A mão esquerda de Deus

De acordo com alguma imprensa, Mário Soares porá termo à farsa da "reflexão" já na próxima semana. Entre aqueles que o ajudaram a alimentá-la encontram-se - segundo o próprio - governadores civis. Como toda a gente sabe, os governadores civis são uma espécie de longa manus do governo nos distritos. No caso de possuírem alguma habilidade e um módico de subtileza política, podem igualmente servir de "cabos" eleitorais. Em suma, a natureza político-partidária da sua nomeação recomenda-os numa campanha eleitoral a disputar com cuidado. Soares não perde tempo com minudências e quer, naturalmente, uma campanha "oficiosa" como candidato do "regime". Daí os jantares e as conversas intimidatórias com as pobres criaturas. E é precisamente aqui que começa a principal diferença de Soares 2005/2006 com Soares 1985/1986. Há vinte anos, a candidatura de Soares tinha o travo da "resistência" moderada à esquerda e à direita "oficiosas", representadas respectivamente no voluntarismo "esclarecido" de Pintasilgo, no ressentimente fraticida de Zenha e na fragilidade "governamentalista" de Freitas do Amaral. Se dependesse dos dois primeiros, Soares não teria saído do Campo Grande. Quando dependeu de Freitas do Amaral e da sua "aposta" em "puxar" Soares contra Zenha para a 2ª volta, Soares ganhou. E ganhou, apesar da maioria "cavaquista" que já nessa altura se começava a desenhar. Hoje Soares parte "colado" à actual maioria partidária de governo, que está longe de corresponder à maioria "eleitoral" que deu a vitória ao PS em Fevereiro. Será também e a seu tempo, o candidato oficial das restantes "esquerdas" para esconjurar o diabo, uma contabilidade mesquinha que até inclui a eventualidade de um "Le Penzito" português para "animar". O que é que de verdadeiramente "novo" têm Soares e os seus provisórios compagnons de route (Jerónimo de Sousa e o do BE) a propôr a um país em crise e às mais jovens gerações? Soares, na realidade, não propôe nada, nem lhe interessa minimamente propôr. Limita-se a impôr a sua veneranda pessoa ao PS e às "esquerdas" em nome de um combate ideológico que dissimuladamente diz não ter lugar. Acontece que, nesse "combate" que é bom que exista, o lugar do "moderado" de 1985/1986 será ocupado por Cavaco Silva. Às vezes a "mão esquerda de Deus" escreve "direito" por linhas tortas. Caberá a Cavaco Silva a meritória tarefa de provar que a democracia não tem donos nem direitos de exclusividade. Que não lhe doa a mão e votos não lhe hão-de faltar.

Publicado por João Gonçalves 13:28:00  

4 Comments:

  1. Anónimo said...
    Meu caro jg

    Apenas duas perguntas simples:

    MÁRIO SOARES
    Qual a razão (real) que levou Mário Soares a decidir candidatar-se a Presidente da Republica?
    O facto de não haver candidato "ganhador" à esquerda?
    Mas se ele contra Freitas do Amaral parte com sondagens inferiores a 10% dos votos, como pode agora vir dizer que Manuel Alegre não é uma hipótese "ganhadora" ? Logo ele ...

    CAVACO SILVA
    O meu caro JG conhece alguma declaração da "esfinge" sobre o que pretende, ou tem pretendido para este Portugal ?
    Pessoalmente, não conheço nenhuma.
    Como uma boa esfinge, deixa que cada um de nós deseje o que ele deveria desejar, e já está, contenta toda a gente, sem "piar".

    E é "nisto" que vamos votar para Presidente da República ?
    formiga bargante said...
    Meu caro jg

    E desde quando é que a repetição do erro é sinal de inteligência ?

    E desde quando é que o erro do passado justifica o erro do presente ?

    Já agora, meu caro JG, não vai sendo tempo de aprender com os erros do passado ?
    Anónimo said...
    E o que é que de novo tem Cavaco e os do costume que o acompanham a propor ao país? Nunca lhe ouvimos uma opinião sobre os grandes temas internacionais, nem tãopouco sobre os nacionais! Só fala de economia...mas isso qualquer assessor economista é capaz de fazer! É isso que você quer na Presidência? Valha-lhe Deus, homem!...
    Anónimo said...
    Clara,
    Nem todos os Portugueses teem a memória tão curta como a Clara.

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