em crer que nem uma intimação para a prática do acto seria idónea a convencê-los.
O verbo "recrutar" não está mal.
Mas acho que a tradução do do termo inglês "hire" seria mais adequado: "António Mota quer alugar Jorge Coelho".