Ópera do Malandro


«Ele faz o noivo correcto, e ela faz que quase desmaia
Vão viver sob o mesmo teto até que a casa caia,
até que a casa caia

Ele é o empregado discreto, ela engoma o seu colarinho
Vão viver sob o mesmo tecto até explodir o ninho,
até explodir o ninho

Ele faz o macho irrequieto,
e ela faz crianças de monte
Vão viver sob o mesmo tecto até secar a fonte,
até secar a fonte

Ele é o funcionário completo,
e ela aprende a fazer suspiros
Vão viver sob o mesmo tecto até trocarem tiros,
até trocarem tiros

Ele tem um caso secreto,
ela diz que não sai dos trilhos
Vão viver sob o mesmo tecto até casarem os filhos,
até casarem os filhos

Ele fala em cianureto,
e ela sonha com formicida
Vão viver sob o mesmo tecto até que alguém decida,
até que alguém decida

Ele tem um velho projecto,
ela tem um monte de estrias
Vão viver sob o mesmo tecto até ao fim dos dias,
até ao fim dos dias

Ele às vezes cede um afecto,
ela só se despe no escuro
Vão viver sob o mesmo tecto até um breve futuro,
até um breve futuro

Ela esquenta a papa do neto,
e ele quase que fez fortuna
Vão viver sob o mesmo tecto até que a morte os una,
até que a morte os una»

«Casamento dos Pequenos Burgueses», Chico Buarque
in «Ópera do Malandro»

No Coliseu do Porto, até sábado. A não perder.

Publicado por André 01:08:00  

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