A pose

O advogado Proença de Carvalho, um instalado do Estado a que chegamos e que toca viola baixo em grupos de amigos, possivelmente canções tipo Beatles, dá entrevista extensa à Visão de hoje.

Proença de Carvalho é pessoa com experiência de vida, política. É um dos ícones reservados do Centro democrático social liberal e popular, partido da maioria do povo português e que tem conduzido o país, ao longo das últimas três décadas, a este belo quadro social. É um dos valetes de quase todos os governantes deste país que temos e nos deixaram. Sabe coisas de que não quer falar, sobre o processo Casa Pia e dá-se bem com alguns expoentes da sociedade portuguesa. É amigo de “todos os donos dos grandes escritórios de advocacia” e conhece todas as correntes transversais da sociedade de interesses portuguesa. Foi amigo de Champallimaud, defendeu Leonor Beleza à exaustão, contra os hemofílicos; É , evidentemente, amigo de Mário Soares e também de Cavaco Silva, como é de Dias Loureiro e de outros notáveis. Defende este governo e acha que não há perigo de qualquer poder pessoal do primeiro-ministro, apesar de entender que os jornalistas hoje, têm menos liberdade- mas por causa da “empresarialização” dos media.
As suas ideias têm, por isso, algum interesse. Que pensa Proença da esquerda e da direita, por exemplo?
Depende do que se entende por esquerda. O problema é este: haverá lugar para uma esquerda contra o mercado e que continue a pensar que o Estado deve intervir e regular a economia? Essa é uma óptica irrealista. Um partido que hoje se situe nesse espectro político pode continuar a enfatizar as bandeiras sociais, mas, no que toca à política económica e financeira, não pode ser diferente de qualquer outro partido realista. Claro que é sempre possível pensar uma esquerda como a do dr. Mário Soares, contra a globalização e antiamericana, mas essa é uma esquerda sem qualquer presente ou futuro.”

Uma das pedras de toque do discurso de Proença de Carvalho, desde sempre que o conheço a falar para os jornais, é o modelo de organização dos poderes de investigação e acção penal.
A Proença de Carvalho não se conhece nada de especial, em teoria e que seja consistente, sobre a lógica de organização do sistema jurídico-penal que temos e para cujo modelo muito contribuiu um seu antigo amigo, Salgado Zenha, do PS, ( tal como então o próprio Proença o era).
O discurso de Proença, ao longo dos anos, sobre este assunto, não sai disto:
Temos tido, em Portugal, um grande défice de autoridade democrática e governos que não assumem as responsabilidades que lhes cabem nos vários domínios. Não considero que a segurança seja uma matéria da responsabilidade das polícias, como a Justiça não deve ser da responsabilidade dos magistrados. O Governo tem obrigações e deve assumi-las, até para que nós, cidadãos, posssamos pedir-lhe responsabilidades.”

Este discurso redondo, feito de inuendos não declarados, alberga alguma ideia concreta e precisa sobre a organização do poder jurídico-penal em Portugal? Alberga pelo menos uma: a de capar o poder judicial do poder que ainda tem. Em nome e interesses de quê e de quem? Do tal povo a quem pertence a soberania?
A ideia sempre repetida de “responsabilidade democrática”, já parece a velha e revelha cassette gasta, sem sistema Dolby.
A Proença nunca se lhe pergunta a ideia concretizadora do seu pensamento de algibeira. Tirando a frase feita da responsabilização e da submissão do poder judicial ( que não distingue quanto aos vários protagonistas) ao poder político, nunca se lhe dá oportunidade para esclarecer se conhece os modelos existentes e que modelo defende.
Já sabemos que o modelo português actual não o atrai. Não sabemos qual prefere e fica-se sempre nessas meias tintas de aparentar um saber mais do que duvidoso e mais do que suspeito, porque nunca explicado. Parece, por vezes, que tem saudades do tempo da velha senhora que instituiu os tribunais especiais plenários e arreatava o Ministério Público às nomeações de "responsabilidade". Das poucas vezes que fala sobre polícias, o modelo que apresenta lembra sempre o da PJ dos tempos antigos que tinha juízes privativos e autonomia dependente do ministro da tutela.
Já era tempo de alguém dizer a Proença de Carvalho que o que diz é pouco e gasto e precisa de explicar o que sabe do assunto, para que se perceba o que quer dizer. Porque o que parece realmente é que Proença de Carvalho é um apenas um...bluff, cujo truque reside na pose.

Publicado por josé 10:49:00  

1 Comment:

  1. lusitânea said...
    O Carvalho é daqueles comentadores de encomenda que intervêm em tempo de crise ou em grandes momentos.Mais caro do que os outros claro...
    Defenderá isto e aquilo ou o seu contrário desde que a conta bancária aumente.Serve vários senhores ao mesmo tempo ao contrário de outros que disfarçam melhor sendo eles dum partido do centrão e mandando amulher ser do outro... garantindo assim que não falte o leite e o mel lá em casa...
    Eu continuo a aguardar que a democracia se organize e mostre o nervo na área da "ética republicana" e principalmente na área do "interesse nacional" pois que cada vez tenho mais a ideia de que isto se resume a uns merceeiros açambarcadores e mais nada...

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