Desabafos e discursos

Este free-lancer da opinião política, publicou no seu blog, Sobre o tempo que passa, este postal que exemplifica o propósito de dizer, não dizendo o suficiente. Deste modo, é postal inócuo, ficando certificado que a falta de vontade de dizer de modo explícito, esteriliza a eficácia de qualquer discurso. Empata. Adia. Equivoca.
Falta no postal, dizer os nomes. Do programa de rádio animado pelos "três estarolas" e do nome dos "boys" que também náo sei quem são e que serão apenas isso, sem conotação de maior.

Até lá, fica apenas um desabafo. E com desabafos destes temos vivido anos e anos, sem que a voz doa, ajudando a perpetuar o discurso dominante de que José Adelino Maltez e outros se queixam. Queixas inúteis, assim.

"Dos intelectuários que se servem a si mesmos

Acordo pela madrugada e ligo um dos raros programas dos últimos restos de profissionais da literatura e crítica, à João Gaspar Simões, essa subsecção da corporação de editores e livreiros, vértice autoritário daquelas múmias de uma “intelligentzia” que se assume como definidora de quem pode aceder à casta dos escritores e cronistas da nossa estreita e reaccionária praça.

Reparo que são três membros do mesmo restrito clube das citações mútuas, o tal que determina inquisitorialmente o que é a boa esquerda e a boa direita, bem como a boa civilização, a boa Europa, a boa globalização, isto é, aquele campo que decretinamente querem comandar só porque julgam conhecê-lo.

Os ditos, pretensamente omniscientes e omnipotentes, são daqueles nossos habituais bons rapazes, que se pensam os únicos e os bons só porque se encontram na esquina dos mesmos jornais que lhes pagam a mesada. Eles odeiam, fingindo que não odeiam, da mesma forma como fingem que não obedecem àqueles que lhes pagam. Muitos pretensos inteligentes não passam de meros intelectuários…"

Publicado por josé 11:18:00  

6 Comments:

  1. zazie said...
    Mas este é que é o estilo de crítica à portuguesa. Insinua-se, com punhos de renda e deixa-se ficar tudo encoberto para “não ferir susceptibilidades”. Dizer nomes é feio. Saltavam logo uma série deles com aqueles argumentos tão conhecidos: “mas porquê esses, se existem tantos mais?”. Dizer nomes é o maior pecado que se pode cometer.

    Mas há casos piores que este exemplo. Há aqueles que são capazes de repetir e tornar a repetir a mesma insinuação, para no fim afirmarem do alto de uma qualquer superioridade moral, que a coisa fica por aí. Não querem intriga.
    Quer um exemplo? Aquela historieta dos votos para a Câmara de Lisboa cedidos a troco de uma qualquer insinuação manhosa que o FJV até publicou na Visão, quando foi director. E voltou a repetir só para afirmar que ficava por aí mesmo- pela insinuação, e não permitia que se voltasse ao caso.
    Mas sabia que era verdade...
    josé said...
    Zazie:

    O que acha deste discurso?

    O seu autor, Francisco José Viegas, coloca-se no lado dos herdeiros da esquerda...o que não deixa de ser interessante.

    Mas, quanto a mim, parte de uma perspectiva errada.
    Não me parece que a Direita, a quem a esquerda gosta de acantonar na extrema, queira afirmar um discurso. Isso é o que as pessoas de esquerda gostariam que acontecesse, pois legitimaria o seu lado e restabeleceria a tranquilidade de se saberem num lado dialético com alguma razão.

    Não! O lado da esquerda clássica ( PCP e PS fora da gaveta) está, na sua essência errado!
    Não é lugar que se possa levar a sério. E só acha que pode quem é realmente de esquerda: e ainda não abriu os olhos, mesmo depois da queda dos muros!
    josé said...
    Zazie:

    Quer ver outro exemplo deste tipo de linguagem criptica e no final de contas estéril e inócua que apenas contenta quem a escreve e nada mais?

    Pode ler aqui, um postal de Mouraz Lopes, um blogger que exerce a profissão de juiz e que já foi director da PJ para o crime económico.

    Mas porque será que o Mouraz Lopes não põe lá os nomes do 24 Horas,( e do seu director Pedro Tadeu) das revistas Nova Gente, Lux, Caras Vip etc etc?

    Todos os que lêem pressupôem que podem ser esses os nomeados para os óscares da pimbalhice, mas a verdade é que o texto é recatado o suficiente para que o seu autor se recate nas meias palavras e possa sempre dizer que não quis dizer o que porventura quis mesmo...

    É trists, esta cobardia.
    zazie said...
    Para dizer com franqueza não percebi nada do que o FJV queria dizer. Mete o franquismo e o salazarismo a par dos crimes estalinistas e do terror da revolução francesa?!?
    E ele considera-se herdeiro de esquerda? Nem sabia, nunca tinha reparado. Ele é mais capataz e para o caso... Mas o resto do discurso fez-me lembrar um outro- o historiador do Regime- o Rui Ramos- esse é que começou a lançar essa ideia vazia da necessidade da Esquerda e da Direita reinventarem ideologias.

    ........
    Li o outro é mesmo engraçado aquilo. Parece um rebus de alívio de consciência
    ":O)))

    mas é disto que se gosta. E acredita que há muita gente a quem pareça cobardia?
    Eu não.
    É um estilo peganhento, faz render e recicla sempre tudo. Aquilo que foi escrito a pensar nuns pode-se amanhã usar a pensar noutros, ou até numa figura de estilo.
    josé said...
    Acho que escrever assim - "A "educação cívica" do PREC e seus sucedâneos tentaram criar a ideia de que havia um "património genético da esquerda" ligado a palavras apaixonantes solidariedade, generosidade, igualdade, distribuição equitativa da riqueza, eliminação da pobreza e, até, pasme-se, liberdade."- não chega. A linguagem foi muito mais longe e de modo bem mais subtil.

    De tal modo, que o discurso de FJV me parece tributário dessa mesma Esquerda.
    josé said...
    Ainda bem, senhor antónio. É um dos melhores elogios que me podem fazer...

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