sobre a 'outra' corporação...
quinta-feira, novembro 24, 2005
Foi na segunda-feira. Em vão esperei. Esperei uma reacção indignada da 'classe', um comunicado inflamado do Sindicato, até uma declaraçãozita da Alta Autoridade, mas nada. Ninguém disse nada - um silêncio sepulcral. Estou a falar, claro, do jornalista 'sem nome' que também foi apanhado nas escutas com Pimenta Machado, no âmbito de uma investigação criminal. Na passada segunda-feira, pela pena de Tânia Laranjo no Público, ficamos a saber quase tudo, com que políticos falava Pimenta Machado, que promessas lhe terão feito, ficamos até a saber que cozinhava notícias e contra-notícias com um conhecido jornalista (desportivo), mas sobre a identidade desse é que nada, é 'anónimo', como se os leitores (já) não tivessem o mesmo direito de saber das tropelias de (alguns) jornalistas, como o tem em relação a políticos e afins. Como é 'só' um jornalista, não interessa. Rica ética, rica deontologia. Por ser 'jornalista' interessa, pelo menos tanto como os 'outros'. Corporativistas os jornalistas ? Nah...
Publicado por Manuel 11:32:00
Aliás, até chamam "burros" e outros mimos semelhantes, a quem não entende esta distinção que para eles é crucial:
Uma fonte anónima é perfeitamente legítima e aceitável,segundo esses sabidolas, DESDE que o jornalista a conheça e lhe dê crédito. E isso lhes basta, pois ao abrigo do segredo profissional, protegem-se de qualquer sindicância sobre a validade intrínseca da fonte que não raro está inquinada ( de má fé; de interesses inconfessáveis; de interpretações pessoais e enviesada de factos, etc etc).
A um anónimo blogger que nem o será de todo, já não lhe conferem qualquer credibilidade ou legitimidade para escreverem e informarem ou darem opinião, mesmo que a obtenham daquela MESMA fonte ou sejam mesmo uma das fontes possíveis...
Resta assim concluir que o que confere credibilidade ao jornalista encartado será a credibilidade que se confere a si próprio enquanto profissional...e por isso mesmo se autoriza a escrever informação com opinião à mistura, sem travão algum.
O que os bloggers escrevem valerá zero, a não ser que façam por exemplo como o Vital Moreira que escreve baboseiras que leu na LUsa e depois as apaga à pressa, para não ficar mal e nem disso dá conta aos leitores...
Conheço o caso e até imagino quem seja. Se for quem penso, até sei que a transparência só ajudava a desmistificar o sucedido e a explicar porque foi desvalorizado na notícia. Mas como não tenho a certeza, não tenho acesso aos autos, nem quero, prefiro não verberar. Deixo isso para os comentadores anteriores que gostam de escrever sobre o que não sabem.
Enquanto quem lê (ouve, vê) não tiver raciocínio para distinguir o bem e o mal e colocar tudo no mesmo saco, continuará a existir situações corporativas, como acontece noutras profissões.
Não vou referir-me neste comentário ao caso concreto ( nem o meu último comentário tinha esse destino, aliás).
VOu apenas cingir-me à generalidade dos casos que conheço APENAS pela leitura dos jornais.
Tenho a impressão de que os jornalistas em geral e salvo raras excepções, não estão bem preparados cultural e tecnicamente para lidar com certas questões que transcendem o mero noticiar de factos concretos como sejam aqueles que toda a gente presencia.
O jornalismo sofre de um síndroma que à falta de melhor poderia classificar como do "imediatismo".
A notícia tem de sair e sai como sai, às vezes mal feita e desinformativa.
Remédio? O bom jornalista, em primeiro lugar tem de ser alguém com uma cultura e inteligência médias, mas acima da média.
Isso já é um primeiro requisito que dá para eliminar muitos candidatos a bons jornalistas.
Depois, tem de ser independente de certos partidos, grupos ou interesses.
Se se deixa aprisionar( e estou a pensar em vários que assim se perderam), está fulminado na credibilidade quando escreve notícias e mete "buchas" pessoais, na utilização de adjectivos e até advérbios de modo. Ainda hoje pude ler isso mesmo no Público, pelo repórter do costume.
A não ser que escreva como um Hunter Thompson ou um Phillipe Manoeuvre( e por cá não há muito disso), está diminuído na sua competência. Um jornalista nunca deve ser prosélito de uma causa e o que se vê em muitos casos, é a aderência a ideologias e a correntes partidárias. Há jornalistas que se julgam guardiões de uma democracia que duvido muito que entendam bem.
Depois, há o saber específico sobre aquilo que se escreve.
É preciso um módico de conhecimentos. Não é possível escrever sobre Justiça sem conhecer minimamente as suas regras de funcionamento. AS regras escritas e as reais e que são aplicadas com as limitações que existem.
Isso aprende-se lendo, estudanto, mas também conversando e procurando entender.
O melhor trabalho sairá daqueles que melhor perceberem e derem a conhecer à opinião pública.
Um jornalista deveria ficar apreensivo quanto à sua competência técnica para tratar determinados assuntos, sempre que alguém ligado a esses assuntos lhes mostra o logro em que fazem cair os leitores ou o público em geral.
Tenho em mente que a maior parte dos jornalistas são profissionais que se respeitam a si mesmos e procuram ser honestos naquilo que escrevem e comunicam.
Mas isso não significa que o façam com a competência desejada.
E por isso, aí vai mais um requisito que acho fundamental: humildade em reconhecer erros e a emendar a mão.
Por último, só escrevo isto porque sei que ainda valerá a pena em alguns casos, embora também saiba que já há casos perdidos. Por casmurrice e falta de humildade.
já que é jornalista, devia saber que em vez de "continuará a existir situações corporativas, como acontece noutras profissões." se escreve continuarão...