Reforma cultural à espera de Godot
sábado, outubro 01, 2005
O teatro português reclama subsídios estatais para poder subsistir, uma vez que a maioria da sua actividade, que se cinge a representar em palco aquilo que outros criaram a expensas próprias, não desperta o mínimo interesse dos cidadãos contribuintes.
Publicado por Nino 08:51:00
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e qual é a sua opinião em relação à necessidade de investimento do estado (ou da entidade que nos rege e que deve representar os interesses da nação enquanto todo) na formação cultural de um público ou na criação da personalidade cultural de um povo? Esse investimento não tem um ganho nem imediato e que não pode ser medido ao metro, mas não acha que se mais pessoas tivessem visto a peça a que alude no título talvez não tivessem um nível de iliteracia que tem? Iliteracia não tem a ver apenas com ter melhores ou piores notas, mas também saber apreender o mundo que nos rodeia e ser sensível a várias questões humanas e à sua complexidade.
Nos países considerados culturais é gasto muito dinheiro não só a facultar a existência dos meios culturais - seja de que tipo for, um concerto, um museu, uma biblioteca de uma cidade de província - mas também a facilitar a sua difusão, até que uma dinâmica seja criada. Claro que esse esforço é feito à séculos e principalmente durante o século passado onde houve mais desenvolvimentos sociais (onde entre nós houve uma ditadura pelo meio em que as pessoas eram instigadas a não pensar), e hoje em dia vêm-se os resultados no nível de discussão, cidadania, exigência e respeito pelo estado que esses países têm, valores esses tão acarinhados nesta vossa loja.
Claro que isso tudo não se deve exclusivamente a Godot, mas sem ele tenho a certeza que não teriam lá chegado.
Recentemente falou do trabalho da antiga equipa da Casa de Música. Se se fosse medir o interesse público desse investimento, ou perguntar ao "cidadão comum" (seja lá o que isso for) a sua prioridade para o país tal nunca teria sido feito, e a casa da música tocaria concertos rock e seria uma discoteca (talvez estilo Lux). Também fala bastante de música, e a escola superior mais cara do Instituto politécnico de Lisboa é a escola superior de música, onde cada aluno tem o luxo (!!!) de ter um professor só para si durante uma hora, enquanto que em faculdades como a de direito, medicina ou todas as outras um professor chega para um anfiteatro completo.
Ou deverá essa formação cultural (e que não se esgota na cultura mas reflecte-se no nível de inteligência, e daí produtividade, de um cidadão) ser feita pelos meios disponíveis e a que todos sempre acedem, a televisão, ou os concertos rock?
Do Instituto das Artes, saiu Paulo Cunha e Silva para dar lugar ao barítono Jorge Vaz de Carvalho. Se esta nomeção tivesse sucedido no sábado poderiamos ser levados a pensar que era para comemorar o Dia Mundial da Música.
Similarmente, o Professor Diogo Pires Aurélio abandona a direcção da Biblioteca Nacional - onde estava a fazer um excelente trabalho - para dar lugar ao historiador Jorge Couto.
Todos estes directores substitutos, têm - como não poderia deixar de ser - uma forte ligação umbilical com o partido socialista.
Antes destas substituições, a ministra Isabel Pires de Lima já tinha afastado Rui Pereira do Instituto Português do Livro e da Biblioteca, e Pedro Dias da Torre do Tombo. Para os seus lugares foram nomeados respectivamente, Jorge Martins e Silvestre Lacerda.
Depois das promessas pré-eleitorais deste governo no que concerne às polémicas em torno dos «jobs for the boys», e depois de mais estas já habituais práticas de "amiguismo" político, não é de admirar a queda abrupta do partido socialista nas últimas sondagens que foram tornadas públicas.
Como escreveu uma vez o Professor Diogo Pires Aurélio, "o que pode prejudicar a imagem do político não é a falta de proximidade aos eleitores, é a falta de competência".
A política cultural deste governo vai na senda de todas as politicas sectoriais deste governo: «jobs for the friends».
http://geracao-rasca.blogspot.com