As ruas da amargura andam cheias de vergonha.

Já é a segunda citação, hoje. É com gosto que o faço e desgosto que leio o que nele se contém.
Para além de escrito com arte de mestre, diz o que é preciso, este postal, tirado do lança-chamas:


A nova ministra da saúde vem recheada das melhores recomendações. Arguida num processo do Tribunal de Contas por descaminho de milhões do erário público, é, de facto, um pergaminho enaltecedor. Fala por si. E vale, no mínimo, dois ou três MBAs, daqueles extraídos de brinde na Farinha Amparo.
Num país normal, haveria um resquício de pudor a recomendar alguma sobriedade e contenção nestas trampolinices. Mas num país maravilhoso, como o nosso, a arrogância descarada de quem desgoverna até permite cortejos grotescos destes. E o país inteiro estaca, embasbacado, diante do espectáculo gratuito do desmazelo aos pinotes, rua abaixo, com o indecoro às cavalitas.
De facto, num país sério, um ministro indiciado, automaticamente, e por uma questão básica de ética, demite-se. Aqui, um político indiciado, além de indemnizado, sobe a ministro. Eis um regime de patas para o ar - uma república, mais que de bananas, de pantanas!
É mesmo caso para dizer, paraglosando o Camões: mudam-se os tempos, mudam-se os "à vontades". Agora, à mulher de César não basta parecer uma rameira: faz questão de exibir-se no Coliseu toda ataviada!

Publicado por josé 15:21:00  

2 Comments:

  1. Carlos Medina Ribeiro said...
    O advogado da senhora explica que «Quem vai a julgamento são todos os membros dos três ou quatro conselhos de administração da ARS de Lisboa, e isso nada tem que ver com a sua personalidade».

    Portanto, se bem se percebe, vai a julgamento, mas, ao mesmo tempo, não vai.
    Vai, porque integra um grupo de pessoas que vão; mas não vai como "personalidade".

    NOTA: A explicação pode ser encontrada na Mecânica Quântica, um ramo da Física que se caracteriza por fugir ao senso-comum, mas onde tudo bate sempre certo...
    Laoconte said...
    O Procurador-Geral da República (PGR) considerou, esta terça-feira, fundamental que «todos saibam» que os crimes «serão punidos independentemente da escala social, da fortuna ou da posição política».
    E não há nada pior do que uma pena de ser ministro?

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