A apostasia!


O Sunday Times de ontem, 19 de Março, para além de um primeiro caderno de 32 páginas ( mais quatro que o Expresso), traz ainda mais outro caderno com idêntico número de páginas dedicado ao Desporto; mais um outro de 16 páginas dedicado aos Negócios , tudo em formato broadsheet. Em tablóide, encadernado como revista, um suplemento sumarento de 96 páginas, dedicado à Cultura internacional. Tudo por 5 euros! E vale a pena, só por essa revista que recolhe e mostra internacionalmente, artigos publicados noutros suplementos locais, do jornal.
Ontem, para além de um artigo do suplemento News Review, sobre os melhores livros do mundo, numa recompilação de Melvyn Bragg, pode ler-se uma “interview” à inglesa, com…Francis Fukuyama, o guru intelectual e académico dos anos noventa que se atreveu então a escrever um artigo( na revista americana National Interest) e um livro sobre o Fim da História e o Último Homem, em 1989, quando tinha 36 anos e muitas ilusões sobre a direcção certa da História. Assegurou então que esta se dirigia, infalível e inevitavelmente, para o Capitalismo e a democracia liberal. Tal significava também a inevitabilidade da derrocada da utopia socialista de raiz marxista-leninista, com o triunfo dos valores ocidentais que celebram hoje, em democracia, o triunfo sobre a monarquia, o fascismo e o comunismo.
O livro sobre o Fim da História, é uma obra de grandes citações bem documentadas e que influenciou um bom número de pessoas que passaram a inscrevê-lo na cartilha liberal, como referência. Fukuyama é um intelectual, académico que estudou filosofia, os clássicos, literatura comparada e relações internacionais. Em 1995 e em 1999, em obras publicadas, refez certas noções, evoluiu nas ideias e gradualmente, afastou-se da ideia primitiva, inicial que o levou a apoiar os neoconservadores americanos. Em 1998, assinou uma carta a Clinton, apoiando o projecto neoconservador para o New American Century, que incluía o desejo urgente de derrube do regime iraquiano. Entre os signatários, estavam também Donald Rumsfeld e Paul Wolfowitz. Em 2001, depois do ataque às torres gémeas, nova petição em carta e logo que os tanques entraram em Bagdad, um artigo celebratório no Wall Street Journal, apoiando a justa luta que derrubou Saddam e o regime iraquiano.
Fukuyama, actualmente com 53 anos, segundo a “interview” do Sunday Times, votou em Bush, em 2000. Considera-se um académico, cultor de Leo Strauss, tal como Wolfowitz que, aliás, lhe ofereceu emprego como estagiário, nos primórdios da era Reagan.
O Project for the American Century, uma espécie de Novas Fronteiras bem menos pindéricas, foi também acalentado por Fukuyama, em parceria com William Kristol, tendo como veículo de propaganda a revista Weekly Standard, uma espécie de Atlântico, bem menos pindérica também. O fundador do neoconservadorismo, segundo o artigo, terá sido mesmo o pai de Kristol, nos anos trinta, atraídos primeiro pelo trotskismo e que traíram a seguir à Guerra, tornando-se indefectíveis anti-comunistas. Assim, as raízes trotsquistas que se opunham ao estalinismo, fizeram nascer o actual neoconservadorismo que orienta o imaginário de muito liberal de “direita” que juram pela Spectator e por outras páginas que celebram uma actual visão “leninista” da História, num retrocesso improvável mas já denunciado-precisamente por Fukuyama!
E que diz o antigo neocon?!
Que se enganou redondamente, ao abraçar o neoconismo! Formidável! E diz mais:
Que os actuais próceres do neoconservadorismo que por cá ainda vai acidentalmente sendo moda, em blasfémias avulsas e insurgências várias, são mesmo “leninistas” ao acreditarem que a história pode ser empurrada “à força e com vontade aplicada”. Que os neoconservadores não aceitaram as tentativas de melhorar a engenharia social com esquemas socialistas de mercado, e no entanto aceitam que no Iraque, por exemplo, pode reconstruir-se um país de alto a baixo, em forma de democracia modelar, com todas as complexidades sociais existentes.
A perplexidade denunciada por Fukuyama, leva-o á conclusão lógica: a guerra no Iraque foi um erro colossal!
E não tempera sequer a afirmação com prognósticos de fim de jogo, como fazem certos comentadores que dirigem jornais para o público ler. Não! É simplesmente afirmativo e inequívoco: foi um erro, na teoria e na prática; considera-se por isso, um apóstata e vai ainda mais além: o neoconservadorismo de raiz americana é um logro!
E prepara-se para o provar num livro que sai para a semana: After the neocons, publicado por Profile. Será objecto de revisão no próximo número do suplemento Culture do Sunday Times.
Por cá, o suplemento Actual, de um certo jornal desta semana, já nem sei de que tratava…e o editorial de um certo director público, de hoje, afigura-se algo patético: diz que o juízo final da História ainda está por fazer e que “restam cartas por jogar”. Quanto a isso, Fukuyama diz que os apoiantes da guerra não querem admitir o fracasso e “ a maioria deles anda com bola baixinha, por saberem que as coisas não correm de feição, estando à espera que algo aconteça e lhes permita manter a postura.” Arrogante, como se sabe.

