Os pathos do milieu

O artigo de Saldanha Sanches, no Expresso, publicado agora no blog Sorumbático, acompanhado da prestação, no mesmo sentido, e na SIC-Notícias, ontem no Jornal apresentado por Mário Crespo, suscita várias questões e um remate final, pouco lisongeiro, mas necessário. No mesmo sentido, aliás, já se tinha pronunciado Pacheco Pereira, escrevendo sobre o “milieu”, no Porto.

S.Sanches, na sua prosa semioticamente encriptada, diz, em suma, que a proliferação da criminalidade de tipo mafioso, carece de um terreno fértil para se desenvolver e precisa de apoios sustentados em três pilares: o político, o policial e o judicial. Entende Saldanha Sanches que no Porto, já existem esses três pilares da sabedoria mafiosa, o que levanta sérias preocupações de cariz sociológico, se assim suceder.

Os gangs da Ribeira e do Porto em geral, têm apoio político por procuração, encapotado em grupúsculo ou facção? É isso que pretende dizer, Saldanha Sanches?

Não me parece nada, pelo que nos é dado ver, através das notícias diárias e correntes, acerca dos meios onde viceja esta criminalidade de discoteca, ginásio e bar nocturno.

Na Sicília, a mafia de Michelle Greco, Riina e Provenzano, contava com o apoio político encapotado da Democracia Cristã, por um singelo e prosaico motivo: votos, nas eleições. Foi assim que a DC se aguentou no poder durante 40 anos.

No Porto, há algum movimento, partido ou facção política que precise destes assassinos? Não parece nada evidente. Haverá algum indício seguro de tal ocorrer? Também não estou a ver. Logo, poderemos escrever que falha, esse primeiro pilar.

O segundo, na vertente policial, já apresenta alguma verosimilhança, se acreditarmos em notícias que mostram a actividade de agentes das forças policiais, mormente da PSP metropolitana, em actividade de segurança e em convívio ameno e caloroso, na noite das folgas. A explicação? Perguntem a um certo “guarda Abel”, já reformado certamente, porque o hábito neste caso pode fazer o monge e já vem de longe.

Para mais, escreve-se recentemente que pode haver cumplicidades mafiosas de tipo silencioso, entre os próprios agentes da Judiciária local., do Porto, o que constitui um grave labéu numa polícia que se pretende profissional e isenta de lama mafiosa. O indício mais forte? A evidência de constantes violações de segredo de justiça, com fugas para os jornais, legalmente inadmissíveis, sempre impunes e sendo a mais expressiva e grave a que levou à ajuda de um suspeito no Apito Dourado: Pinto da Costa, himself. Neste caso concreto, a informação antecipada, teria mesmo partido de altos quadros de autoridades policiais, o que só agrava e concede crédito e plausibilidade, à hipótese avançada por Saldanha Sanches.

Neste aspecto, as suspeitas publicamente referidas, são um acrescento importante ao fenómeno que é preciso analisar: a eventual corrupção policial. Que parece existir, será bem real e de combate evidentemente prioritário.

Agora, a parte mais delicada e de contorno mais difícil de definir: o pilar judicial. Na Sicília dos anos oitenta, havia magistrados impolutos e outros mais flexíveis ao senso comum da terra: a mafia não existia então publicamente. Como entidade hierarquizada, com chefes e executantes, como se veio a saber mais tarde, através de revelações concretas de arrependidos, era denegada a sua existência por sumidades sociológicas.

Saldanha Sanches refere o italiano “mata-sentenças”. É preciso explicar quem era este recatado juiz ( desembargador), chamado Corrado Carnevale: um exímio lidador do processo penal e um virtuoso da escrita do Direito aplicado e que se dedicava até aos anos noventa a desconstruir pedra por pedra o edifício acusativo erigido pela polícia e ministério público, contra os mafiosos.

