Soco no estômago
Tem os pés descalços. Melhor, um dos pés. O outro não existe. Nem a perna. Tem o cabelo sempre todo emaranhado, espécie de confusão de rastas involuntárias. E sobre a pele morena, uns olhos verdes, grandes, luminosos, que desviam a atenção dos olhares dos outros da cadeira de rodas onde está sempre depositada, ali, no meio da estrada, quase sempre em frente ao Hotel Ipanema Park, a caminho da Foz. Os carros passam, desviam-se. Às vezes param. Ela rodopia, nunca sorri, estende a mão e regressa à linha que divide as duas faixas de rodagem. Quando há jogos do Mundial e a cidade fica vazia, ela continua lá. Quando os trovões caem do céu para se estatelarem no chão como caixas de sapatos com lâmpadas, também.
Helena
Publicado por contra-baixo 23:10:00
Lá, no "Braganza", temos um caso semelhante, a Lola Chupa, e não há chupa, perdão, chuva, nem sol, nem campeonato que a arranque da esquina do Conde Redondo.
Vocações :-)
No dia em que a Prostituição for fiscalizada, protegida e tributada, acabam-se os pagamentos em corpos, do Valentim Loureiro e do Pinto da Costa.
Lá para 2100.
infelizmente impotente.
Se os queremos tirar das ruas, Lamentávelmente, pouco depois voltam.
Não sei se é a vida que os atira para as ruas, se são eles que querem as ruas. Há casos absolutamente surrealistas e fantásticos de gente intelectualmente dotada, bonita, que tem a perfeita noção de como ali chegou... e, ... não quer sair. Faça chuva, sol, vento ou brisa...
Um retrato da realidade, sobretudo para reflectir.
Um traço comum, é a resistência à mudança.
Como dizem os fulanos da RFM, "vale a pena pensar nisto".
Mas é assim que quer viver. Porquê? Não sei.
Como sabe a vida não é simples. É complexa e contraditória. É real.
A Ana pede cigarros porque é essa a sua «currency».
E porque está ali a Ana ? Simplesmente porque ali está.
Mas será que quer, a Ana, verdadeiramente, viver. Ou aguarda o termo do seu prazo. Perguntas, perguntas...
Quanto à Ana, há muitos anos que me interrogo. Se um dia ela desaparecer, julgo que sentirei a sua ausência.