Uma péssima notícia

O estado crítico de Ariel Sharon é uma péssima notícia para o processo de paz no Médio Oriente e, por consequência, para o Mundo.

Sharon é um daqueles casos, em vias de extinção, de políticos com uma carreira de décadas. Cometeu vários erros ao longo de seu percurso, alguns deles graves, mas soube ler a evolução tão complexa do problema israelo-árabe, a ponto de ser, neste momento, o político mais bem colocado para conduzir a uma situação de desanuviamento.

A forma como, desde 2002, tem mostrado sinais de saber dar passos inteligentes, mas firmes, rumo à paz tornaram-no uma peça essencial nesse tão improvável objectivo. A corajosa, e totalmente inesperada, retirada israelita de Gaza, foi a maior prova disso. Ao contrário do que apregoam os românticos politicamente correctos, Ariel Sharon estava a seguir, de forma pragmática mas efectiva, o caminho certo, embora, no caso de Israel, esse caminho seja tão estreito, tão estreito, que é impossível não haver tropeções pelo caminho.

A decisão de abandonar um Likud demasiado duro e intransigente foi um golpe de asa digno de um mestre da realpolitik. O seu Kadima iria, por certo, ganhar as eleições, não fosse esta péssima notícia. Uma dupla Sharon/Shimon Peres faria a súmula pragmática entre dois velhos rivais políticos, mas amigos de longa data, que estavam a unir-se em torno do maior desígnio, que é comum aos dois: conseguir, finalmente, dar às novas gerações um Israel pacífico, mas respeitado.

Entre a intransigência do Likud de Netanyahu e as falta de dimensão política do novo líder dos Trabalhistas, Sharon e Peres seriam o novo centro que poderia levar a avanços no processo de paz.

Espero, sinceramente, que aconteça o milagre que os ministros do Governo (ainda) de Sharon pediram esta noite. É que se a morte de Arafat foi uma oportunidade para que o processo de paz fosse relançado, a morte de Ariel Sharon seria uma péssima notícia para o Mundo.

Publicado por André 00:59:00  

0 Comments:

Post a Comment