Foram tantas e tão graves as anulações de prova e julgamento que as suspeitas avolumaram-se, tomaram corpo e os processos de inquérito surgiram, embora tenham dado em nada, porque, lá como cá, investigar um juiz, principalmente em matérias de foro restrito como é o jurisdicional, é tarefa impossível. Carnevale saiu sempre por cima e impune de todas as acusações de ligações afectivas à mafia. Tal como Giulio Andreotti, il divino belzebbu. Eppure…

No Porto, o problema que se coloca, aos magistrados que investigam e lidam com estas situações que envolvem actividades tipicamente mafiosas, ligadas a “racket”, a extorsão, ao pizzo, é a destrinça entre os praticantes da modalidade em regime de free-lancer e aqueles organizados em grupo.

Parece já não existir qualquer dúvida que há grupos, no Porto, de dia e de noite, que vivem desta actividade a que eventualmente associam outras de cariz menos aceitável socialmente: tráfico de droga e de mulheres para a prostituição do alterne, tanto nas tascas rascas como nas de luxo e em modalidade de chamada.

Estes grupos, numa cidade pequena, fatalmente, ligam-se a modalidades de acção estrepitosa: o futebol profissional e a prática de desporto individual para cultura física, são as mais espectaculares e apetecidas. No futebol, será inevitável que se liguem a quem tem valor intrínseco e profissional. No caso, o FCP e outros também. A adrenalina socialmente repartida em manifestações de grupo, alcança a sua maior pujança, nos gritos de adeptos enquadrados por bandeiras e slogans, em ondulações vitoriosas contra o adversário do sul ou de outro lado qualquer.

A vibração colectiva, atinge o paroxismo, quando ao grupo se juntam groupies, e mais ainda quando a principal delas, é a parceira do presidente do clube. É o apogeu da simbiose que se operou entre as claques e os grupos organizados nos bairros, aderentes naturais do clubismo regional. Foi aqui, nesta junção que se verificou o fenómeno incontornável que hoje se depara com contornos de mafiosidade. A destrinça entre o legalmente admissível e o intolerável comportamento criminoso, desvaneceu-se.

A imagem televisiva e em directo, dos líderes dos grupos suspeitos de práticas mafiosas, em ostentação de força privada, enfrentando directamente a força pública do Estado, a protegerem o dirigente do clube mais afamado e querido da cidade, declinou para sempre a respeitabilidade que este alguma vez poderia ter alcançado, neste contexto. Definitivamente, Pinto da Costa, é suspeito de conluio táctico com estas claques, no mínimo, ao aceitar a sua protecção perante o Estado.

O advento da prática importada das claques de futebol, um problema europeu e mais especificamente inglês, nos anos oitenta, criou nas maiores cidades portuguesas, uma praga de adeptos fanáticos com nomes guerreiros e míticos, voltados para as palavras de ordem e comportamento de grupo devidamente execrado pelos bem-pensantes cronistas e afins, que não suportam a atitude grunhística que aqueles garbosamente ostentam, em campo e fora dele.

A sofreguidão das vitórias, acompanhada pelo efectivo sucesso desportivo acelerado e acirrado pelos dirigentes, com destaque para o líder natural de há vinte anos a esta parte,- Pinto da Costa e seus acólitos de clube, - trouxe, com uma primeira vitória na Liga dos maiores da Europa, o retorno ao belíssimo slogan, até os comemos, carago!”

É esse o espírito prevalecente. Se for preciso, para o sucesso das vitórias a qualquer preço, até se come a honra seja de quem for, mormente a dos árbitros. O dinheiro passou a ser muito, nas offshores dos intermediários e agentes desportivos, chegados ao topo em meia dúzia de anos, vindos do nada financeiro.

Daqui nasceu o famigerado Apito Dourado, depois de denúncias constantes dos perdedores e sofredores de sempre. A investigação, reduziu-se ao fenómeno desportivamente visível, com escutas que revelaram o invisível: a associação à embriaguês desportiva de muitos adeptos, incluindo profissionais da cidade, em diversas, áreas, incluindo naturalmente a judicial, policial, empresarial e política.

Nesta última vertente, foi admirável, notável e agora claramente positivo, o afastamento da Câmara Municipal do Porto, dos clube de futebol local, operada pelo actual autarca, Rui Rio. Como agora se comprova, amplamente.

No entanto, noutro nível mais subtil e permeável a naturais permutas de cargos, lugares de responsabilidade e amabilidades, gerou-se uma promiscuidade entre os clubes locais, os dirigentes regionais nomeados por influência da estrutura entretanto criada e até os nacionais, todos ligados ao futebol, como modalidade competitiva na Liga dos Campeões, Uefa e Liga Nacional.