Publicado por josé 23:48:00  

16 Comments:

  1. josé said...
    sniper:

    Uma parte do artigo/interview do Sunday Times, é esclarecedor da posição intelectual e actual de Fukuyama.
    Pelo menos, tem uma vantagem: não se fixou numa aposta, sabendo que muita gente o seguiu no raciocínio que expôs ao mundo, teimando em não querer ver outras realidades.

    Por outro lado, Fukuyama é um intelectual e académico respeitado, ao ponto de ter sido lido e ouvido por pessoas muito próximas do centro de poder intelectual que moldou o actual neoconservadorismo de raiz americana e que durante alguns anos porfiou e venceu uma aposta: conquistar o poder de facto, para tentar mudar o mundo seguindo a perspectiva oposta à socialista.

    Pelos vistos, para Fukuyama, as coisas não podem ser vistas em prismas monocromáticos e isso foi visível nos livros que foi escrevendo, em 1995 e 1998 ( The great Disruption).
    Apesar da evolução intelectual e ideológica, Fukuyama, ainda na altura da invasão do Iraque, apoiava os neocons bushistas.

    A grande "disruption" acontece agora, com a publicação deste novo livro, já disponível na Amazon.

    É um acontecimento e a prova de uma apostasia. Tal como o autor refere.
    Por cá, daqui a algumas semanas ou meses, vai ser comentado...se for.

    "Somewhat surprisingly, he describes himself as a Marxist, “in the sense that I believe in a general process of economic and social modernisation”. You can only steer things and speed things up at the margins of society, he tells me.

    For somebody with such a deterministic view of history, isn’t he writing off the chances of success in Iraq too soon? Especially since he still believes humans are made for liberal democracy.

    “It’s way too premature to predict how it will play out,” he admits. “It’s not clear the final judgment will be negative. It is entirely possible that Iraq will become a democracy, but the causality will be extremely muddled.”

    In other words, if things turn out well in Iraq, history may well record that it is despite — rather than because of — the best efforts of Bush and Blair. That seems harsh to me, but Fukuyama is implacable. Whether they win or lose history’s gamble, he believes the champions of the war should be blamed for starting it. "
    Maria said...
    Se a libertação de Iraque de Saddam foi um erro por causa da violência que se regista actualmente, então o fim do apartheid na África do Sul também foi, porque hoje em dia morrem diariamente vítimas de violência urbana mais de 2000 pessoas por mês. Que não dá sinais de abrandar. Já morreram muito mais pessoas depois do fim do apartheid do que na luta contra este. E vão continuar a morrer muitas, muitas mais. Actualmente na África so Sul morrem muitas mais pessoas do que no Iraque devido a violência. Mas infinitamente mais.
    zazie said...
    ó tina, não diga disparates!

    desde quando a luta contra o apertheid na África do Sul foi feita por invasão?

    será que esta gente ainda não compreendeu o que é o tribalismo e que o tribalismo aguenta-se contido por ditadura e que não se exportam democracias?

