O justiceiro andante
quinta-feira, agosto 18, 2005
Na RTP1 passa Pale Rider (Justiceiro solitário, na pobre tradução portuguesa), de e com Clint Eastwood, num filme de 1985.
As pessoas da geração que nasceu nos anos 50, enquanto crianças, tiveram um baptismo cinéfilo pela televisão que dava os seus primeiros passos e passava filmes de Hollywood- como hoje, aliás,- e se prova pelo que passa na tv.
Os filmes versavam as aventuras de justiceiros, misturados com índios e cowboys. John Wayne e Gary Cooper disparavam mais rápido que Billy the Kid e os gangs do Pecos.
A mitologia então adquirida, substituiu a antiga, clássica, referente aos mitos e lendas da Grécia e da Roma antigas que tinham sido o apanágio do imaginário das gerações precedentes. É assim também a história de Pale Rider: um homem solitário, pistoleiro viandante do velho Oeste americano que aparece quando importa e salva os bons do mal, protegendo os fracos e oprimidos do poder do dinheiro e do liberalismo selvagem que aplicava com rigor a lei do mais forte.
Essa mitologia moderna, substitutiva da clássica que enfiava minotauros em labirintos e lá metia os Perseus, deixou os seus traços marcantes na linguagem corrente e nos gostos decorrentes.
As narrativa épicas da Ilíada, Odisseia e demais heróis míticos, foram gradualmente substituidas pela histórias empolgantes e mistificadas da conquista do Velho Oeste. Wyatt Earp não se equipara por um segundo sequer, em filme corrido, com Aquiles ou o bravo Ulisses. Billy the Kid foi eliminado por um Pat Garrett prosaico e de chapéu de aba larga que acabou igualmente a morder o pó.
John Ford nem hesitou na sua cavalgada heróica pelos estúdios em abrir alas para os defensores de Fort Apache .
E por causa dessa mitologia com algumas dezenas de anos, muitos pararam no tempo e como referências para a actualidade, em vez da antiguidade que inspirou escritores e artistas, louvam-se em westerns, para aferrolhar conceitos imediatos. Em vez dos clássicos, escolhem o neo classicismo parolo de Hollywood, à semelhança dos tycoons que importaram para as suas villas o mármore de Carrara, o estilo das colunatas que viram em Roma, jónicas ou dóricas misturadas com colunas à Marco Aurélio.
A ideia do Justiceiro é assim uma dessas referências parolas e que se presta a todos os equívocos perante a exigência linguística e semântica.
O Justiceiro aparece como epítome daquele que faz justiça sumária, sem grandes observâncias legais e baseado apenas em aparências de legalidade.
Há por aí pessoas que julgam possível este tipo solitário de Justiceiros, nos tempos que correm e não se coíbem sequer de atirar a ignomínia a quem a não merece.
Merecem ver o filme e é o único mal que lhes desejo!
Publicado por josé 00:15:00
José Manuel
Veja lá que estive mesmo tentado a meter no labirinto a própria Pandora! Era uma caixa?!
Então, seja.
Quanto bamndo de Pecos estou com o Billy the Kid: disparavam muito mais lento do que John Wayne! Prova o contrário?!
E quem matou Billy the Kid foi...Bob Dylan! Não sabia?! FOi em 1973 e eu vi na capa da Rock & Folk e tenho nostalgia.
Quem matou Billy the Kid foi, Alias, Pat Garrett. E Sam Peckinpah ajudou à festa, pondo em banda sonora Knocking on heaven´s door. Aliás, de Robert Zimmermann.