Há alguns lugares disponíveis para ocupar em cargos directivos de comissões de arbitragens, estruturas administrativas das ligas dos clubes e das associações regionais e nacionais. Cargos electivos ou de nomeação livre e de influência pessoal e que trazem benefícios indirectos a ligações directas.

O recrutamento destes dirigentes e agentes, fez-se nos meios habituais: os aficionados pelo desporto-rei, de bancada ou balneário. Entre estes, alguém se lembrou de recrutar colaboradores nas camadas sociais de prestígio e entre estas, fatalmente, aparecem os magistrados, juízes e do ministério público. Sinal de ancestralidade nebulosa e penacho em riste.

Alguns, há anos que ocupam, em part-time e sem remuneração em espécie, as cadeiras das associações que lhes permitem viajar muitas vezes, para os mais diversos lugares da Europa e do mundo, sempre que o futebol se apresenta em campo. Há alguns maduros nesses cargos que se dignam já escolher aonde ir e quando ir.

Esta promiscuidade entre profissões que deveriam aparentar algum recato estanque, passou à situação de normalidade com uma simples pergunta retórica: “ que mal tem?”.

Nenhum, de facto. Nenhum. Só agora, porém, é que se começa a ver a inconveniência que já era evidente para quem colocava reservas e que nunca foi escolho para quem era escolhido.

É este o pathos do milieu de que fala Pacheco Pereira, e que Saldanha Sanches, indubitavelmente secunda e glosa. Um meio em que se misturam conhecimentos, amizades, afinidades e inevitáveis reticências práticas, na hora de cortar a Direito. Um meio que participa numa actividade com excrescências criminosas, socialmente insuportáveis, ainda que desligadas do lado sério do negócio. Um meio de misturas perigosas e sem fronteiras visíveis em certas alturas, como foi a dos acontecimentos que levaram à detenção de alguns dirigentes desportivos do Porto, no momento mais quente do Apito Dourado.

Nessa altura e agora, derivada de um senso comum genericamente aceite, deveria ter sobrelevado, o velho aforismo, esquecido, de que à mulher de César não basta ser séria.

É este, por isso, o problema do terceiro pilar apontado por Saldanha Sanches: desligar-se rapida e totalmente de todas as actividades paralelas à função principal de magistrado. Futebol, sim, mas na bancada e a pagar bilhete, como todos os outros.

Por outro lado, a figura de Saldanha Sanches a escrever e perorar sobre este tema moralizante, é mesmo uma fraca figura. Toda a gente se lembra de ainda há muito pouco tempo, terem aparecido revelações de uma promiscuidade mais insidiosa e até mais perigosa socialmente do que a do milieu do Porto. Falo, evidentemente, do papel activo que Saldanha Sanches assumiu, quando o processo Casa Pia desabou sobre o PS de Ferro Rodrigues. Isso, que agora se soube, deveria tê-lo calado por uns tempos. Longos. Mas estas coisas, são mesmo assim: olha para o que eu digo; não repares no que eu faço. Em termos de promiscuidades, claro está.

Publicado por josé 21:51:00  

21 Comments:

  1. António Balbino Caldeira said...
    Leio, agora o texto do prof. Saldanha Sanches, por via da sua glosa, meu Amigo, no blogue Sorumbático que muito aprecio. Tenho a leitura deste Expresso atrasada - habituamo-nos ao gratuito e, por vezes, perde-se informação de relevo, como penso que o semanário de Lisboa, traz desta vez.

    Depois da leitura, fico com outra impressão. Ceteris paribus - para pior, muito pior! -, creio que o prof. Saldanha Sanches se refere à pedofilia de Estado. E que este é um grito de alma - sim, um político (fora ou dentro, mas político) também tem de ter alma, mesmo com os amigos que tem!... - contra os abusos sexuais sobre crianças e adolescentes do caso Casa Pia II. E mesmo que os depoimentos deles - dos que forem ouvidos... - não sejam "consistentes" porque se percebem mal - custa muito perceber o relato oral dos factos das crianças e jovens surdos-mudos.
    zazie said...
    Excelente, José.
    Jose Silva said...
    Disse o mesmo com muito menos palavras no Norteamos.

