O Parlamento da triste figura
quarta-feira, abril 19, 2006
Quiçá a conselho dos ex-leninistas-caviar da sua bancada - que ainda recordarão que “só a verdade é revolucionária” - o PS inviabilizou hoje a audição parlamentar do ex-Director Nacional da Polícia Judiciária, sobre as circunstâncias que rodearam a alteração da equipa dirigente da PJ, depois de ter viabilizado a audição do Ministro da Justiça sobre o polémico assunto.
“Lei da rolha no parlamento”, clama o PSD, ofendendo injustamente a Lei de Imprensa de 1850, aliás chamada “das rolhas”. Os aspectos criticáveis da dita lei, bastante empolados pelas paixões políticas da época, são um fait divers quando comparados com a presente degradação da instituição parlamentar, que já não cuida sequer de aparentar um mínimo de transparência no escrutínio de factos e actuações políticas.
O crescente descrédito do Parlamento parece não preocupar a maioria da Deputação, que decerto não ignora que o PS e as instituições democráticas irão pagar uma grossa factura por conta destes números malabares.
Até quando irá Sócrates suportar os custos políticos dos sucessivos paliativos destinados a adiar o bota-fora ministerial do Dr. Alberto Costa? – é a questão que se impõe.
Publicado por Gomez 17:26:00
Veja-se a total falta de crédito dos inquéritos parlamentares.
Nem comento a sua apreciação sobre a dignidade e seriedade de Santos Cabral por reporte às atitudes de Alberto Costa.
A justificação para a audição parlamentar residia, exactamente, nas graves divergências entre os factos e afirmações, tornados públicos, quer pelo Ministro quer pelo ex- Director da PJ. Ambos se pronunciaram publicamente. A haver audição parlamentar, ambos deveriam ser ouvidos para esclarecer a polémica. Se o melindre da matéria o justificasse, poderiam inclusivamente ser ouvidos "à porta fechada".
Alberto Costa também disse tudo o que quis na comunicação social. Se Santos Cabral tivessse reservado as suas explicações para uma hipotética audição no Parlamento, ficou demonstrado que nunca as conheceríamos.
A versão do Ministro da Justiça não pode ser "a verdade a que temos direito"...
- Sem que isso altere o que disse no comentário anterior, a verdade é que, ao contrário do que a Clara referiu, Maria José Morgado foi ouvida no Parlamento, durante sete horas, na sequência da sua demissão da PJ (ver aqui);
- Até Vital Moreira já veio defender que Santos Cabral deveria ter sido ouvido na AR;
- Aos interessados em conhecer as vicissitudes do processo legislativo da Lei das rolhas, sugiro a leitura do estudo que Maria de Fátima Bonifácio recentemente lhe dedicou no livro “A segunda ascensão e queda de Costa Cabral 1847-1851” (Lisboa, ICS, 2002).