Sophia, 1967


«Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova

E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
De um tempo justo»

«Esta Gente», Sophia de Mello Breyner Andresen, in «Geografia», 1967

Publicado por André 02:03:00  

1 Comment:

  1. MARIA said...
    Caro André, nem sei o que me encanta mais, se a beleza desta nossa gente, se a beleza das palavras com que Sofia as emoldurou ao peito e nos apresenta como obra viva fascinante e inexpugnável.
    Apenas sei que em face de tanta beleza é impossível passar aqui, por esta Loja, sem deixar registo do quanto vos aprecio.
    Um beijinho.
    Maria

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