    PS: Não esquecer que Rio se afastou do PdC mas manteve ligações chegadas com Valentim. O objectivo foi mesmo alegrar lisboetas...
    Laoconte said...
    Excelente análise. E gostei muito da observação final sobre o papel do Sr. S.S. no processo Casa Pia.
    Luís Negroni said...
    Grande postal. O "Barbas", ou um outro qualquer cromo fanático lampião, não teriam escrito melhor. Lá bem no fundo, isto é tudo culpa do Pinto da Costa, isto e o terrorismo internacional, para já não falar dos empresários da noite lisboeta que são mortos à bomba e dos respectivos seguranças que são abatidos a tiro à porta dos "Aviões". De fazer morrer a rir o mais sisudo. O autor está de parabéns, apesar do mérito da prosa se ficar a dever quase em absoluto a grande frustração clubística longamente suportada.
    josé said...
    luís:

    O FCP e o Pinto da Costa, nisto, apenas fazem parte do ethos.

    O pathos é mais vasto, como se pode ler hoje nos jornais, a propósito das declarações ontem prestadas em julgamento pela testemunha Carolina Salgado que deve saber sobre isto, um pouco mais do que nós que apenas vemos, ouvimos e lemos.

    Nós ( todos os que gostam de futebol bem jogado incluindo o do FC Porto)é que somos os pathos do meio.
    V. é que não se dá conta disso, porque vive obnubilado pelo sítio onde vive.
    Carlos Medina Ribeiro said...
    Este comentário foi removido pelo autor.
    Carlos Medina Ribeiro said...
    O link directo para a referida crónica de Saldanha Sanches é [este].
    Carlos Medina Ribeiro said...
    NOTA: clicando no "hyperlink" que atrás indico (e, pelo menos, no meu computador), o texto não (me) está a aparecer correctamente.

    Para o caso de isso suceder com outros, aqui fica ele, "por extenso":

    http://sorumbatico.blogspot.com/2007/12/mfia-o-clima-apropriado.html
    Meme said...
    O país para umas coisas é pequeno e nem sequer faz sentido regionalizá-lo, no entanto, no que a fenómenos mafiosos diz respeito não há nada como regionalizá-los e associá-los a um determinado segmento social e local da doente sociedade Portuguesa! Objectivo!? Enfocar a atenção do (zé povinho) que até é emocional e gosta de futebol e vai daí caçar e dar-lhes uma cabeça de prémio (qual Jorge Nuno João Baptista) para acalmar a urbe, isto não é novo... é cultural! Entretanto esqueçem-se todas as cumplicidades...
    Por cima da bandeja rola a cabeça de Pinto da Costa por baixo da bandeja a título de exemplo: Casa Pia, Submarinos, Herdades, falencia financeira da Capital do País, Estado (CGD-Armando Vara) vota contra a OPA do grupo Sonae mas ao mesmo tempo privatiza a GALP dentro do gabinete do ministro da economia, etc... etc... tudo debaixo dos nossos olhos inebriados pelo êxtase da cabeça do dito.
    Os crimes no Porto são gravíssimos, mas pelo que se começa a perceber, dezenas de jovens "abandonados" (não é desculpa, mas contribui para a raíz do problema) pela sociedade e organizados em gangs até ouvem hip-hop de fraca qualidade aculturados pela MTV, face ao vazio das suas vidas e face ao vazio de oportunidades que a sociedade lhes endereça, até começam a ganhar uns cobres à base do músculo e de serem beras, vão ver jogos do FCP (efeito da multidão e da claque) que by the way ainda é única entidade (identidade) que lhes dará alegrias e perspectivas do sucesso... o território é pequeno e depois eu tenho de ser mais bera do que tu... até podem despachar uns kilitos de droga com margens interessantíssimas têm dinheiro para adquirir armas... até que um dia descamba numa morte... de um dos amigos, então temos de vingá-lo e por aí fora...
    Não vão os políticos à raiz do problema, demitam-se uma vez mais das suas responsabilidades (continuem a fechar negócios dentro de gabinetes) e daqui por 10 anos têm novamente o problema! A máfia como qualquer outro tipo de criminalidade previne-se! Alguêm sabe da taxa de desemprego no distrito do Porto e qual o seu impacto nas camadas jovens da sociedade, qual a taxa de abandono e insucesso escolar no Porto e já agora do País?
    Carlos Medina Ribeiro said...
    Na medida em que os estados nasceram da necessidade dos povos se proverem de SEGURANÇA e de JUSTIÇA, poucas coisas há tão reveladoras do seu estado de evolução (ou de atraso) como a postura perante essas duas realidades.

