Ópera do Malandro
sexta-feira, março 24, 2006
«Ele faz o noivo correcto, e ela faz que quase desmaia
Vão viver sob o mesmo teto até que a casa caia,
até que a casa caia
Ele é o empregado discreto, ela engoma o seu colarinho
Vão viver sob o mesmo tecto até explodir o ninho,
até explodir o ninho
Ele faz o macho irrequieto,
e ela faz crianças de monte
Vão viver sob o mesmo tecto até secar a fonte,
até secar a fonte
Ele é o funcionário completo,
e ela aprende a fazer suspiros
Vão viver sob o mesmo tecto até trocarem tiros,
até trocarem tiros
Ele tem um caso secreto,
ela diz que não sai dos trilhos
Vão viver sob o mesmo tecto até casarem os filhos,
até casarem os filhos
Ele fala em cianureto,
e ela sonha com formicida
Vão viver sob o mesmo tecto até que alguém decida,
até que alguém decida
Ele tem um velho projecto,
ela tem um monte de estrias
Vão viver sob o mesmo tecto até ao fim dos dias,
até ao fim dos dias
Ele às vezes cede um afecto,
ela só se despe no escuro
Vão viver sob o mesmo tecto até um breve futuro,
até um breve futuro
Ela esquenta a papa do neto,
e ele quase que fez fortuna
Vão viver sob o mesmo tecto até que a morte os una,
até que a morte os una»
«Casamento dos Pequenos Burgueses», Chico Buarque
in «Ópera do Malandro»
No Coliseu do Porto, até sábado. A não perder.
Publicado por André 01:08:00