... e sobre a Ota...
terça-feira, agosto 23, 2005
Segundo informações recolhidas pelo PortugalDiário, o parecer que terá servido de base para que a Ota fosse a localidade eleita para a construção do «Novo Aeroporto Internacional de Lisboa», ressalva diversos factos que demonstram a falta de certeza na escolha.
Entre as diversas conclusões pode ler-se que a «ausência de projecto» para a infra-estrutura é uma importante condicionante do «presente parecer». Que alguns dos pontos analisados tiveram uma «abordagem deficiente» - como por exemplo, «economia, ruído, qualidade do ar ou colisão com aves». O que os levava a afirmar que «as conclusões dos estudos preliminares de impacto ambiental não são suficientes ou válidas como elementos e base para a tomada de uma decisão».
in Portugal Diário
Eu até nem queria colocar em causa o nível de literacia de Mário Lino, Ministro das Obras Públicas, mas...
Publicado por Manuel 14:33:00
Alface
PS Pelo que dizem, a incompetência e a improvisação grassam...
O artigo em questão, faz uma leitura parcial e enviezada dos relatórios em questão e selecciona exclusivamente as frases que suportam a tese do autor. A título de exemplo, nos ditos relatórios existem referências ao impacto positivo da implantação do aeroporto na economia local nomeadamente em termos de emprego.
A referência a este artigo deixa-me ainda mais perplexo pois não compreendo o objectivo do autor do "post". Se se pretende demonstrar que o novo aeroporto é desnecessário o argumento é desmentido pelas afirmações sobre o impacto negativo na "qualidade do ar à escala local e regional, verificando-se violação de limites legais imperativos em algumas situações". Este impacto não deriva específicamente da localização do aeroporto mas da sua existência. Ora se esse impacto é negativo numa zona com fraca densidade populacional como é o caso de Rio Frio sê-lo-á por maioria de razão numa cidade como Lisboa.
Os relatórios incluem por exemplo os perfis de ruído resultantes do tráfego de aviões e a população afectada (31 mil pessoas para um tráfego de 25 mpa no caso da Ota e 15000 para Rio Frio). Seria interessante que se comparassem estes números com os obtidos mantendo-se o aeroporto na Portela.
Quando se diz que "as conclusões dos estudos preliminares de impacto ambiental não são suficientes ou válidas como elementos e base para a tomada de uma decisão", omite-se um aspecto essencial: os estudos (e o mandato da comissão) destinavam-se a seleccionar qual dos locais - Ota ou Rio Frio -se mostrava mais adequado e não discutir sobre a necessidade (ou não) de construir um novo aeroporto.
Repito o que afirmei há algum tempo atrás. Pode discutir-se à luz de factores circunstanciais a oportunidade da construção de um novo aeroporto. Pode contestar-se a escolha do local (neste domínio o EPIA deixa em aberto muitas questões). Todavia nenhum dos defensores da manutenção do status quo demonstrou que a Portela constitui uma solução melhor. Além disso é hoje claro, analisando da evolução dos perfis de tráfego da Portela que esta solução é insustentável num horizonte temporal além de 15 anos, exigindo enormes investimentos apenas para assegurar a manutenção de padrões mínimos de operacionalidade, sem obstar a nenhum dos inconvenientes estruturais (ruído, poluição, risco de acidente, etc.).
A julgar pela utilização selectiva que se faz do conteúdo dos estudos já disponíveis, parece que o objectivo não é tanto o esclarecimento da opinião pública e um debate intelectualment sério sobre esta matéria, mas antes "flagelar o inimigo político" do momento.
" Mas a expansão do actual aeroporto de Lisboa pode ter um impacto directo em milhares de residentes das zonas envolventes. Segundo um "Estudo Preliminar de Impacto Ambiental", a que o PortugalDiário teve acesso, já referido pelo ministro das Obras Públicas, Mário Lino, teriam de ser realojadas, pelo menos, dez mil pessoas.
No estudo elaborado pela Naer - Novo Aeroporto SA, em 1999, defende-se que os actuais 520 hectares ocupados pelo aeroporto da Portela não são suficientes para a criação de uma nova pista de aviação, indispensável para a manutenção desta infra-estrutura. Isso significa a expropriação de, pelo menos, 80 hectares de zona urbana. O que afectaria 1920 habitações, 47 armazéns, dez instalações industriais, três escolas e uma igreja, com o realojamento de dez mil pessoas. E o aumento do ruído afectaria cerca de meio milhão de pessoas, indica o estudo.
É preciso ter em conta que estes números se referem ao ano de 1999, altura em que foi apresentado. Ou seja, considerando o crescimento da cidade, principalmente nos arredores do aeroporto, é provável que estes números sejam actualmente superiores. Basta constatar o crescimento de bairros próximos como Lumiar, Camarate, Telheiras, Olivais ou Alta de Lisboa. "
Dá portanto para escolher, não é? Pega-se num bocado da prosa e parece que "definitivamente" se enterrou a oposição. E vice versa.
Tudo muito definitivo.
E intelectualmente honesto, claro.