A desconectada

A actual ministra da Educação, cujo currículo relevante passa pelo ISCTE, um curioso viveiro de governantes, deu ontem entrevista à RTP.
Naquela pose de altivez ministerial, coada pela linguagem sociologicamente encriptada, de matriz iscteriana, a ministra falou por duas ou três vezes, de desconexão. "Estar desconectada" ou "conectada", foram tempos verbais, passivos, usados em modo esquisito pela ministra, referindo-se a realidades que a mesma aparentemente domina, através de relatórios estatísticos.
Sobre o ensino, verdadeiro, real, e dos seus problemas concretos que se verificam ao longo dos anos, conta a estatística como método de análise sociológica. Por isso mesmo, passo à transcrição de um texto do blog do Jumento, onde desta vez se aprende o que já alguns sabem:

O actual modelo de acesso às universidades favorece os que beneficiam de melhor qualidade de ensino e de acesso a informação, ao contrário do que sucedia no passado quando ricos e pobres dispunham dos mesmos manuais e das mesmas escolas. Agora a qualidade do ensino a que um aluno acede e os recursos pedagógicos de que beneficiam depende da sua condição económica. Há escolas para todos, mas mais do que no passado há escolas para ricos e para pobres.
Para além de estarem em vantagem no plano social os mais ricos conseguem hoje uma vantagem adicional proporcionada por um sistema de ensino profundamente dualista, onde para uns se procura a excelência e para muitos outros apenas se ambiciona que concluam a escolaridade obrigatória. Os mais pobres andam em escolas onde o objectivo é não chumbar, os mais ricos andam em escolas onde o objectivo é obter melhores classificações. Os mais pobres, quando podem, pagam explicações para não chumbarem, os mais ricos pagam explicações para terem notas ainda mais altas.
O actual modelo de ensino público está a aprofundar as desigualdades, consolidando-as. Os resultados são evidentes, os licenciados em gestão nos cursos para pobres vão para balconistas da banca enquanto os licenciados nas universidades para riscos dão acesso aos MBA, ao doutoramento e a cargos de gestão. Na medicina esta divisão nem sequer existe, os mais pobres foram banidos das universidades.
Não basta assegurar a igualdade no acesso ao ensino importa também que esse ensino proporcione igualdade.

Publicado por josé 11:30:00  

6 Comments:

  1. Guilherme said...
    Pergunto-me para que serve (também) um comentário destes!
    josé said...
    Pelo menos serviu para um comentário desses. Prefira doutros, porém. Cada um dá aquilo que tem e a mais não é obrigado.
    herbário said...
    Bem, eu sou prof. há mais de 22 anos, no ensino público de província...

    Não concordo consigo José. Até aprecio a actuação desta ministra, excepto na destruição da minha carreira, mas isso não interessa agora...

    O que é dito de "os ricos terem vantagem adicional" sobre os pobres, é para mim, uma falácia. O que verdadeiramente conta são os neurónios dos alunos,a sua capacidade intelectual, sejam ricos, pobres, da serra ou da cidade. Os meus alunos "mais brilhantes de sempre" não foram seguramente os meus alunos "mais ricos", antes pelo contrário...
    Nos dias de hoje, um aluno pobre tem na escola boas condições para chegar a qualquer curso universitário público.

    Este assunto é pantanoso...

    mcs
    Carlos Medina Ribeiro said...
    Acerca do descalabro da educação em Portugal, Nuno Crato publicou, no «Expresso» de sábado passado, uma crónica arrasadora, a não perder.
    Intitula-se «O "EDUQUÊS" ENVERGONHADO», e pode ser lida no blogue onde escreve - [aqui]
    hotboot said...
    quotas para a entrada na UNI por rendimento familiar já!
    Luísa Novo said...
    Sobre este assunto, hoje no CM. Claro que há excepções, mas o meio familiar influência, e em muito, os alunos. http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=264232&idselect=228&idCanal=228&p=200

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