    Ou será que ainda andam com essa cantiga da revolução mundial liderada pelos americanos a pedido dos judeus?

    por favor. Tenham juízo. Se há gigantesco erro estratégico é este. Nem por utilitarismo serviu. Nem para o petróleo. Nem para ajudar Israel.

    Serviu para ficarem com um Vietnam nas mãos à custa deste neo-trostskismo dos neocons
    Maria said...
    Depois vêm aqueles falar sobre a soberania dos povos, como se esta fosse mais importante do que os direitos humanos. Hipócritas.
    zazie said...
    bem, eu não vim cá para perder tempo com comentários tontinhos. Vim cá por causa do post do josé. E é verdade, onde temos nós por 5 euros revistas assim? e onde temos nós seja por que preço auto-críticas e análises inteligentes como a do Fukuyama?

    É bom que se façam postes destes já que a jornalagem cá da terra não tem préstimo para nada
    Jose Silva said...
    Um dos melhores artigos de sempre na blogosfera nacional. Porém meu caro, acima de neocons ou de marxistas está o Príncipe. A contagem descrescente para o um novo mega atentado terrorista em solo americano já começou. Coincidentmente com novo abrandamento económico... Lembre-se disto quando acontecer, ainda este ano.
    Maria said...
    Perguntas:
    1. Há alguém que ainda lê alguma coisa do que a Zazie escreve a não ser a frase incial?
    2. Há alguém que não se assusta com as suas posições sempre desapiedadas e desumanas?
    3. Alguém conhece uma pessoa mais miserável de espírito do que a Zazie?
    4. Há alguém que não adivinha a posição que a Zazie vai defender?
    josé said...
    Meu caro sniper:

    O texto que coloco a seguir tem quase três anos. FOi escrito no Pastilhas do MEC e numa discussão sobre estes assuntos e que a Zazie se deve lembrar, porque também participava.
    Discutia então, a probabilidade de o Iraque se tornar num novo Vietnam, numa aspecto bem relevante:um erro que se reconhece anos depois que o foi. NO caso, citava o Robert MacNamara que em 1995 escreveu um livro a dizê-lo abertamente.
    Agora,com Fukuyama, o tempo acelerou. em vez de 20 anos ( 75-95), passaram apenas três...

    Aqui fica o extracto. O maradona que refiro é um blogger que anda por aí.

    "Será preferível pagar as coisas que compramos aqui em Portugal ou pelas quais pagamos aos europeus, em euros ou em dólares? E se for em euros, como suponho, será preferível que a moeda valha mais ou menos que o dólar? E se a OPEP decidir mudar a moeda de referência ( como já decidiu) do dólar para o euro, haverá algo a objectar pelos europeus? Como não percebo o suficiente de economia política fico-me por aqui e a pensar noutra entrevista que também vem no Público de hoje. José Palmeira, um professor de geopolítica, de Braga, em vias de doutoramento sobre esses assuntos e que presumo um bom conhecedor das matérias, diz que Portugal deve ter uma política de geomoetria variável e que devemos alinhar com os Estados Unidos e reforçarmo-nos dentro da Europa. E que o facto de pertencermos à UE nos dá peso na CPLP, porque a Europa é muito importante para o Brasil e para os países africanos. Assim, Portugal está numa posição de ponte entre a Europa, as Américas e a África. A ideia parece-me aceitável e partilho dela. Será viável? Não sei. Mas prefiro esta diversidade a um alinhamento cego com os americanos, porque não confio ( instintivamente) na doutrina Wolfowitz que me parece contrária aos nossos interesses, como europeus.

