Licenciar aumenta a auto-estima

Com a Revolução, assumiu-se como fundamental licenciar a maioria da população, ostracizada durante cinco décadas por um regime classista altamente hierarquizado. Enquanto o numerus clausus quintuplicou nas universidades, decapitou-se de forma retaliativa o ensino intermédio e profissional, exautorado e dispensado por putativa inutilidade de qualificar canalizadores, electricistas e demais técnicos na construção de um país progressista, absorto na utopia igualitária. Tragicamente, volvidos trinta anos, continuamos a ter sanitas que obstruem, electrodomésticos que avariam e, mais grave, aumentámos modernamente a nossa dependência da técnica. Ele é torneiras misturadoras, radiadores a óleo controlados à distância, persianas eléctricas, fecho centralizado nos automóveis, etc. No entanto, saíram somente da linha de montagem democrática filões de advogados, arquitectos e professores excedentários que, por manifesta negligência curricular, desatinam a manejar uma ventosa ou a substituir uma lâmpada, não lhes sobejando assim que os empregos mal remunerados preteridos por aqueles técnicos que tanto rechaçavam. E se a alguns licenciados se lhes depara o desemprego, rebaterão os políticos tratar-se de uma forma de empolar, duplicar, o índice de educação: afinal de contas, converteu-se um país de analfabetos num país de licenciados… licenciados. Outorgue-se o doutoramento aos ditos.

Publicado por Nino 22:45:00  

1 Comment:

  1. xatoo said...
    Têm de nos dizer que raio de "Revolução" é essa, que só bosmecês é que vêem,,,
    Vale tudo!, até roubar o vocabulário dos adversários,,,

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