O guarda Miguel
quinta-feira, novembro 23, 2006
Aproveitando a boleia do postal anterior, deve dizer-se que o blog em questão, Câmara Corporativa, submete a frequentes sindicâncias, informalizadas, sumárias e principalmente em tom humorístico puxado quase sempre para sarcasmos infelizes, aquilo que cataloga como “corporações”.
Nada a apontar de especialmente negativo, em relação a essas inspecções perfunctórias, geralmente em modo opinativo e também irrisório e às vezes ligeiramente irritante, uma vez que as instituições do Estado, as autónomas e as directa ou indirectamente dele dependentes , sendo constituídas por corpos profissionais que geram rotinas e tendem a cristalizar procedimentos discutíveis, só terão a ganhar com uma maior transparência e um conhecimento alargado dos seus modos de funcionamento e crítica dos mesmos.
O que já há efectivamente a apontar, é uma obsessão programada com certas “corporações” , mormente as dos magistrados em geral e pessoas concretas que as integram, que sendo entre todas, das mais vigiadas e inspeccionadas, não se acompanham de outras observações relativamente às corporações mais ocultas, enquistadas e assolapadas no seio do próprio poder administrativo do executivo e que o blogger bem conhece.
O animador Miguel Abrantes, um verdadeiro anónimo com nome verdadeiro ( é um alto funcionário da Administração Pública, com tempos livres), diverte-se assim a gozar, repetidamente, algumas pessoas, instituições e situações que lhe vão caindo no goto de freelancer do humor facilitado pela condescendência de quem verdadeiramente serve: o actual poder instituído dos “praces”, “simplex” e outras modas para inglês ver.
Oscilando nos seus escritos, entre o dever de guarda da actual situação e a fidelidade canina ao chefe da repartição desse poder situado, figura muitas vezes na posição alerta e bem amestrada na mordacidade e noutras,- aliás, as mais interessantes-, como figura de banda desenhada, parecendo um rantanplan, numa reprise improvável das histórias de Lucky Luke, sempre que desanda a defender quem manda em certas chefias, para além do esperado louvor e aclamação.
Vital Moreira que o diga… pois assumindo idêntico papel de guarda, vital, neste contexto, também se permite veleidades de crítica. No caso do blogger Miguel Abrantes, defensor estrénue das "medidas" contra as corporações, nunca tal veremos. E nem será preciso. Um guarda não critica. Obedece e cumpre. Fielmente. Caninamente, se for preciso, mordendo as canelas de inimigos, mesmo imaginários.
ADITAMENTO em 24.11.06-
estrenuamente, ran tan plan.
Ora, ora! Em vez do jack que estripa, temos um zé-da-esquina a apodar de zé-polícia quem o topa à légua. Um roto a rir-se de quem chama esfarrapado.
Em vez de resposta a condizer com os praces e simplex, formas elaboradas de modernização administrativa, temos um arrazoado mercado em feira de cebolas: de chorar, a pobreza imaginativa.
Em vez do colorido de uma narrativa que nos contasse por que contas defende sempre os mesmos situados, assumindo um lugar de blogger militante, lemos uma saída sorrateira pelo lado esconso da administração corporativa.
A temática blogueira habitual, não ultrapassa a obsessão de um subsídio de compensação. O Direito, visto em linha clara, nunca oferece reservas, nuances ou divergências. Não há enganos nem dúvidas. A interpretação circular, é norma legal.
O que sobra, dessa falência discursiva? Um simples activo: um catador de gralhas, vigilante atento de erros ortográficos. Um sintacticista de bolso, compulsivamente agarrado ao prontuário.
Quanto ao resto, no passivo, um imenso colector de escarninhos.
Por isso, não subscrevo a ideia que o blog em causa será uma ante-câmara da corporação governamental. É mais uma câmara escura, onde se revelam práticas simplex e praxis simples de um apaniguado que reverencia quem lhe dá o pão da inspiração e lhe pode dar com o pau da reversão. Para disfarçar essa estranha forma de vida, arma em zombeteiro.
A imagem do blogger é o retrato do blog. Este que aqui fica. E tudo fica como dantes.
Publicado por josé 15:50:00
gostrei particularmente de "um alto funcionário da Administração Pública, com tempos livres". Quando fôr grande quero ser assim.
Em relação ao debate com o Provedor do Público, foi realmente muito pertinente a sua questão sobre a credibilidade das fontes de informação, ao que o provedor respondeu que para ele não existem fontes, identificadas ou não, totalmente credíveis. Só para nota.
Palpita-me que desta vez, não haverá resposta. Ficará a marinar para uma próxima oportunidade...
Mas estou com alguma curiosidade acerca da obsessão com o "subsídio de hhabitação/compensação" cuja menção vai já na enésima referência invejosa.
Por outro lado, fui ler o relatório das actividades da Inspecção Geral da Administração Pública do ano de 2005 e vi lá coisas muito interessantes.
Recomendo vivamente a leitura...
"Diz que é uma espécie de magazine", também.
Já li a resposta de Rui Araújo. Deixa-me intrigado, mas ao mesmo tempo, sossegado.
Ao dizer que nenhuma fonte lhe merece credibilidade total, está ao mesmo tempo a classificar o jornalismo português: o mérito reside na qualidade daqueles que sabem distinguir.
Há poucos. E Rui Araújo vem de longe, tina. Um dia destes aponto de onde, com cópia de fichas técnicas de jornais e revistas.
Uma espécie de magazine que conto fazer sobre o jornalismo português do meu tempo. Ou seja, de há quase quarenta anos a esta parte.
Afinal, enganei-me, mas provavelmente terá razão.
Vou fechar a colecta.
Não fui quem disse que o Alto Funcionário nada tem que fazer...
Aliás, durante o ano de 2005, teve muito que fazer, no sector do Turismo, na corporação da Direcção Geral.
Deve ter dado uma trabalheira. Aqueles relatórios para onde irão?
Mas que é que aqueles 56 altos funcionários, estão lá a fazer naquela Inspecção?
Compreende-se que tenham dado uma mãozinha no Prace.
Mesmo assim, veja bem: Ainda torraram 28 454 euros em "representação".
212 825 euros em "suplementos e prémios" ( não têm subsídios de compensação...)
E, cereja no topo do bolo: Horas extraordinárias! E dizia o meu caro que nada têm que fazer?!
Olhe, foram 7 415 euritos. Pouco mas que terá sabido que nem ginjas.
Isto é uma comédia, de facto.
E tenho dito.
Os velhos refilam, refilam mas foram eles que deixaram o sujo acumular e o charco tornar-se salobro. Agora não gostam quando alguém revolve as águas e o sujo vem ao de cimo.