Não consigo ter tantas certezas sobre a questão, mas vindo de quem vem...

«O aborto é uma escolha da mulher. Se ela não desejar ser mãe, o filho não deverá nascer. É uma forma de proteger a criança»

Berry Brezelton, professor da Escola de Medicina de Harvard e autor dos mais respeitados livros sobre pediatria

Eu sei que só daqui a um ano esta discussão vai aquecer, mas nunca é demais reflectir sobre o aborto. Sou pró-escolha e acho que este problema devia estar revolvido há muito tempo. Nenhuma dúvida sobre a a questão da descriminalização: é absurdo, na sociedade em que vivemos, defender que mulheres sejam presas pela prática de um acto que, obviamente, não praticaram com gosto.

Mesmo assim, não consigo ter uma posição tão dicotómica como a que Brazelton apresenta. É verdade que uma mulher que entenda não poder ser mãe não o deverá ser, mas o facto é que, a partir do momento em que há um ser humano em gestação, esta não é uma questão que diga exclusivamente respeito à mãe.

É curioso e, ao mesmo tempo, problemático: à medida que a tecnologia avança, assumir uma posição ética sobre o aborto é ainda mais complicado: veja-se o fanástico projecto da «National Geographic», que mostrou imagens detalhadas, semana a semana, dos períodos de gestação. Quem viu, percebe o que estou a dizer: mesmo um feto com 12 semanas, ou até menos, já tem um esboço muito nítido do ser humano que irá ser.

Desculpem-me os defensores do «sim», nos quais me incluo, mas não consigo defender esta causa com unhas e dentes.

Publicado por André 00:03:00  

3 Comments:

  1. Sónia Sousa Pereira said...
    Ninguém com coração pode defender esta questão com gosto, acredito.

    O mais incrível é ver homens que não imaginam o que é uma gravidez ou o que é ser mãe falarem de alto como se soubessem do que falam.

    Efectivamente, o Brazelton sabe muito bem do que fala, é O especialista da pediatria e daquilo a que chama "relação precoce", cuja leitura recomendo vivamente às alminhas que por aqui deixam comentários ("A relação mais precoce", T. Berry Brazelton, Bertrand G. Cramer - Terramar)

    Perceberão porventura que a própria gravidez indesejada é susceptível de produzir efeitos muito nefastos.

    É caso para recomendar aos dois últimos comentadores que perguntem às suas digníssimas mães até que ponto terão sido desejados...

    S.
    Fernando Martins said...
    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
    Fernando Martins said...
    Como pai que teve esperar quase 7 anos de casamento para conseguir ter um filho, esperado e desejado, e, também como filho desejado, sou adepto do não à liberalização do aborto (IVG é uma expressão asséptica que demonstra a dificuldade que os pró-escolha têm em falar verdade: interrupção segnifica parar algo que depois pode continuar...). A lei está boa como está (na Espanha a lei é a mesma e, por vezes, como toda a gente sabe, o médico toma decisões que o levam a considerar a vida da mãe em primeiro lugar, o que acho aceitável...). Mas por favor, não me venham com tretas, uma vida humana é o mais importante que há, protejam-na, não deixam que o aborto se torne um meio anti-concepcional, como certos políticos pretendem...

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