O justiceiro andante

Na RTP1 passa Pale Rider (Justiceiro solitário, na pobre tradução portuguesa), de e com Clint Eastwood, num filme de 1985.

As pessoas da geração que nasceu nos anos 50, enquanto crianças, tiveram um baptismo cinéfilo pela televisão que dava os seus primeiros passos e passava filmes de Hollywood- como hoje, aliás,- e se prova pelo que passa na tv.

Os filmes versavam as aventuras de justiceiros, misturados com índios e cowboys. John Wayne e Gary Cooper disparavam mais rápido que Billy the Kid e os gangs do Pecos.

A mitologia então adquirida, substituiu a antiga, clássica, referente aos mitos e lendas da Grécia e da Roma antigas que tinham sido o apanágio do imaginário das gerações precedentes. É assim também a história de Pale Rider: um homem solitário, pistoleiro viandante do velho Oeste americano que aparece quando importa e salva os bons do mal, protegendo os fracos e oprimidos do poder do dinheiro e do liberalismo selvagem que aplicava com rigor a lei do mais forte.

Essa mitologia moderna, substitutiva da clássica que enfiava minotauros em labirintos e lá metia os Perseus, deixou os seus traços marcantes na linguagem corrente e nos gostos decorrentes.

As narrativa épicas da Ilíada, Odisseia e demais heróis míticos, foram gradualmente substituidas pela histórias empolgantes e mistificadas da conquista do Velho Oeste. Wyatt Earp não se equipara por um segundo sequer, em filme corrido, com Aquiles ou o bravo Ulisses. Billy the Kid foi eliminado por um Pat Garrett prosaico e de chapéu de aba larga que acabou igualmente a morder o pó.

John Ford nem hesitou na sua cavalgada heróica pelos estúdios em abrir alas para os defensores de Fort Apache .

E por causa dessa mitologia com algumas dezenas de anos, muitos pararam no tempo e como referências para a actualidade, em vez da antiguidade que inspirou escritores e artistas, louvam-se em westerns, para aferrolhar conceitos imediatos. Em vez dos clássicos, escolhem o neo classicismo parolo de Hollywood, à semelhança dos tycoons que importaram para as suas villas o mármore de Carrara, o estilo das colunatas que viram em Roma, jónicas ou dóricas misturadas com colunas à Marco Aurélio.

A ideia do Justiceiro é assim uma dessas referências parolas e que se presta a todos os equívocos perante a exigência linguística e semântica.

O Justiceiro aparece como epítome daquele que faz justiça sumária, sem grandes observâncias legais e baseado apenas em aparências de legalidade.

Há por aí pessoas que julgam possível este tipo solitário de Justiceiros, nos tempos que correm e não se coíbem sequer de atirar a ignomínia a quem a não merece.

Merecem ver o filme e é o único mal que lhes desejo!

Publicado por josé 00:15:00  

5 Comments:

  1. Anónimo said...
    Este José, de facto, nasceu já nos tempos da 'mitologia' de Holywwod. Da antiga que nada tem a ver com esta nada sabe. Então resolve meter Perseus (?!) no labirinto com o minotauro?! Isso, ó caríssimo, é como contratar o Figo para fazer umas fintas na Maestranza de Sevilha. Bem, da 'mitologia' do Oeste também pouco parece saber. Os gangs do Pecos?! Pecos não será uma townzita? Gary Cooper?! Não será Cary Cooper?!
    Anónimo said...
    Clint Eastwood é sem dúvida um dos grandes nomes do cinema actual

    José Manuel
    moicano said...
    não, anónimo, é Gary Cooper; existe é o Cary Grant. Gary Copper é High Noon e não Cary Cooper.
    josé said...
    Ah, caro anónimo! A sua esperteza confunde-me!
    Veja lá que estive mesmo tentado a meter no labirinto a própria Pandora! Era uma caixa?!
    Então, seja.
    Quanto bamndo de Pecos estou com o Billy the Kid: disparavam muito mais lento do que John Wayne! Prova o contrário?!
    E quem matou Billy the Kid foi...Bob Dylan! Não sabia?! FOi em 1973 e eu vi na capa da Rock & Folk e tenho nostalgia.
    josé said...
    Corrijo:
    Quem matou Billy the Kid foi, Alias, Pat Garrett. E Sam Peckinpah ajudou à festa, pondo em banda sonora Knocking on heaven´s door. Aliás, de Robert Zimmermann.

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