    Toda a gente ouve dizer que os criminosos devem ser presos - e há quem advogue, até, a pena de morte - mas...
    «... desde que não se trate de gente do meu partido, do meu clube ou da minha terra».
    .
    cadeiradopoder said...
    Os crimes de seguranças no Porto servem para colocar magistrados ao barulho? Baseado em quê? No Saldanha Sanches?
    António Conceição said...
    Artigo claro, lúcido, pertinente e inteligente.
    Numa coisa só discordo dele. No Porto (eu sei do que falo, vivo no Porto) ninguém - absolutamente ninguém diz "carago". Muito menos, "até os comemos, carago". O que toda a gente diz é "caralho" e o que a escumalha referida no artigo grita é: "até os comemos, caralho!"
    Não vale a pena sermos pudicos em matérias com esta sseriedade, abordadas com esta inquestionável inteligência.
    Zé Luís said...
    a figura de Saldanha Sanches a escrever e perorar sobre este tema moralizante, é mesmo uma fraca figura. Toda a gente se lembra de ainda há muito pouco tempo, terem aparecido revelações de uma promiscuidade mais insidiosa e até mais perigosa socialmente do que a do milieu do Porto. Falo, evidentemente, do papel activo que Saldanha Sanches assumiu, quando o processo Casa Pia desabou sobre o PS de Ferro Rodrigues. Isso, que agora se soube, deveria tê-lo calado por uns tempos. Longos. Mas estas coisas, são mesmo assim: olha para o que eu digo; não repares no que eu faço. Em termos de promiscuidades, claro está.

    Bem, assim de repente, além da Casa Pia, lembro-me das trafulhices com a urbanização da Luz que o SS deve conhecer; o caso das acções inválidas do Benfica dadas à Manuela Ferreira Leite que lesaram o Estado, a corrupção em Lisboa a que a sua (de SS) excelsa esposa um dia há-de pôr cobro e, the last but not the least, o gajo que foi pelos ares do Avião que a diligente polícia e inteligentsia lisbonense irá desvendar sem dúvida alguma.
    Afinal, José, se queria competir com SS e PP com a quilométrica argumentação tiro a conclusão que com papas e bolos se enganam quaisquer tolos.
    Porque, como você acha, cada um acredita no que quiser, obnubilado ou jubilado intelectual.
    Não o gabo, desta vez, porque mistura muita coisa que não me parece...
    Meme said...
    «... desde que não se trate de gente do meu partido, do meu clube ou da minha terra»...
    A questão é mesmo essa caro Carlos Ribeiro, estamos a falar de gente, correcto!
    O ponto é que há muita gente neste país sobre a qual devíamos falar e analisar as suas relações mas no entanto não vejo a mesma capacidade, vontade e apetência da Noosfera Portuguesa para fazer estas análises superficiais, entroncadas, causa-efeito, etc... como se faz relativamente à cidade do Porto, ao FCP e particularmente ao seu Presidente, pq será?
    Porque será que a cidade do Porto elegeu 2x Rui Rio?
    Pq será que a inteligência de Lisboa se surpreendeu e elogiou esse facto?
    Porque será que Oeiras elegeu Isaltino Morais (entretanto formalmente acusado)?
    Qual seria o tratamento da nossa Noosfera se o Presidente da CM Porto tivesse sido formalmente acusado? Reparou alguma coisa qd saiu a notícia relativa a I Morais?
    Aqui d`el rei!!
    Porque será que o processo de investigação Apito Dourado apesar dos fortes indícios de transversabilidade das prácticas a nível Nacional, teve apenas carácter regional?
    A existir Justiça que seja para toda a gente e não só para alguns! Eu sei que todos os recursos são escassos e há que definir prioridades... (remeto para o meu post anterior)
    A existir critica e atenção da Noosfera que seja para todos e não apenas nos já queimados? (julgados!) na e pela praça da opinião e media Portuguesa (Noosfera Lusitana 95% Lisboeta).
    Agora pq o miúdo (gente) escoltou o (julgado!) PdC ao tribunal... vai daí temos um polvo, santa paciência!!
    O caso Apito Dourado (que espero que vá até às últimas consequências!!) foi ressuscitado por uma arrependida (financiada pelos potenciais beneficiários de uma ou várias possíveis sentenças, é publico e não foi desmentido) agora imagine se houvesse 1 arrependido no processo Casa Pia, ou 1 administrador da EPUL arrependido, ou 1 ex-secretário de estado da defesa, ambiente, arrependido, até qq vereador (excepto da actualmente imputável
    CM Porto) de um munícipio deste país...
    Havia de ser bonito!!
    Sou naturalmente contra a pena de morte mas tb sou contra a selecção (pouco) natural e repetitiva dos patinhos feios deste país, em que a inteligência preguiçosa deste país se entretem a bater analisando superficialmente os problemas e sem desmascarar as causas raíz dos efeitos e que estamos (todos) surpreendidos a assistir.