    Daqui retomo a questão do Vietnam:
    Não se trata de comparar as duas guerras, mas apenas de acentuar o paralelismo entre as asneiras que se cometem ( do meu ponto de vista e assumindo que afinal posso ser eu o asneirento...) sem remédio.
    Sobre o MacNamara muito há a dizer e já foi dito: basta fazer um Google com a palavras “MacNamara” e ver a profusão de artigos.
    De um deles- das memórias do famigerado Noam Chomski e datado de 1995- tirei isto:
    “McNamara's goal is to explain how such "vigorous, intelligent, well-meaning, patriotic servants of the United States" as the men of Camelot came "to get it wrong on Vietnam." We "acted according to what we thought were the principles and traditions of this nation," he writes. What they thought was correct, at least if "principles and traditions" are illustrated by historical fact, as in the clearing of the continent, the conquest of the Philippines, Wilson's Caribbean exploits, and much else. These well-meaning planners were "wrong," McNamara concludes, but it was "an error not of values and intentions but of judgments and capabilities" -- remarks that are superfluous in a cultural environment that lacks the concept of wrong-doing. The worst of the "mistakes," McNamara writes, was the failure to see the Communist movement in Vietnam as a "nationalist movement," as it appears "in hindsight": "We totally underestimated the nationalist aspect of Ho Chi Minh's movement."
    E mais adiante o mesmo Chomski conclui:
    It is pointless to run through the less serious "mistakes" that McNamara lists. In each case, we find the same traits: ignorance, rigorous subordination to the narrow confines of doctrine, and a level of moral blindness that is hard to capture in words. And again, it unfair to criticize McNamara for these qualities, because he simply draws them from his environment, as is shown clearly enough by the commentary on his book. Or on the war.”

    É por estas coisas que também subscrevo as perplexidades do maradona quando diz que as pessoas dizem disparates e quando descobrem, passam por cima deles como se nada tivesse acontecido, não extraindo as conclusões necessárias. Se os disparates se ficarem pela opinião escrita, não vem mal ao mundo e é por isso que os cronistas da praça se auto-imunizaram há muito. De contrário, o VPV, por exemplo, estaria reformado das crónicas desde 1990, altura em que previu a catástrofe planetária a seguir à dos balcãs.
    Se esses disparates fazem doutrina e esta é executada, como está a acontecer com o Wolfowitz, convém, parece-me, perceber quem são eles; quem quer afinal mandar em nós, saber de onde vêm e para onde nos querem levar.
    Para isso, copio outro artigo da net, assinado por Michael Reilly e datado de Julho de 2001, publicado no site Democratic underground.com. e intitulado “ Why do republicans trash the 60´s” Sobre o erro do Vietnam,( não é sobre a táctica da guerra, entenda-se...) escreve-se:

