Viva a mediocridade!
quinta-feira, setembro 29, 2005
Do Incursões - copia-se um comentário de um leitor - Delfim Lourenço Mendes - que diz...
O "DN" publicou uma pequena notícia do falecimento do Prof. Antunes Varela. Este jornal, vá lá, ainda tem memória. Veja-se o "Público", com pretensões "intelectuais" e que nada diz sobre o assunto... São demasiado "jovens" para terem cultura e uma visão histórica de uma sociedade em que os homens tinham saber, visão da História e honradez!
Paz à sua Alma!
Do "DN"...
Do Código Civil e da cátedra coimbrã
J. M. Antunes Varela
João de Matos Antunes Varela faleceu ontem em Lisboa, aos 85 anos. Natural de Ervedal (Avis), Antunes Varela foi ministro da Justiça entre 1954 e 1967. Licenciado e doutorado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi responsável pela formação em diversas áreas do Direito Civil. A sua obra maior foi a produção e aprovação do Código Civil de 1966, hoje ainda em vigor, com várias alterações e adaptações. Na sua tomada de posse como ministro da Justiça, em Agosto de 1954, Antunes Varela garantia que iria estimular os trabalhos de preparação do novo Código, "tão necessário ao progresso das nossas instituições jurídicas". Depois do 25 de Abril leccionou no Brasil, tendo regressado no final dos anos 70 para voltar à cátedra da Universidade de Coimbra, onde rapidamente se reafirmou como pedagogo e comunicador ímpar. Jurisconsulto dos mais citados no direito português, as suas obras 'Das Obrigações em Geral' e 'Código Civil Anotado' foram, e são, referências incontornáveis para a jurisprudência civilista portuguesa. Afirmando-se como "republicanista", Antunes Varela chegou a ser dado como provável sucessor de Salazar, mas o próprio confessaria anos mais tarde que nunca se terá interessado deveras pelo lugar.
Pouca gente, fora dos círculos concêntricos das profissões jurídicas, saberá quem foi João de Matos Antunes Varela, personagem notabilíssimo que ontem faleceu.
Alguns de fora desse círculo, contudo ainda têm a memória condicionada pelos reflexos das prisões da Pide e não perdoam o facto de ter sido ministro da Justiça de um dos governos de Salazar. Precisamente em meados dos anos cinquenta, de acontecimentos importantes para a história pátria e mundial. Durante o seu consulado no ministério, Álvaro Cunhal encontrava-se preso em Peniche, de onde fugiu em 1960. Em 1953 tinha morrido Estaline, o "pai dos povos"; em 1955 foi criado o Pacto de Varsóvia; em 1957, apareceu a CEE com o tratado de Roma e por cá, ilegaliza-se o MUD, e também as associações de estudantes, com assentimento provável do ministro A. Varela.
Essa faceta de político nunca mais deixará de ser o ferrete para o marcar pela vida fora, obliterando-se de caminho todo um percurso notabilíssimo nas ciências do direito que forjaram um currículo único e de importância fundamental para quem alguma vez pegou num código civil, depois de 1966 ou estudou direito de obrigações e se debruçou sobre a problemática dos contratos.
Isto, como é notório, é assunto menor para os media portugueses. Como notícia relevante, sobre assuntos judiciários, o Público não encontrou melhor notícias para hoje do que mencionar alguns fait-divers.E assim se vai obliterando a memória colectiva e de caminho se abrem alas amplas para a maior mediocridade que só pode desaguar em mais e melhores reality shows! O último, como vimos, assentou arraiais em Felgueiras.
Publicado por josé 23:10:00
4 Comments:
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Como Ministro da Justiça foi responsável pela construção de inúmeros tribunais que, pela qualidade dos edifícios e sua funcionalidade, permaneceram durante décadas e continuam a ser a casa da justiça. Acresce que foi responsável maior - ainda que não único - por essa obra maior que é o Código Civil, um exemplo que contrasta com projectos falhados como o Código de Processo Penal.
Que isto passe ao lado do Público deveria envergonhar o seu director. E quem diz o Público, acrescentaria ainda com mais razão a televisão pública paga pelos contribuintes.