    Saudações republicanas.
    Carlos Medina Ribeiro said...
    Já agora, e para facilitar a discussão do texto referido neste "post", aqui fica ele, na íntegra:

    -
    Máfia: o Clima Apropriado

    Por J. L. Saldanha Sanches

    AS APARÊNCIAS ILUDEM: as máfias a trovejarem violência e morte são plantas muito delicadas; só conseguem crescer em certos climas. Depois de crescerem ganham raízes e tornam-se mais fortes. Mas serão sempre plantas de estufa que não suportam o frio ou os ventos fortes.

    A primeira condição para que possam vicejar é a protecção de alguém que tenha influência política. Não se pode esperar que os homens da violência se relacionem directamente com o político B e lhe arranjem votos. Precisam de um protector que apareça sempre rodeado de políticos no activo e na reserva com uma imagem de invulnerabilidade.

    O objectivo é criar um sub-sistema político que funcione com autonomia e que constitua a versão moderna do coito medieval: um espaço onde se não pode entrar sem a homenagem devida ao senhor da terra.

    A segunda condição é a da penetração no sistema judicial e policial uma operação para a qual é essencial a criação de espaços sociais de convivência geridos pelo protector.

    Os magistrados são pessoas normais a quem a ordem jurídica proporciona o distanciamento dos conflitos que são a condição institucional da sua independência.
    Para quebrar esse isolamento pretendido pelo sistema são necessários espaços de convivência onde as relações se possam travar e dos pequenos favores se possa passar para os grandes compromissos. O objectivo é conseguir influenciar a decisão judicial. O sistema é vulnerável às denúncias e infiltrações e é necessário que a influência no sistema judicial funcione como uma segunda linha de protecção.
    O célebre conselheiro “Mata-Sentenças” da Itália de Giovani Falcone ficou famoso por isso.
    A primeira linha de protecção, contudo, tem de ser a polícia: nenhum sistema mafioso se consegue enraizar e prosperar sem conseguir que a polícia olhe para o lado.

    Algumas das actividades mais rendosas têm que ser feitas à luz do dia (ou à luz da noite) e uma polícia agressiva é um empecilho permanente para o bom andamento dos negócios. Para o sistema de tráficos e extorsões ser próspero, um acordo (com partilha de receitas) é essencial.
    A outra condição é que justiça privada do bando seja feita sem demora, nem tibiezas: se alguém desrespeita os seus compromissos a resposta não pode ser uma acção judicial com pedido de indemnização. O medo é essencial, a «omertá» a base de todo o sistema, e depois das acções da intimidação e das propostas que não se podem recusar a consequência do incumprimento tem que ser a pena de morte.
    Aqui entram novamente em cena a polícia e os magistrados: as testemunhas e os arrependidos têm que saber que não vão ser protegidos e por isso só lhe resta calar a boca mesmo que queiram falar.