    “At last we have come to the Big Kahuna; one of the primary reasons the hippies of the 1960's have had such scorn heaped upon them by conservatives. Vietnam has always been a cherished cause for the right-wing and even 30 years after the end of the war they cannot bring themselves to admit what the rest of society knows: it was a colossal, wasteful mistake. Despite the fact that former U.S. Secretary of State Robert MacNamara, who was partially responsible for the escalation and promotion of this war, publicly recanted his beliefs a few years ago the Republicans still insist on clinging to this rather grimy teddy bear. Part of the reason is due to their continued use of the communist specter in promoting an "us versus them" mentality to feed off of. The remainder of their motivation is based on an inherently immature inability to admit wrongdoing or mistake. In the conservative view this military endeavor was a just war to fight the evil communists, and those who used their First Amendment right of free speech to object to it were somehow traitors. This tenet requires conservatives to discredit the other side by any means necessary, so they can continue to fantasize and rewrite history to justify U.S. presence in Vietnam. Like Fonzie's hilarious inability to utter the word "liver," the expression "I was wrong" is quite difficult to extract from the mouth of a conservative.
    This is predictable yet somewhat perplexing given the fact hippies of that era and conservatives of our day have one thing in common: both criticized the government as untrustworthy and corrupt and sought to educate people that our leaders are not always beyond reproach. One might think modern day right-wingers would appreciate this shared sentiment at the very least, but the difference is the government in question back then was Republican-controlled and it was doing something the Republicans approved of. Certainly the hippies were proven correct by the Watergate scandal, which conservatives are still fuming over since it brought down a Republican President, and that was part of the rationale for their never-ending attempts to smear President Clinton. As always, their beliefs and ethics are entirely conditional, depending on the political affiliation of those involved. This is exemplified by the miraculous transformation of conservatives into flower-waving peaceniks when Clinton sent troops into Bosnia - an act that resulted in not a single U.S. casualty, I might add.
    When discussing Vietnam it's important to take a look at those who continue to rabidly promote the war, for you will almost inevitably find a man (or woman) who did not serve in it. From Rush Limbaugh to Pat Buchanan to Dan Quayle to Tom Delay to George W. Bush, the chickenhawks all scavenged various excuses to stay home because they just couldn't find the time to commit to this cause (other than empty-headed rhetoric years later), although sending others to fight was perfectly acceptable. Now take a look at those who actually served, such as Al Gore and John Kerry and chances are you will see a person who has doubts about the justification for this conflict, who lost friends over there, and who is opposed to such terrible fiascos occurring again in the future. In short, the right wing dismisses the views of the veterans of this war in favor of their own feverish propaganda. “
    Para quem leu com atenção, não escapou certamente a referência aos hippies. É um termo que tem servido para anatematizar quem questiona as certezas dos falcões americanos. É uma táctica comunista, também, o que só prova que muitas vezes, os extremos se tocam. E que não é por acaso que se volta a falar em idealismo, optimismo guerreiro e amanhãs que cantam cheios de sol democrático a la Wolfowitz.

    C´est pourquoi je pense que la boucle est bouclé. "
    Maria said...
    O José tem razão quando diz que as coisas não estão a correr bem para os americanos. Mas nunca menciona que o povo iraquiano se livrou da ditadura de Saddam Hussein. E o facto deles irem às urnas em massa prova como têm esperança num futuro democrático. E, mais uma vez repito, se formos contar o número de mortos como um impedimento à instauração da democracia, então nessa altrua seria melhor para a África do Sul não viver em democracia. Este é só um exemplo de muitos. Acredito que os americanos possam agora achar que cometeram um erro. Mas quem acredita e deseja liberdade e democracia para os outros nunca poderá achar que ter-se dado fim a uma ditadura tão cruel possa alguma vez ter sido um erro.
    zazie said...
    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
    zazie said...
    a liberdade e a democracia...

    esta gente decora umas palavras e nem que restassem apenas duas pessoas para votar achavam que tinha sido uma boa ideia ir-se lá pôr aquilo tudo de pantanas para que quem sobrevivesse votasse no inimigo tribal...

    e depois a indigência mental é minha...
    zazie said...
    por acaso até a Filomena Mónica escreveu um bom artigo sobre essa inviabilidade de exportação de democracia que no Ocidente demorou décadas a ser conseguida e que não se resume a uam farsa eleitoral

    E isto antes da farsa. Logo que se deu a invasão.

