Estamos mais ricos ?
sexta-feira, setembro 09, 2005
Na realidade, a contribuição da procura externa foi decisiva para a melhoria face ao trimestre anterior onde a economia portuguesa, apenas tinha crescido 0,1 %. O contributo da procura externa passou de -1,5 % para uns - 0,5 %, enquanto a procura interna passou de 1,9 % para 1,0 %. Tivesse a procura interna mantido a sua performance do trimestre anterior e estaríamos a falar de um crescimento de 1,4 %. Demasiado bom para ser real.
Em primeiro lugar, o motor do crescimento, foi o consumo privado que cresceu perto de 3,0 %. Entenda-se que foi a antecipação de bens de consumo face à subida do IVA de 19 % para 21 % que levou as famílias a anteciparem a compra de determinados bens e serviços.
Em segundo lugar, a diminuição da contribuição negativa da procura externa só foi possível porque inexplicavelmente, as importações desceram mais do que as exportações. Aparentemente o VAB da Indústria apesar de crescer, é sustentado pelo forte crescimento do VAB do sector energético e água, o que não nos leva a admitir que a oferta interna tenha crescido exponencialmente, capaz de motivar nos consumidores uma procura por produtos nacionais. Um exemplo, o sector têxtil.
Em terceiro lugar, quer o investimento (desceu 4,5 %) quer as exportações tiveram comportamentos negativos, o que ao contrário do que afirma José Sócrates em nada representam a confiança dos empresários em Portugal. Aliás, é o próprio Banco de Portugal que alerta para a contínua diminuição da produção industrial, para a queda da actividade económica, e é o próprio INE, que informa que o investimento em construção desceu 4,6 %.
Tal como num passado bem recente, alerto aqui, como Miguel Frasquilho e bem o faz aqui , o crescimento de uma economia com base no consumo privado, apenas fomenta o consumo de poupanças e aumenta o endividamento das famílias, tendo em conta que a grande maioria dos bens e serviços que consumimos tem por base produtos importados. O impacto de uma subida nas taxas de juro a nível do Banco Central Europeu, traduzir-se-á num aumento do serviço da dívida.
Isto é a análise económica ao relatório do INE.
Prometo, hoje de tarde, explicitar as contradições que este relatório do INE apresenta, e que devem merecer uma explicação coerente de quem de direito.
Publicado por António Duarte 11:16:00
Espero que resistas aos processos de intenções e conspirações (hilariantes, convenhamos) a que o Manuel delirantemente aderiu.
Um abraço
vamos com calma, está ?
Quanto a processos de intenções,a única pessoa que se vê precupada, e bem, com a imagem (abalada) do INE és tu. O relevante não é saber se o 'espalhafato' prévio partiu ou não - de 'dentro' do INE mas sim que o INE - até ao presente, não parece muito preocupado com a 'quebrazita' do tal 'acordo de cavalheiros', torndo-se, objectivamente, cúmplice. Se isto é conspirativo...
Quanto ao miolo da questão, e se bem percebi do que escreveste, o valor obtido foi-o afinal a... olhómetro (tecnicamente designado por "uso de alguma parcimónia") face às inconsistências (também designadas por "indicações contraditórias") patentes, e se o foi, porquê 0,5 ?
Já agora, no que foi ontem publicado pelo INE há algum 'disclaimer' a mencionar e relevar "a única questão relevante que identificámos e que merece particular atenção a nível interno por se ter apresentado aquém das expectativas: o que é feito das importações! Não tendo sido possível obter melhor informação sobre as ditas do que a produzida internamente (e não há outra no país!) além do uso de alguma parcimónia (justificada pelas indicações contraditórias no consumo e na produção) sempre possível e indispensável em análise conjuntura com indicadores"(sic) ? Há ? Ou foi preciso 'conspirar' e 'delirar' para que se reconheça afinal que os números de ontem, como indicador de retomas pouco ou nada valem...
Os números são o que são e cada um faz a interpretação que quer dos mesmos. Uns acham que o copo está meio cheio, outros que o mesmo está meio vazio. Nada a fazer quanto a isso.
Mas os amigos que tanto de alto e de cor falam, bem que se podiam ter dado ao trabalho de verificar um conjunto de coisas.
Em primeiro lugar, que as vendas da indústria para o mercado nacional, recuperaram e muito. Significa isto que os recursos disponíveis são na verdade maiores e não tiveram o exterior como origem.
Outro aspecto importante nesta questão toda é: por que é que estes números constituem uma tão grande surpresa? Os dados disponíveis há mais de um mês atrás, já mostravam a recuperação das exportações de bens, a forte desaceleração das importações de bens, assim como o forte acréscimo do consumo no mês de Julho (devido ao efeito de antecipação de despesa com o aumento do IVA - já conhecido desde fins de MAIO!). Porquê a tão grande surpresa? Terão todos andado distraídos? Estiveram todos de férias e não houve tempo de recuperar o que se foi passando?
É este um crescimento sustentado? Não! O efeito do consumo privado, tendo-se tratado de uma antecipação de despesa, é pontual e reversível nos momentos seguintes. Aliás a informação disponível já para Julho e Agosto mostra isso mesmo. Só não vê quem não quer ver.
O investimento, tão em queda mostra precisamente a não sustentação do crescimento. E a desconfiança das empresas no futuro.
E relativamente à componente externa, a incerteza é grande.
E o "embandeirar em arco" por parte dos políticos é típido em Portugal. Da esquerda à direita.
Acho que para o "miolo" da questão, o anónimo anterior já deu cabal resposta.