    Em condições ideais, o sistema a quem deveria ser confiada a punição dos criminosos mostra-se impotente e desorientado, transmitindo a mensagem de que não vale a pena contar com ele e que mais vale negociar, pagar a protecção e calar a boca.

    Se isto for conseguido, o bando é invulnerável e o medo prevalece.
    O poder do Estado torna-se ficção e o poder das máfias torna-se indestrutível.
    -
    «Expresso» de 15 de Dezembro de 2007
    Jose Silva said...
    Parabens MEME.

    Convidado para o Norteamos!

    Contacte-me via norteamos@gmail.com
    Carlos Medina Ribeiro said...
    A crónica de JLSS só pode criar celeuma entre os que "enfiam a carapuça".

    Mas leia-se o texto como um trabalho teórico acerca das máfias em geral: o autor nem sequer diz nada de novo, limita-se a referir como (e porquê) as máfias nascem, se implantam e crescem impunemente eem qualquer parte do mundo onde as condições sejam propícias.

    Nessa perspectiva, e lido o texto com atenção, alguém é capaz de, nele, indicar algum erro?
    Meme said...
    Para além do eventual erro (que é humano) alerto e chamo a atenção para as omissões!
    Para além do clima, falta desenvolver e não se pode omitir a questão do Terreno propício para a "planta" germinar e criar raízes. Não está de acordo?
    Os frutos que estamos e vamos colhendo, resultam em grande parte da omissão e incapacidade da sociedade de minimizar os riscos, de os prevenir. A Noosfera para além de racionalizar, alertar e descrever o clima propício e necessário para a eficiente "apanha do fruto" deve racionalizar e analisar se o terreno é propício e vulnerável à CULTURA de determinadas sementes malignas. Por muito que chova ou faça sol (clima) a semente não germinará se o terreno não for propício!
    Ora o nosso terreno (País) é arado mal ou bem há décadas a esta parte numa 1ª fase por uma "elite provinciana" (Estado Novo) abençoada por Roma e pela sua igreja e mais recentemente por uma Partidocracia amontoada em Lx. Uma Partidocracia com clientes (internos e externos), tentacular, irresponsável, amadora, imputável (depois do 25 de Abril as eleições já são com um intervalo máximo de 5 anos, vá lá, ainda assim, não sei quem é o meu representante no actual sistema), cumplice entre si e omissa.
    Adubada e em certa medida não digo abençoada mas confirmada pela inteligência e opinião publicada do regime (hoje por hoje começam a haver algumas excepções, tb pudera...)
    Ironia das ironias ( e como amostra) o município sede, da cabeça deste regime, curiosamente gerido ao longo dos últimos anos por todos os partidos do sistema Partidocrático da República Portuguesa (faltava o BE mas agora tb faz parte do executivo ou assinou um acordo), faliu! Os executivos incluindo o Presidente, são constituídos arguidos... O Rei vai nu!
    OK! No problem, dissolvemos o executivo vamos a eleições. Qual a % de abstenção, ups... who fuc**** cares!?
    Pelo menos aos poucos Lisboetas que foram votar ainda surgiram alternativas de voto no (practicamente imutável boletim de voto da Democracia(???) Portuguesa) em 2 dissidentes(?) do sistema... há já por aí alguns aparelhos partidários a sugerir a impossibilidade de eventuais dissidentes de se candidatarem por um período de 5 anos... estes dissidentes não estavam previstos no sistema, há falta de um gulag...
    Entretanto o candidato do Partido no poder executivo e animal político-partidário que é, fazendo uma leitura das razões de destituição da câmara, num passe de mágica, convida para responsável pelas contas da campanha eleitoral, uma personagem que goza no pobre espaço mediático e até na Noosfera Tuga de uma imagem inatacável... quem? SS!
    À mulher de César não lhe basta parecer ser séria!! Ou melhor, ao marido da magistrada Morgado não lhe basta parecer ser sério!! ;)
    SS é pelo menos à 1ª vista, um dos principais acérrimos criticos do sistema Partidocrático vigente e das suas ligações perigosas, mas ao 1º convite... alinha-se! Curioso...
    Lá na minha terra diz-se:
    " A culpa não é do porco é de quem lhe dá a bolota!"
    SS nas últimas eleições intercalares e municipais de Lx, deu bolota ao Sistema Partidocrático, é portanto, política e publicamente cúmplice da sua "engorda".

