Em boa Companhia
segunda-feira, dezembro 19, 2005
Tomemos uma pessoa inteligente, curiosa e que acredita em Deus. Acrescentemos-lhe uma inclinação para as letras e a especulação intelectual acicatada pela literatura. Demos-lhe depois uma formação sólida em Humanidades com o estudo das línguas latina e grega, logo após a escola primária e o ensino das coisas básicas.
A curiosidade levá-la-á a mais leituras e interrogações. A inteligência a comparações; a Fé em Deus a tentar compatibilizar conceitos, a integrar noções e a procurar soluções.
Em Portugal, durante décadas no séc. XX, havia alguns lugares certos para se desenvolverem estas sementes culturais e religiosas: os seminários da Companhia de Jesus.
Foi aí, num desses lugares de exílio social para a vida religiosa que nos anos 30, entrou um indivíduo chamado Manuel Antunes, vindo da ruralidade da Beira Baixa, para estudar e ser padre. No estudo, foi exemplar. Como padre, deu testemunho da sua fé, por escrito.
Passadas algumas dezenas de anos, esse indivíduo que faleceu em 1985, é alvo da atenção de alguma intelectualidade portuguesa que escreve e ensina.
Na semana que passou, organizou-se um Congresso Internacional sobre o Padre Manuel Antunes, animado por José Eduardo Franco.
Tirando alguns artigos de jornal, aquele a quem José Eduardo Franco chama de "sábio humanista na plenitude do termo" (1), não é personagem de muito relevo para o público em geral. Mas sê-lo-á eventualmente, para os milhares de alunos que o terão ouvido ao longo da vida de professor universitário e ainda para alguns que terão lido um ou outro livro que publicou e os artigos da revista Brotéria, onde escrevia por vezes anonimamente, usando nomes fictícios, em pseudónimo, tal como se faz em blogs...
Hoje em dia, não será moda citar temas da história Antiga e da cultura Clássica, como base de conhecimentos. De mitos e logos; de tragédias e comédias; de cosmos e caos, só curam os indefectíveis que não chegam para sustentar editoras interessadas nesses assuntos.
Assim, vivemos de mitos e lêndias quando poderíamos muito bem viver à sombra destes gigantes que nos legaram o conhecimento e a sabedoria dos antigos que desprezámos ostensivamente e trocamos por um qualquer Walt Disney quando não por um Harry Potter de pacotilha.
E se retomássemos o fio à meada? Podia ser a de Ariadne.
(1) - In JL, jornal de Letras e Ideias de 7 a 20 Dezembro 2005.
Publicado por josé 12:44:00
palhaço! papagaio de tonibler armado em educador xuxialista