Metecos às vezes

Les amis de Georges étaient un peu anars.
Ils marchaient au gros rouge et grattaient leurs guitares.
Ils semblaient tous issus de la même famille,
Timides et gaillards et tendres avec les filles.
Ils avaient vu la guerre ou étaient nés après
Et s'étaient retrouvés à Saint-Germain-des-Prés
Et s'il leur arrivait parfois de travailler,
Personne n'aurait perdu sa vie pour la gagner.

Les amis de Georges avaient les cheveux longs.
À l'époque, ce n'était pas encore de saison.
Ils connaissaient Verlaine, Hugo, François Villon,
Avant qu'on les enferme dans des microsillons.
Ils juraient, ils sacraient, insultaient les bourgeois,
Mais savaient offrir des fleurs aux filles de joie,
Quitte à les braconner dans les jardins publics
En jouant à cache-cache avec l'ombre des flics.
Georges Moustaki

No início dos anos setenta, dois francesitos, estudantes sem cheta, incentivados pela canção do Métèque de Moustaki, saíram de Paris e resolveram tomar o caminho do Oriente, nessa altura já muito cantado nos meios hippies. Os Beatles, tinham acabado há pouco como grupo, mas tinha ficado o misticismo hindu de Ravi Shankar e outros Gurus pacifistas e de flores ao peito e com passadas de sandálias. Este ar do tempo, possibilitou em 1971 a realização do célebre concerto para o Bangladesh, patrocinado por George Harrison, Eric Clapton e Bob Dylan.
Os dois franceses tomaram a estrada de Teerão, Lahore, Nova Delhi e chegaram ao destino de Katmandu. A viagem e outras que se seguiram, foram contadas na revista Actuel, que floresceu no Maio de 1968 e antecedeu a geração do Libération.
O director da revista terá dito a um dos viajantes de pé descalço e mochila às costas: ó estradista! Escreve lá um guia dessas viagens!
Um dos viandantes, levou a sério e em Abril de 1973 apareceu o primeiro Guide du Routard, da autoria dos caminheiros: Philippe GLoagen e Michel Duval. Em duas centenas de páginas, um guia do mundo conhecido de quem anda à boleia com mochila às costas.
O símbolo do guia ficou famoso: um caminheiro com mochila às costas em forma de globo terrestre, desenhado por Jean Solé, autor de banda desenhada.
Ao longo dos anos, o guia aumentou o número de páginas e diversificou os países e regiões visitadas e recomendadas.
Depois da editora Hachette o começar a editar, as tiragens passaram de pouco mais de uma dezena de milhar de exemplares, para o actual número astronómico de mais de dois milhões, enriquecendo o estudante sem cheta de antanho.
E que fez este petit Philippe Gloagen, quando entreviu o pote de ouro à porta?
Em primeiro lugar, logo em 1976, registou o nome “Routard” como uma marca! Ao mesmo tempo, reservou igualmente para si, o direito exclusivo a usar o logotipo imaginado pelo desenhador Solé. Este, ficou a ver navios e passou a desenhar mais Animaleries e outras conneries, sem poder tocar nas royalties das vendas do “guide”, que se escoam agora aos milhões.
Por essa razão e em função do sucesso estrondoso, já em 2004, certos curiosos começaram a questionar os métodos de classificação dos lugares e paragens recenseados e referidos com recomendação. Descobriram então coisas desagradáveis para o autor e publicaram-nas, designadamente na revista Lire, fonte primária desta história. Descobiram, por exemplo, que alguns hotéis publicitados entusiasticamente, tinham como accionista o próprio Gloagen e que os colaboradores eram pagos de modo ético discutível
Este ano, ao mesmo tempo que sai uma espécie de autobiografia de Gloagen, sai também um livro incómodo, com um título estranho: “Enquête sur un guide de voyages”.
O título deveria ser “Enquête sur le Guide du routard”, pois o assunto do livro é exactamente sobre o célebre guia de Gooagen.
E então... porque não?
Ora, tal como aqui a escritora de livros que se vendem às dúzias, M.R.P. registou a marca do nome, também Gloagen, com o registo de 1976, impediu ipso facto, o uso de tal nome, -Routard- sem autorização.
Então que podem fazer por cá, os amis de George, confrontados com uma providência cautelar para impedimento de publicação de um livro com um nome que é uma marca registada?!
A mesma coisa, pois então!
Sugere-se por isso, um título mais propício ao respeitinho para com as marcas registadas:
Couves e Alforrecas e... um par de tomates.

Publicado por josé 00:19:00  

6 Comments:

  1. maloud said...
    Claro que gosto do Georges Moustaki. Sou dessa geração.
    O Guide du Routard da Itália do Norte comprei-o há 10 anos, porque íamos passar 3 semanas na Toscânia num agriturismo. Deitei-o fora e usei sempre o Michelin. Nunca vi coisa mais desonesta em matéria de comentários. E xenófoba. Já na altura sabia que era "feito" por um antigo soixante huitard. Aliás as Nouvelles Frontières também. Aquele Maio rendeu muito a alguns.
    zazie said...
    que post delicioso!
    Gomez said...
    Grande postal.
    O GDR, como muitos dos "filhos" desse Maio, aburguesou (v. as opções "trés chic"). E terá também muitos lados negros, agora expostos (confesso que já desconfiava). Mas não o dispenso e continuo a viajar com ele para todo o lado (tendo como alternativa de recurso o Michelin vermelho).
    Os soixante huitards - tal como muitos dos nossos revolucionários caseiros - conviveram mal com as seduções do vil metal. É a vidinha, sempre a vidinha, em especial para quem se toma muito a sério...
    josé said...
    Arrebenta:

    Subscrevo sem qualquer esforço o texto.
    Tenho alguma pena que te percas ( tira o tu e põe o se, se assim convier)em alteridades pseudónimas e gratuitamente insultuosas.
    Serei dos muito poucos que defendem que os teus comentários têm direito à luz das janelinhas abertas, em vez de serem apagados logo a seguir à exposição.

    Mas confesso que cansa ler facécias escritas a invectivar indivíduos que nada mais fazem também do que exprimir uma opinião.
    Seja em nome do capitão Porão, uma Quitéria barbuda ou uma qualquer Kitty.
    Para além de achar estes nomes uns achados, acho ainda que o que escrevem, muitas vezes não ascendem a um nível maior do que o da escarreta pigarreada.
    Muda lá o tom e o som e continua a escrever que afinal a liberdade pode muito bem comportar o libertarianismo, com um único limite: a dignidade pessoal de cada um.
    Maria said...
    Uma das raras vezes que concordo com Arrebenta. Afinal, a autora em causa, ofendeu muitas vezes a dignidade dos outros.
    Arrebenta said...
    Aforismo Cínico do Meio-Dia

    Para a "Loura" Ferreirinha Alves


    Nós, cá nos "blogues", já aderimos ao Sistema Chinês, fazemos dez vezes melhor, e cem vezes mais barato.

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