    Só os ideólogos complexados como o JPP é que deram em guevaristas.
    zazie said...
    se estes textos que estão no Pastilhas não envolvessem outras pessoas dava mesmo vontade de pegar agora neles.
    zazie said...
    "Gostaria de comentar (e não mais do que isso) um artigo de José Manuel Fernandes, sobre a incompatibilidade entre a democracia e o Islão. Nesse artigo, José Manuel Fernandes diz que eu «encabeço naturalmente o pelotão dos cépticos». O que me permito tomar como elogio. Não esqueci ainda o fervor com que _ depois de 89 e, sobretudo, depois da implosão da URSS _ a esquerda bem-pensante defendia a «ingerência democrática», sem qualquer espécie de limite. Aparentemente, nada explicava que se tolerasse o intolerável e tinha de se impor a liberdade pelo mundo inteiro. No próprio Público me insultaram por duvidar desta fulgurante verdade e, assim, implicitamente sancionar abjectas tiranias. Com o tempo, as coisas mudaram e os virtuosos campeões da «ingerência» vituperam hoje a ingerência de Bush no Iraque, que o grosso da direita aprova. Eu, prosaicamente, continuo a achar que a democracia é um puro produto da Europa Ocidental e que não é exportável para civilizações diferentes. Porquê? Primeiro, por causa da herança clássica, que estabeleceu a lei política e civil como emanação da vontade colectiva (mesmo quando representada por um soberano absoluto), excluindo de caminho que ela fosse um eterno mandamento divino. Em segundo lugar, por causa do individualismo essencial, que a ideia de cidadania inaugurou e o cristianismo, por outras vias, reforçou. E, por fim, por causa do triunfo decisivo, mas difícil, do poder secular sobre o poder religioso. Uma tradição ininterrupta, embora acidentada, de 25 séculos não se transplanta em meia dúzia de anos para um meio exótico por muito que o Ocidente persista em se ver como modelo universal e que, por aqui e por ali, haja classes médias que o tentem imitar. As pretensas «democracias» da Índia, da África e da Ásia só iludem quem se quer iludir."


    e este. De quem é?
    josé said...
    Para quemm aprecie ler destas coisas e acha que um Sérgio Figueiredo não vai além de uma pose emproadinha, reticulada de ideias peregrinas que não assentam arraiais nos neurónios, aqui fica mais um artigo recentíssimo, do Asia Times, também peregrino - e do Oriente- mas com senso e fundamento:

    "US$: Forget Iran, the problem's at home
    By John Berthelsen

    Of all the things that could wreck the US dollar - and there are many - the projected Tehran oil bourse, which is tentatively scheduled to open on March 20 to trade Iran's crude and other petroleum products in euros rather than US dollars, is probably not among them.

    The much greater threat to the US currency is the US current account deficit, which ballooned to 7% of gross domestic product
    in the fourth quarter of 2005. The announcement drove the euro up to 1.202 against the US dollar as skittish traders renewed their concerns about the world's fiat currency.
    The opening of the Tehran bourse has been described by a Bulgarian university professor named Krassimir Petrov as ''the ultimate nuclear weapon that can swiftly destroy the financial system underpinning the American empire". Both Petrov and William Clark, writing in a publication called the Energy Bulletin, have suggested that the decision by US President George W Bush to attack Iraq on March 20, 2003, was to thwart then-dictator Saddam Hussein's move to price his crude in euros rather than dollars. They and other writers have been warning that Iran's decision to open a euro-denominated oil bourse places the mullahs in the same danger of being attacked.

    That appears to be an overstretch. First, there is the question of how much crude an Iranian oil bourse would handle. Iran is the world's fourth-largest producer of crude, pumping only about 5% of the world total, and is unlikely to add much to that, according to a Hong Kong-based energy research analyst for a major US investment bank in an interview with Asia Times Online. He prefers to remain unnamed.

    The Iranian fields are mature and over the next decade their production will probably begin to fall, the Hong Kong-based energy analyst says. Other nations that are likely to trade on the Tehran bourse probably would include Venezuela, the world's 10th-largest producer, run by President Hugo Chavez, who is eager to tweak the US nose.

    There appear to be few others at the moment. Saudi Arabia, for instance, has very nearly become a US client state, as has Kuwait. Mexico, Canada and Norway appear unlikely to fall in line in euro trade, Norway especially since neither it nor the United Kingdom uses the euro as its currency. Russian President Vladimir Putin briefly floated the idea of pricing Russian energy exports in euros in 2003, only to have the idea shot down decisively when Prime Minister Mikhail Kasyanov a few days later said: "This topic cannot even be discussed. There can be no administrative decisions here. The market decides … oil is a commodity that is traded for dollars, and if it is sold for dollars, it means that suits the buyers and sellers."

