Mais eufemismos

Esta história dos eufémicos que avançam sobre milheirais, para destruir simbolismos, tem o seu quê de romântico no imaginário da esquerda. Actualmente, a luta continua contra a globalização, com bandeira comum com o partido comunista. O Bloco de Esquerda, apoia, naturalmente. Ou não fosse o trotskismo aggiornato, um rebento da mesma árvore.
Em 1975, durante o nosso PREC, a luta era mais avançada e de punho erguido, contra a burguesia e a exploração capitalista.
Em Março desse ano, a revista Flama, dirigida por António dos Reis e Edite Soeiro e redigida por Carlos Cascais, António Amorim, Regina Louro e outros, dedicava uma boa parte dos seus números a lidar com os fenómenos do PREC que apoiava sem reservas editoriais. Um desses fenómenos, era o do activismo político de partidos e movimentos da extrema-esquerda revolucionária que nos anos oitenta, viria a desembocar directamente nas FP25, com o historial trágico que se conhece.
Em 7 Março de 1975, ainda antes das nacionalizações, a Flama dava conta do congresso da LUAR, ( Liga de União e Acção Revolucionária) um desses partidos que se propunham criar o poder popular, contra os partidos porque era "no seio dos trabalhadores que terá de forjar-se a unidade capaz de levar á revolução socialista".
Por isso mesmo, no congresso de Março de 1975, os dois únicos partidos que então enviaram mensagens aos congressistas da LUAR e que eram o PCP(m.l.) e a AOC, foram...vaiados. "O telegrama do primeiro foi pateado e assobiado; a leitura do segundo foi simplesmente recusada pela plateia", escreve a repórter da Flama, Regina Louro.
A LUAR era de tal modo uma força política implantada no seio do povo que nessa mesma semana, na Cova da Piedade, assaltou ( a Flama coloca aspas no verbo), um palacete privado, com dono conhecido, e transformou o imóvel de um momento para o outro, num Hospital do Povo. "É a isto que nós chamamos Revolução", disse então Palma Inácio, um dos mentores do assalto ao Banco de Portugal na Figueira da Foz, alguns anos antes, durante o salazarismo...para recolha de fundos para os revolucionários.

A violência da escrita contra a actuação dos eufémicos, pela actuação política, com recurso a delitos comuns ( ainda) sem grande gravidade objectiva, concentra-se em duas personagens políticas que viveram o PREC de modo distinto: o primeiro, José Pacheco Pereira, consta que terá sido no seio do povo e de um partido revolucionário.
Outro, Vasco Graça Moura, fez parte do IV Governo de Vasco Gonçalves ( embora sendo do PPD), como secretário de Estado da Segurança Social e que tomou posse no fim do mês de Março desse ano de 1975 durando até ao mês de Agosto desse Verão Quente.
É possível que estes acontecimentos, por motivos diferentes, despoletem memórias e acicatem a reacção destemperada desses cronistas e que provoca perplexidade a quem os lê.
Assim, para refresco da memória, aqui ficam imagens da época, dos percursores dos eufémicos, os antigos revolucionários e que queriam mesmo um poder popular, contra a burguesia e o capitalismo e que nessa altura enchiam completamente um Coliseu dos Recreios, de punho no ar e palavras de ordem revolucionárias. O revolucionário Camilo Mortágua, afirmava na altura que "se as condições o exigirem, se o contexto actual se modificar, estamos dispostos a repetir de novo a recuperação de fundos, para que sejam os capitalistas a financiar o esforço da revolução operária neste País.". Como é sabido, as condições mudaram e houve efectivamente o exercício dessa actividade de "recuperação de fundos". Os assaltos a bancos, efectuados pelas FP´s 25, anos depois, são a prova disso mesmo.
Resta saber, quem, hoje em dia, subscreve estas palavras. Porque há quem nada tenha esquecido e pouco tenha aprendido. Estão calados, mas não convencidos.


Publicado por josé 18:57:00  

3 Comments:

  1. MARIA said...
    As causas para revolucionar o mundo , melhorá-lo por forma a deixá-lo melhor aos nossos filhos, são sempre nobres.
    Mas nem todos os meios revolucionários operam verdadeira revolução...
    Às vezes chega a ocorrer o inverso.
    Curiosa a data do anúncio do Congresso do Luar - 7 de Março - penso que conheço alguém nascida num dia 7 de março ...
    Saudações
    Maria
    CCz said...
    Caro josé:

    JPP deve estar a cobiçar o seu arquivo.
    josé said...
    Não me parece. Mas acho que na altura, quem alinhava na ocmlp não comprava a Flama. Mas comprava o Grito do Povo. E esse, não tenho. A única coisa que tenho desse género, são os Sempre Fixe, a Manifesto, a Seara Nova, e o jornal do MES, o Esquerda Socialista. E ainda mais alguns dispersos.
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