A criminologia prática

A propósito da violência extrema que marcou o fim da semana que passou, em Lisboa e Porto, com várias pessoas atingidas a tiro de arma de fogo, já foi possível ouvir um especialista de sempre, com lugar cativo nas tv´s.
Moita Flores, antigo polícia da PJ, depois guionista, depois ainda político e autarca, apesar de não exercer há muitos anos, continua a ser ouvido com a atenção devida aos peritos, relativamente a fenómenos de criminalidade recente e complexa.
A antiga prática policial, já com dezenas de anos em cima, confere, ainda assim e automaticamente, uma capacidade intrínseca de análise competente, sobre fenómenos empiricamente observados e assim o especialista continua a assessorar os bastidores da informação televisiva , em Portugal.
Quando lhe perguntam as razões desta onda de criminalidade violenta, as respostas, invariavelmente, saem, directas, dos compêndios de sociologia criminal dos anos sessenta: a pobreza dos arredores das grandes cidades, a falta de estruturas sociais de apoio e no final de contas, a culpa do Estado e da sociedade em geral, que gera estes criminosos sem eira nem beira, vítimas da sua própria condição.

Quando, por qualquer motivo prosaico, são ouvidos os polícias que hoje em dia praticam a actividade policial, no terreno e com a experiência actual, os relatos, divergem um pouco da habitual sociologia de pacotilha, absorvida, em manuais escolares. Assim, segundo a polícia de hoje, o problema da criminalidade violenta, pode muito bem ter causas diversas e o Diário de Notícias, foi ouvir um prático de agora:

Segundo fontes policiais, o aumento da criminalidade violenta registado na última semana pode "resultar da impunidade de que gozam actualmente os criminosos, porque, mesmo que sejam apanhados pelas autoridades, ficam em liberdade à espera de julgamento", afirmam ao DN fontes policiais. Consideram que para isso contribuem as alterações no Código do Processo Penal e "a facilidade com que se vendem e compram armas de fogo".
Logo, numa reunião que congrega os responsáveis por departamentos da Polícia Judiciária, de combate ao banditismo, crime violento e tráfico de droga, talvez ninguém tenha a coragem de dizer o óbvio, porque politicamente incorrecto.
Na quinta-feira, na Academia Militar, numa outra reunião "à porta fechada", com a directora do DIAP, Maria José Morgado, um alto responsável pela PJ, Ferreira Leite e ainda outro da PSP, Guedes da Silva, também será altamente improvável que algum deles tenha o topete de divergir da correcção política.
Aliás, o presidente do Observatório de Segurança, general Garcia Leandro, já assegurou e tranquilizou a população em geral: embora ache tudo isto um pouco anormal, também acha que "estes casos, são pontuais". Logo, a situação, sendo grave, não será desesperada. Ou sendo desesperançada, não é exasperante. É apenas incómoda, para quem tem o poder e o dever de lhe por cobro.
Ponto final, portanto.

Publicado por josé 09:58:00  

7 Comments:

  1. Carlos Medina Ribeiro said...
    A recorrente aplicação do RDM aos problemas ("Relativizar, Desvalorizar e Minimizar"), faz lembrar uma velha história do "ministro da segurança" que dizia:

    -Bem... a situação é séria, mas não é grave.

    Ao que outro respondia:

    - Perdão! Consigo à cabeça das polícias, é grave mas não é séria.
    .
    JC said...
    O meu descanso é que temos um Ministro da Administração Interna que me dá totais garantias de bem resolver estes e todos os demais problemas de violência no País.
    É aquele Ministro que no final da época estival se congratulava com a redução do número de incêndios, imputando-a ao sucesso das políticas governamentais e desvalorizando o Verão chuvoso.
    Pena que logo após as suas palavras se seguiu longo período de seca e de altas temperaturas que fez disparar o número de incêndios no ano de 2007.
    Afinal era mesmo por causa da chuva que o País não ardia...
    antonio said...
    De facto é embaraçoso para o pai do C.P.P. e C.P., agora reconhecer que os "filhos" foram mal criados e assim nada melhor que começar em pensar em renegá-los, ou então nada melhor que negar a paternidade, invocando que a gestação foi feita numa noite de nevoeiro que turvou o discernimento, que estava tolhido por outros voos.
    OSCAR ALHINHOS said...
    O inefável e incansável Moita Flores...

    O homem sabe de tudo... tem teorias sobre tudo...

    É um prazer ouvi-lo. Estamos sempre a aprender!...

    Nem sei como o homem ainda tem tempo para a Câmara de Santarém...

    Talvez pq sendo Santarém perto do Entroncamento, Moita Flores seja um verdadeiro fenómeno...

    Ele é que devia ser o verdadeiro Ministro da Administração Interna...
    lusitânea said...
    Estes dilectos filhos da mais pura humanidade com com os "servos" têm todos policia á porta 24 horas por dia, alguns andam com seguranças, donde quase não sobra nada para os que dizem servir.Bem podem levar o CPP para a retrete e loimparem o cuzinho ao dito, mesmo que seja duro, o que se me afigura que até alguns gostarão...
    PS
    Os ourives andam satisfeitíssimos com as "promessas" de "mais vigilância".Os já cadáveres, esses estão no céu do sr cardeal patriarca.
    Luís Bonifácio said...
    Casos meramente pontuais caro José!

    5 pessoas abatidas a tiro em Sacavém e arredores (1-Sacavém; 3 Catujal; 1 Camarate) é uma situação perfeitamente "pontual".
    OSCAR ALHINHOS said...
    Ouvi hoje uma notícia com que me desmanchei a rir:
    Então não é que a PSP tem dúvidas se o indivíduo que levou 3 facadas no Colombo, possa ser tentativa de, pasme-se, SUICÍDIO???????
    Será que a PSP está tonta ou será que recebeu ordens superiores para que não haja alarme social e vivamos numa paz cada vez mais podre?

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