    Para além de evitar a "apanha do fruto" e a monitorização do clima, gostava mesmo era que a Noosfera do meu país tivesse vontade de desenraízar as plantas malignas (se calhar não é a arvore é mesmo a floresta e devemos estar preparados para tal)e cuida-se efectivamente do terreno, pq caros amigos, sementes malignas sempre houve e sempre haverá... não sejamos naifes como o outro...
    Se não for a tempo da minha geração que seja pela geração das minhas filhas!
    A liberdade (onde está naturalmente incluída a segurança e a justiça) exponencia-se pela responsabilidade.
    Eu procurarei estar à altura das minhas responsabilidades, por forma, a ser o mais livre possível.
    O actual regime Partidocrático é o bottleneck da sociedade Portuguesa, tudo centraliza, tudo controla (logo corrompe-se), tudo nomeia (logo corrompe-se), tudo ratifica...
    Dar liberdade e chamar os cidadãos a decidir, responsabiliza-os pelo melhor ou pior futuro comum que queiramos construir.
    Peço desculpa pela extensão do post, mas estava atravessado no "gargalo". ;)
    Vou contibuir para o PIB!!!!
    Zé Luís said...
    Para algumas mentes desfocalizadas, aqui vai de hoje o José Adelino Maltês que é lisboeta e vê Portugal de outra maneira, já agora:
    "Porque o Tejo é o rio que passa na minha aldeia e continuamos o Portugal de sempre, um país castífero e capitaleiro, onde os provincianos da capital acusam os restantes de mais provincianos, neste jogo de castas, onde continuamos o tradicional ciclo de um estadão que nos quer revolucionar ou reformar, mas, onde, passada a euforia do gigante de pés de barro, fica a pós-revolução das viradeiras, onde o Portugal Velho resiste de forma neocorporativa e neofeudal ao sonho do Portugal Novo.
    De vez em quando há um Marquês de Pombal, uns vintistas, uns republicanos do 5 de Outubro, uns revolucionários do PREC, mas, logo a seguir, seguem-se as festas de família, dos "gentleman's agreement", do "porreiro, pá", onde continua a ilusão do condicionamento industrial e do proteccionismo. Daí a escolha da crise do BCP e do anti-herói Berardo. Para não contar a história do velho, do rapaz e do burro.
    O BCP, no modelo Jardim Gonçalves, é a ordem da sacristia, dos sucessores com aquele ar de meninos bem comportados, de bons alunos, antigos governantes de Cavaco, com ar de sócios do Sporting Clube de Portugal. Berardo é o irmão-inimigo que gosta de estragar a festa no adro da Igreja, só porque não foi convidado para o recato da sacristia. E no ano de 2007, assumindo a postura de Zé do telhado e de banqueiro anarquista, tanto atacou o modelo CCB dos intelectuais à Mega Ferreira, como foi saudado pelos trabalhadores da CGTP na assembleia-geral da PT, antes de querer comprar o Sport Lisboa e Benfica e de apresentar uma denúncia contra os donos do poder do BCP na Procuradoria-Geral da República.
    Assim continuamos, entre a direita e a esquerda, entre o Sporting e o Benfica, com muito Fado, Futebol e alguma Fátima. E assim chegamos a Lisboa, onde Lisboa é Portugal e o resto da província é paisagem. E de Lisboa nos vêm os banqueiros, os magistrados, os ministros, os partidos, a revolução, as reformas e a própria proibição dos referendos, porque é preciso pôr a Europa a funcionar e o povo nos carris. Mesmo quando vivemos um ano de madeirenses, entre Alberto João e Berardo, entre Ronaldo e Jardim Gonçalves. Julgo que este gigante com pés de barro apenas precisa da funda de um qualquer David que venha continuar a dizer que o rei vai nu".
    Chega?
    josé said...
    Não. Percebi há muito tempo que José Adelino Maltez tem medo e não diz nomes. Anda à roda, como Saldanha Sanches anda. Eufemiza, tergiversa, mas não vai ao ponto nevrálgico, onde todos os pontos convergem.

    Tem medo,na minha análise. É pena, mas compreendo.

Post a Comment