    According to an independent financial research analyst based in Shanghai also interviewed Asia Times Online, a decision by any other country than Iran or Venezuela to trade in euros in Tehran is going to be made on a commercial basis and not a political one. At this time, it is not a commercial decision that appears to make sense despite the fact that a number of Middle East nations, angered by the US decision to block a Dubai state-owned company from buying and operating six US seaports, said their central banks are considering switching their reserves from US dollars into euros.

    According to a March 14 story in The Independent of London, the United Arab Emirates, which includes Dubai, said it was looking to move a tenth of its dollar reserves into euros, and the governor of the Saudi central bank condemned the US move blocking Dubai Ports World from taking over the US ports as ''discrimination''.

    As an example of the dollar's imperviousness to reports of petro-switches, the UAE announcement had almost no effect on world currency markets, whose traders are skittish enough to respond to slight rumors of wheat blight in the Caucasus to shift in and out of currencies with lightning speed. The US dollar, which spent last week strengthening against the euro before the threats by the Middle Eastern central bankers, fell slightly against the European currency by a quarter of a percentage point to a one-week high of $1.1945 - before it retreated later.

    Then there is the question of which crude importers will want to pay in petro-euros rather than petrodollars. Although use of the dollar as the world's fiat currency has been declining for about 30 years, some 70% of international currency reserves, which finance international trade, are in US dollars. Japan and China alone have built up nearly US$2 trillion in US Treasury bonds and other dollar holdings. China in particular has floated trial balloons about switching reserves out of the dollar, only to have the trial balloons decisively shot down by the People's Bank of China, the country's central bank.

    Japan and China now face a quandary. They and their fellow international creditors are as much hostage to their debtor as the US is hostage to them. Any fall in the dollar that would be driven by a switch to petro-euros risks damaging their reserves.

    The peril of driving down the US dollar, either intentionally or unintentionally, was illustrated on July 21, 2005, when the People's Bank of China discarded its strict peg of 8.28 yuan to US$1, valuing its currency against a basket of foreign currencies instead, and allowing the trading band for the yuan to widen slightly, by 2%, to 8.11:US$1. In hours, the yuan rose to its new level. At that time, China was holding US$600 billion in foreign reserves. The 2% move against the dollar cost China US$30 billion in dollar reserves.

    China and Japan are now two of the world's largest importers of crude, although both are dwarfed by the United States, which produces only 7.61 million barrels of oil per day against consumption of more than 20 million barrels, according to the CIA World Factbook.

    Then there is the question of what the holders of euros are going to do with their money. With Britain and Norway, two major oil producers, excluded from the euro currency zone, the euro bond market is dwarfed by the dollar bond market, to the point where there is no place in Europe to invest prospective vast sums of petro-euros.

    By and large, once crude transactions take place in euros, the euros are exchanged for dollars. In November 2000, when Saddam Hussein announced he would switch international transactions from a US dollar standard to euros, a United Nations study estimated that Iraq's initial shift in pricing cost the country at least $270 million in transaction and other costs. Saddam recouped that money when the euro rose 17% against the dollar on other factors.

    This obviously leaves the world's holders of US Treasuries in a quandary. There is little doubt that they would love to diversify away from the US currency, not least because of the growing danger of a dollar collapse. But a possible dollar collapse is much more likely to stem from the unsustainability of the country's gigantic and growing trade and budgetary deficits and the irrational fiscal policies of the Bush administration.

    (Copyright 2006 Asia Times Online Ltd. All rights reserved"
    Jose Silva said...
    Sniper,

    Por acaso não aprecio a arrogância dos falcões americanos. Mas para o caso não interessa.

    Lembra-se, os nativos da américa do norte também eram os maus...

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