Micro ou macro-causas
domingo, janeiro 08, 2006
As anunciadas "mexidas" no Teatro D. Maria II, com a remoção de António Lagarto da direcção artística e da direcção do Teatro, e a sua substituição por Carlos Fragateiro, retirado ao híbrido "INATEL/FNAT/Teatro da Trindade", motivaram este post. Ontem à noite cruzei-me com o Augusto M. Seabra e falámos um pouco do que está a acontecer na Cultura. Não acompanho todos as opiniões do Augusto nesta matéria, mas parece-me importante, no contexto actual, ler o artigo dele no Público de domingo, "Golpe no Teatro Atentado às Liberdades", sem ligação, mas repoduzido em O Melhor Anjo. Dele retiro apenas o seguinte:
"Há alguma razão para neste momento demitir a direcção do Dona Maria? Nenhuma. Mais: um secretário de Estado que era defensor de manter Fraústo da Silva é agora o autor deste golpe. E deste modo, o que contradiz ele? O programa do governo, nem mais: "Avançaremos, também, para formas de recrutamento e actividade das respectivas direcções artísticas [dos teatros nacionais] que as tornem menos dependentes da lógica de nomeação governamental directa e mais distintas das funções de administração". E assim coloca em xeque o responsável último, o primeiro-ministro.
O Dona Maria tem uma estrutura aberrante: um teatro nacional que é uma sociedade anónima. Isso determina condicionalismos de gestão, que pela necessidade de equilíbrio financeiro determinam também limites de acção. Em vez de, como lhe competia, mudar o quadro institucional, a tutela desrespeita o compromisso público e político do governo e opta pela nomeação governamental directa. Até quando, senhor primeiro-ministro, permanecerá tal desprezo e irresponsabilidade à sua revelia e não obstante comprometendo-o?
O enunciado de intenções de Carlos Fragateiro é simplesmente sinistro, uma tentativa de dirigismo que é um dos mais graves atentados à cultura e às liberdades no Portugal democrático. Do teatro nacional são banidos Eurípedes, Shakespeare, Racine, Strindberg, Tchekov, Brecht, Pinter, etc, para se inventar uma dramaturgia portuguesa adaptando/"popularizando" outros materiais. No Trindade, Fragateiro "inventou" como dramaturgo Diogo Freitas do Amaral; quiçá teremos agora "A Ceia do Cardeal" de Joaquim Pina Moura.
Mas mais: ele não esconde que a partir do nacional o seu intuito é ocupar a rede dos teatros públicos. Depois da tentativa de dirigismo pedante e "modernaça" de Cunha e Silva temos agora a tentativa de dirigismo "popularucha" de Fragateiro. Está o primeiro-ministro do Portugal democrático e membro da União Europeia disposto a permitir, à sua revelia, esta violação de todos os princípios, esta afronta à herança cultural europeia e à liberdade criativa?
Mas mais: meus caros concidadãos, autores, intérpretes, agentes culturais, este é um momento decisivo de mobilização. Não se trata de defender alguém em particular, mas de uma questão de princípio. Esta é a hora em que se verá se existe ou não o potencial de uma "comunidade artística". Não se venham discutir regulamentos e subsídios se não houver capacidade de dizer não a uma tão escabrosa tentativa de dirigismo - Carlos Fragateiro não pode entrar na Casa de Garrett!"
Adenda: As protagonistas de "A Mais Velha Profissão", de Paula Vogel, presentemente em exibição no Dona Maria - Lia Gama, Maria José, Glória de Matos, Fernanda Montemor e Lurdes Norberto - estarão logo à noite, pelas 20 horas, à porta do Teatro onde lerão publicamente uma "carta" sobre este desagradável assunto.
"Há alguma razão para neste momento demitir a direcção do Dona Maria? Nenhuma. Mais: um secretário de Estado que era defensor de manter Fraústo da Silva é agora o autor deste golpe. E deste modo, o que contradiz ele? O programa do governo, nem mais: "Avançaremos, também, para formas de recrutamento e actividade das respectivas direcções artísticas [dos teatros nacionais] que as tornem menos dependentes da lógica de nomeação governamental directa e mais distintas das funções de administração". E assim coloca em xeque o responsável último, o primeiro-ministro.
O Dona Maria tem uma estrutura aberrante: um teatro nacional que é uma sociedade anónima. Isso determina condicionalismos de gestão, que pela necessidade de equilíbrio financeiro determinam também limites de acção. Em vez de, como lhe competia, mudar o quadro institucional, a tutela desrespeita o compromisso público e político do governo e opta pela nomeação governamental directa. Até quando, senhor primeiro-ministro, permanecerá tal desprezo e irresponsabilidade à sua revelia e não obstante comprometendo-o?
O enunciado de intenções de Carlos Fragateiro é simplesmente sinistro, uma tentativa de dirigismo que é um dos mais graves atentados à cultura e às liberdades no Portugal democrático. Do teatro nacional são banidos Eurípedes, Shakespeare, Racine, Strindberg, Tchekov, Brecht, Pinter, etc, para se inventar uma dramaturgia portuguesa adaptando/"popularizando" outros materiais. No Trindade, Fragateiro "inventou" como dramaturgo Diogo Freitas do Amaral; quiçá teremos agora "A Ceia do Cardeal" de Joaquim Pina Moura.
Mas mais: ele não esconde que a partir do nacional o seu intuito é ocupar a rede dos teatros públicos. Depois da tentativa de dirigismo pedante e "modernaça" de Cunha e Silva temos agora a tentativa de dirigismo "popularucha" de Fragateiro. Está o primeiro-ministro do Portugal democrático e membro da União Europeia disposto a permitir, à sua revelia, esta violação de todos os princípios, esta afronta à herança cultural europeia e à liberdade criativa?
Mas mais: meus caros concidadãos, autores, intérpretes, agentes culturais, este é um momento decisivo de mobilização. Não se trata de defender alguém em particular, mas de uma questão de princípio. Esta é a hora em que se verá se existe ou não o potencial de uma "comunidade artística". Não se venham discutir regulamentos e subsídios se não houver capacidade de dizer não a uma tão escabrosa tentativa de dirigismo - Carlos Fragateiro não pode entrar na Casa de Garrett!"
Adenda: As protagonistas de "A Mais Velha Profissão", de Paula Vogel, presentemente em exibição no Dona Maria - Lia Gama, Maria José, Glória de Matos, Fernanda Montemor e Lurdes Norberto - estarão logo à noite, pelas 20 horas, à porta do Teatro onde lerão publicamente uma "carta" sobre este desagradável assunto.
Publicado por João Gonçalves 14:53:00
2 Comments:
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Os conhecimentos pessoais não são para aqui chamados.
O que se aprecia numa ministra são os actos.
E a sua amiga, ainda ministra, se tivesse um pouco menos de amor à cadeira, já se tinha demitido, tantas já foram as vezes que foi ultrapassada pelo primeiro ministro.
Casa da Música, Colecção Berardo, Centro Cultural de Belém, são os exemplos mais emblemáticos.
Mas existem outros, como provávelmente saberá.
E quanto a irritações, cara Clara, elas existem é à esquerda, não faça confusões.
Ainda esta semana li Eduardo Prado Coelho a enxovalhar, sobre o tema, a Direita. Leu também?