A génese do mal

Com a eleição de hoje, de três administradores da CGD, banco público, estatal, para o BCP, banco privado, de accionistas privados, surge o panorama da banca em Portugal, em reflexo. Segundo se anuncia na tv, o ganhador, Santos Ferreira, um gestor ligado ao PS, nem apareceu a dar explicações aos accionistas...

Em Março de 1975, em pleno processo revolucionário, os conselheiros militares da Revolução, decidiram nacionalizar os bancos então existentes, em Portugal. Nomes como Fomento, Espírito Santo, Sotto Mayor, B.P.A., Borges & Irmão, Totta & Açores, entre outros, deixaram de ter administradores privados e passaram a tê-los, nomeados pelos partidos dos diversos governos, até vinte anos depois e ainda após esse período.
O BCP, apareceu em 1986, em pleno período de transição para uma economia de maior mercado, com a integração na então CEE.
Os administradores e gestores dos antigos bancos nacionalizados,não desapareceram para o vazio do opróbrio revolucionário. Integraram-se. Foram-se integrando o melhor que podiam e sabiam e assim chegaram aos anos noventa, período de retoma da iniciativa privada no sector bancário.
Os antigos inimigos de classe, que defendiam os putativos interesses do povo, contra os banqueiros "fascistas" e "burgueses", acomodaram-se depois às novas realidades. Alguns, bem notórios e que levantavam o dedo em riste em plena Assembleia, para acusar, invectivar e anatematizar a "burguesia", associam-se agora, lado a lado em cadeiras de Conselhos de Adminstração e de Supervisão, com os ex-inimigos de classe, da burguesia, como é o caso notório de Vital Moreira e Pina Moura, dois exemplos típicos, despudorados, nos tempos que passam.

A história em imagens de época ( revistas Vida Mundial de 20.3.1975 e Flama de 18 de Abril de 1975), ajudam a perceber o que aconteceu e porque aconteceu. Fica aqui para memória futura:

Na sequência do 11 de Março de 75, a revista Vida Mundial, dirigida por Augusto Abelaira, Alexandre Manuel, Afonso Praça, Adelino Cardoso, Fernando Antunes, Fernando Cascais, Fernando Dil, Maria Antónia Palla ( mãe de António Costa) e outros, titulava na capa o que segue e perguntava no interior se "Começou a Revolução?", com o elenco completo dos novos membros do Conselho da Revolução


Na mesma altura, perante as eleições que se aproximavam, permitiam uma capa exemplar do espectro político da época. A Vida Mundial, entrevistava Vasco de Melo ( tinha entretanto perdido um L no nome e parece que não o reclamava...), espoliado, mas resistente e adaptado. A revista escrevia mesmo que era um representante "daqueles industriais que estão de acordo com o 25 de Abril", enquanto dirigente da CIP. Pudera!























Na sequência da nacionalização da Banca portuguesa ( e seguros e outras indústrias), a Flama, publicava um artigo sobre essa mesma banca e a sua génese e desenvolvimento até ao 25 de Abril. Nesse número de 18 de Abril de 75, o sumário continha uma reportagem com Jean-Paul Sartre, no nosso país e a conferência em que afirmou que "a revolução ainda não foi feita", perante umas dúzias de basbaques que beberam aquelas palavras como se viessem do Messias. Não se esqueceu de lembrar e avisar, então que " As relações económicas da sociedade portuguesa continuam a ser determinadas pelo capitalismo"
No mesmo número, a atenção era dada ao Brigadeiro Vasco Gonçalves e às suas declarações extraordinárias: "não podemos perder por via eleitoral aquilo que tanto tem custado a ganhar ao Povo Português. Esse, de resto, é o pensamento dos partidos esclarecidos e progressistas" Ninguém se impressionou com estas declarações eminentemente democráticas...





















Nessa mesma altura, Portugal estava de corda na garganta, em termos financeiros. A imagem que surge, em baixo, tirada da mesma Vida Mundial, com dois figurões bem conhecidos,( clicar para ampliar a imagem) representa um dos períodos mais negros da nossa existência enquanto povo e nação centenária. Exemplar da degradação, mesmo moral...
Os problemas do BCP são tributários, integralmente, do que se passou entretanto e que tem a sua génese neste apanhado sumário. Verifique quem puder.


Publicado por josé 21:54:00  

1 Comment:

  1. lusitânea said...
    Cheira-me que isto é do tipo dos administradores de empresas falidas.Enquanto houver capital para pagar ao administrador...
    Do Francisco Sardo sai este link:

    http://historiaeciencia.weblog.com.pt/arquivo/047594.html

Post a Comment