O azar da ASAE

O problema principal da ASAE, não é apenas o da visibilidade dos "shows-off" do seu Inspector Geral, o fumador de casino, António Nunes.
É principalmente, o da credibilidade de um organismo público, colocado perante a necessidade de actuações discretas em alguns casos e em visibilidade firme, mas aceite pela comunidade, perante outros.
O melhor exemplo desta desadequação, deu-o um feirante cigano, aquando de uma apreensão, pela ASAE, numa das tais operações de visibilidade, de mercadorias supostamente contrafeitas e à venda: "então isto é contrafacção e o diploma do primeiro-ministro não é?!"
É ainda um problema de imagem pública de uma instituição que sendo aparentada a órgão de polícia criminal, não é de todo uma brigada anti-terrorismo.
No fundo, é um problema de quem não entende o povo português e as idiossincrasias que lhe são próprias. Neste, como noutros assuntos.
Continua a ser, por isso, um problema de senso comum, na actuação concreta que não se compadece com fundamentalismos em áreas como a restauração, tendo em conta o país real que somos e continuaremos a ser: "um país engravatado todo o ano que se assoa à gravata, por engano", no dizer de Alexandre O´Neill.
Quem defende a actuação destemperada, insensata, fundamentalista, de um organismo destes, merece a imagem do fumador de casino que foi notícia nos principais media internacionais pelos motivos que se sabem: defender-se, restringindo e eximindo-se à aplicabilidade da lei geral que deveria fazer cumprir, em primeiro lugar.

Publicado por josé 12:47:00  

9 Comments:

  1. MARIA said...
    Caro José,
    Dadas as circunstâncias do momento também me parece que o Primeiro Ministro fez mal em penhorar mais ainda a sua imagem nesta defesa pública da ASAE.
    Eu pela minha parte, hoje com este seu post vi esclarecida uma dúvida que há anos me persegue : não raro olham para mim e dizem-me - tens algo cigano -
    Pois , agora com a sua transcrição do " desabafo " deste feirante cigano, fez-se luz ...
    Saudações amigas
    Maria
    Helena Henriques said...
    Bom, parece-me que há aqui muita demagogia, as normas que a ASAE fiscaliza são transcrições de directivas europeias. Uma chatice, mas o mensageiro fiscal é capaz de não ter tanta culpa como isso. E mais uma vez, discute-se 'ao lado'. Cumprimentos
    josé said...
    Tem toda a razão, Helena, porque a discussão, é mesmo ao lado dessa que apresenta.

    Era exactamente isso que pretendia dizer com o postal, mas fico ciente de que passei mal a mensagem.
    zazie said...
    ahaha «então isto é contrafacção e o diploma do primeiro-ministro não é?!»
    É verdade, grande cigano, que topou a balofice. Num país de chico-espertos institucionalizados e no Poder, vir-se moralizar o povo, dando exemplo de maior ciganice, está de ver que é caso para se gozar.
    josé said...
    A questão é esta:

    Nenhum regulamento ou norma de proveniência comunitária deve ser aplicado "às cegas", ou sem atender a uma maneira de ser portuguesa que tem de ser levada em conta, para que não haja "excessos de zelo",como tem havido, ou puras e simples idiotices como parece também que existem, como o deputado do CDS apontou no Parlamento.

    Uma coisa, são os regulamentos sanitários, as normas de higienização e as de bitola; outra bem diferente, é a aplicação dessas normas a realidades que não são aquelas a que se destinam.

    Antes de haver ASAE, havia a IGAE ou coisa que o valha e antes desta a Intendência disto e daquilo. As leis de há cinco anos não são diferentes das de agora, nesse aspecto.

    O que mudou?

    O aparato. A ideia de "visibilidade" parola. A noção que a instituição tem de "aparecer", para impressionar o poviléu.

    É esta parolice que me incomoda; não é o facto de haver leis que devem aplicar-se com rigor.

    Tomara que o fossem a sério...
    zazie said...
    ò José, há um aspecto que eu não entendo e que tem sido repetido. A questão da viabilidade ou não viabilidade económica de uma série de pequenos restaurantes, cafés, tascos, tipicamente tugas.

    O que é que o presidenta da ASAE tem a ver com isso?

    O que é que o Estado tem a ver com o facto de alguém ter um pequeno café que praticamente não dá lucro?

    É que esta parte é que estranhei. Se está legalizado, que têm eles a ver com o serem muitos ou poucos? acaso querem comparar o preço e esta boa reserva bem portuguesa de pequenos cafés baratos, como na Europa já não existe?
    zazie said...
    Aliás, estranhamente existem outras coisas bem mais paradoxais. Londres e Paris estão cheios de pequenos "mercados" de imigrantes, por toda a parte- em especial à saída das estações de metro, que são uma autêntica nojeira.
    zazie said...
    Isto já para não falar no peixe às moscas, à entrada dos restaurentres- na Bélgica ou nas feiras Londrinas, ali mesmo em Leicester Square, com porcarias para comer como por cá nem nas berças.
    Helena Henriques said...
    e aqueles cachorros nas ruas de Londres - disgusting :)

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