Justiça à portuguesa


O caso das agressões ao ex-vereador Ricardo Bexiga (agredido em Janeiro de 2005, no Porto) foi arquivado. No despacho final, a procuradora Glória Matos, entre outras coisas, declarou:

1. Só dois meses após a agressão é que Bexiga foi chamado para fazer um reconhecimento fotográfico dos agressores

2. A recolha de indícios no local do crime,como impressões digitais, não foi feita

3. Não foi feita uma busca de forma a tentar encontrar a arma do crime (um barrote de madeira)

4. Em resumo, para a magistrada tais diligências teriam sido determinantes para a identificação dos agressores

O Sindicato dos Magistrados do MP já veio dizer que a culpa não foi do Ministério Público do Porto, e que os procuradores não poderiam ser responsabilizados por «eventuais omissões por parte da força policial que compareceu no local da agressão». Leia-se PSP.

Um Sindicato da PSP diz, por sua vez, que esta polícia fez todas as diligências. E que “apenas em Abril de 2005” o processo foi enviado para a PSP para que esta investigasse, sob a orientação do Ministério Público.

Conclusão: a culpa é de Ricardo Bexiga. O homem, apesar de ter levado com um barrote de madeira na testa, e mais uns, como diria o outro, patarrões de força no lombo, deveria ter protegido a cena do crime. Se fosse um cidadão cumpridor, com certeza que levaria no bolso do casaco um frasquinho daquele pó que realça as impressões digitais. Ao mesmo tempo que, no outro bolso do casaco, deveria ter consigo um bloco de apontamento e uma caneta para apontar a marca e a matrícula do carro dos agressores, assim como deveria tirar notas sobre a côr da roupa dos indíviduos. Bexiga também deveria ter um telemóvel com capacidade para tirar fotografias aos agressores. Isto facilitaria o posterior reconhecimento fotográfico.

Publicado por Carlos 22:31:00  

8 Comments:

  1. MARIA said...
    Olá Carlos,
    Muito obrigada por este post. Sabe porquê ? Já li tanto comentário a cortar " na Polícia e nos Procuradores do Porto " por causa disto, que na minha ingenuidade de simples Maria começava a fantasiar como teria ocorrido essa agressão ...
    É que veja bem, conta-se que os "meliantes" agiram de rosto tapado, mas deduz-se que não protegeram as mãos ?... (que bandidecos primários)
    E depois eles bateram no Bexiga, ou no carro dele ? Foi nele, não foi ? Se calhar , por infelicidade chegou ao Hospital e lavaram-no e não foi possível identificar os dedos agressores no seu couro cabeludo.
    Ah e o reconhecimento dos bandidos que lhe bateram de cara tapada deu infrutífero porque passaram dois meses sobre o crime . Mas afinal devem-lhe ter batido pouco, pois se ele já estava bem antes desses dois meses para ir reconhecê-los ?...
    Julgava eu que isso tinha sido coisa de "profissionais". Digo isto porque quem sabe "não deixa a arma do crime no local ", mas afinal, havia esperança ?
    Sabe, tudo isto é muito estranho para quem não tem conhecimentos de direito e nem de processos, mas deduzo ( coisa de senso comum ) que devem existir diligências aptas a descobrir uns crimes que não são aptas para outros, será?
    Se eu não levar com um barrote na testa ou não me acontecer coisa pior por causa disto ... logo direi a que conclusão cheguei na reflexão que faço sobre o assunto.
    Interessante, a este respeito ainda ninguém discutiu se as regras processuais penais sobre a possibilidade de silêncio dos arguidos e o facto de nada valerem as declarações de uma arguida prestadas no inquérito, se as não confirmar em julgamento, têm alguma influência nisto ...
    Laoconte said...
    Segundo o Procurador-Geral da República:

    "todos saibam que os crimes serão punidos independentemente da escala social, da fortuna ou da posição política".

    A subsunção dessa afirmação a um caso real demonstra bem quão ocas são as palavras perante a realidade portuguesa.
    André said...
    Brilhante, como é teu costume.

    Chega a ser difícil perceber como é que uma agressão tão evidente é arquivada e, como é hábito neste país, simplesmente nada acontece.
    portolaw said...
    só dois comentários:
    1 - ao fim de dois meses já é tarde para identificar os agressores? conheço profissionalmente casos em que o reconhecimento é efectuado muito depois e a vítima não tem dificuldades em reconhecer os agressores
    2 - e porque não se acusou a d.carolina? se bem que não se possa utilizar as suas declarações de inquérito, caso ela se remeta ao silêncio, no livro ela não admite o crime? e d.maria josé morgado dá relevância ao livro para acusar pinto da costa mas já não para acusar uma mandante confessa do crime do dr. bexiga?

    cumprimentos a todos
    Carlos Medina Ribeiro said...
    Acerca desta justiça noves-fora-nada, está a decorrer um pequeno 'passatempo com prémio', [aqui], cujo prémio é uma colectânea de 4 livros do BATMAN, «a última esperança dos infelizes».
    .
    contra-baixo said...
    A novidade aqui foi ter sido um "figurão" a levar uma coça. Quanto ao resto, nao aconteceu nada que não aconteça a cidadãos anónimos.
    contra-baixo said...
    Este comentário foi removido pelo autor.
    João Simas said...
    Concordo inteiramente com o comentário de Portolaw, ao que apenas acrescento que, com livro ou sem livro, pelo menos quanto à D. Carolina, não podia deixar de ser deduzida acusação. Havendo livro, mesmo a condenação seria, na minha modesta opinião, dificil de obviar.
    É que, mesmo não podendo ser as suas declarações (apenas com base nelas)fundamento para acusação/condenação, sempre valem contra ela, ou não, Dr.ª maria Jósé Morgado?

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