a lógica

Anda por aí uma série de gente em estado de choque com o que se está a passar em Lisboa, particularmente depois de, ontem, se saber que o Dr. Negrão era o candidato do PSD. Uns rasgam as túnicas e tomam duches frios, outros apressam-se a vaticinar o fim da era Mendes no PSD. Não pensam.

Eu, que até acho o Dr. Negrão absolutamente inqualificado para o cargo, aquele e qualquer outro, de índole política, tiro o chapéu ao Dr. Mendes. Não por ter feito o melhor para a cidade de Lisboa, mas, porque se calhar (só) o Dr. Mendes e o 'Eng.' Sócrates é que perceberam realmente o que é que está em causa. Por muito que custe, PS e PSD, estão-se todos a borrifar para Lisboa, e para os seus problemas, pelo que esta ou é um meio, ou um obstáculo, para se dominar um tabuleiro bem maior - o País.

O 'Eng.' Sócrates lançou o Dr. Costa para juntar o útil ao agradável - livra-se de alguém excessivamente espaçoso no PS e no Governo, sobre o pretexto de este passar a ser no número 1 da maior câmara do País. Para o Dr. Costa, na premissa de que ganha, a troca também é vantajosa - saindo do governo, a sua carreira deixa de estar refém da de Sócrates, agora que, depois da questão 'Independente', uma nova maioria absoluta em 2009 já não são favas contadas.

Quanto ao Dr. Mendes a lógica, e as contas, são mesmo simples. Parte do pressuposto de que Negrão, cinzentão q.b., segura o núcleo duro eleitoral do PSD - digamos, cerca de 25/30%. Não conta com Carmona para fazer mossa, ou melhor conta, na medida em que Carmona aparecer desassocia o PSD do mandato ora terminado, e muito menos conta com um PP a fazer mossa. Em contrapartida, está a contar, e muito, com Helena Roseta a 'limpar' uma faixa substancial do eleitorado que de outra forma iria para o PS (e para o BE). Assim, teremos Costa ensandwichado pela direita e pela esquerda, não a discutir Lisboa mas a discutir política nacional, como a Ota... (Roseta e Mendes são contra) e, partindo do pressuposto (discutível) que Roseta não entrará no core do eleitorado do PSD, há - no mínimo - boas hipóteses de PS e PSD acabarem com o mesmo número de vereadores, graças às maravilhas do método de Hondt.

Ora, atendendo a que de Costa - o melhor da sua geração, nas palavras de Sócrates - se espera que esmague, e de Negrão ninguém espera um chavo, qualquer resultado que se desvie disto será uma esmagadora vitória de... sim, esse mesmo - Luís Marques Mendes, e uma enorme dor de cabeça para o PS.

Num país político onde a única coisa (bem ou mal) que interessa é o resultado, Mendes não teve medo e arrisca tudo, e prova que é mesmo um político profissional. O resto são tretas.

Publicado por Manuel 17:56:00  

1 Comment:

  1. Carlos Medina Ribeiro said...
    Nas autárquicas de 2005 acabei por ser forçado a votar em branco, e estou a ver que em Julho deste ano vai suceder a mesma coisa. A explicação para tão triste facto deve-se à resposta que a "rapaziada de serviço" tem dado à seguinte questão:
    __

    IMPORTAM-SE QUE EU VOTE?

    Já não é a primeira vez que tal sucede:

    Depois de eu ter dado o meu contributo para uma determinada votação, aparecem uns cavalheiros a vangloriar-se de que, com o meu voto, tinham ganho uma outra eleição completamente diferente daquela em que eu havia participado!

    Eu explico melhor:

    Faz agora quatro anos que votei para as autárquicas.

    Ora, quando eu julgava que tinha ajudado a escolher as pessoas mais indicadas para tratarem de coisas como o trânsito caótico ou os excrementos de cão na cidade onde resido, eis que Guterres me informa que não foi nada disso! Sem o meu conhecimento (e menos ainda com o meu acordo), alguém decidiu que eu, afinal, tinha votado para correr com o governo dele... e o homem sumiu!

    Felizmente, tempos depois, para as eleições europeias, os principais partidos tiveram a gentileza de, atempadamente, nos esclarecer que, afinal, não iríamos votar para elas:

    O PS proclamou que a votação seria um «cartão amarelo» ao governo; o PCP também, só mudando a cor para vermelho; e, por fim, o próprio Durão Barroso (concordando com essa leitura quando devia ser o primeiro a contestá-la!), disse que «tinha entendido o sinal do povo», pelo que, logo que pôde, fez as malas e... «Baza, que é bué da tarde!».

    E é por tudo isso que, para as eleições autárquicas de Outubro, já estou pelos cabelos só de ouvir a mesma conversa: a rapaziada dos partidos propõe-se pegar no meu (eventual...) voto, desviá-lo, e brandi-lo como se ele fosse dado para apoiar ou rejeitar o governo de Sócrates - um pouco como se eu doasse dinheiro para as vítimas do Katrina e ele fosse direitinho para as campanhas do senhor Major ou de Avelino Ferreira Torres!

    Perante tal embuste (que se repete eleição-após-eleição, e em que todos os partidos colaboram entusiástica e alegremente), eu só gostava que o José Mário Branco se candidatasse. É que toda essa gente que por aí anda me dá uma grande vontade de votar em BRANCO...
    -
    «Diário Digital» e «Expresso», Set 2005

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