Anonimatos

Nos últimos dias os blogues anónimos têm sido atacados, por vezes mesmo especificamente este.

A questão não é nova e é mesmo recorrente. Sou dos que, nesta casa, não assina com o nome próprio. Outros fazem-no, e bem, e assinam aqui com o mesmo nome com que fazem a sua vida profissional, escrevem nos jornais e ostentam no Bilhete de Identidade.

Opções pessoais que, parece-me, pouco contendem com o grau de responsabilidade de cada um ou com a acuidade do que se escreve. Sou, felizmente, ilustre desconhecido. Suponhamos que me chamo Alexandre Costa, ou Ricardo Andrade, ou outra coisa qualquer. Assinar aqui com esse nome ou com o meu nome de fantasia fará alguma diferença?

Não o faz certamente quanto ao "normal e saudável exercício da responsabilidade cívica e em alguns casos criminal" como pretende David Justino.

Concretamente quanto à responsabilidade criminal, cumpre talvez esclarecer duas coisas.

Em primeiro lugar, se alguma queixa por difamação ou crime quejando for intentada contra a incerta pessoa por detrás do meu nome de fantasia faço questão de me apresentar voluntariamente, com o BI em riste. Experimente o Ex-Ministro da Educação e verá. Em segundo lugar, blogando eu, como quase todos, ora do trabalho, ora de casa, à Polícia Judiciária não lhe será dificil encontrar-me. A Netcabo fornecerá a minha morada de casa à primeira solicitação devidamente justificada.

O anonimato, portanto, e falo por mim, não é protecção contra a lei, nem capa de desresponsabilização. Esta relação simbiótica abusivamente afirmada e insinuada entre anonimato e práticas difamatórias, injuriadoras e afins já cansa. Estamos entendidos?

É, isso sim, capa de protecção contra aqueles que procuram mais a assinatura do que a compreensão do texto, para os que odeiam não saber se podem ou não discordar do Manuel ou do Irreflexões ou do Ninno, porque não sabem quem ele é, que teias de influência tem ou não, a quem "pertence" ou quem lhe "pertence". Em suma, aquilo a que gosto de chamar o ponto de referência nacional-bacoco do quem é quem.

Sentem-se perdidos, é o que é. E por mim, é mesmo assim que devem continuar.

Publicado por irreflexoes 12:12:00  

12 Comments:

  1. josé said...
    Comentei agora mesmo no blog do Davod Justino, o seguinte:

    "Caro David Justino:

    Insisto em retomar o assunto do anonimato e dos perigos que ele comporta.

    Diz que não há verdadeira liberdade de expressão sem responsabilidade cívica e ética. O que significa isso, trocado por miúdos conceptuais?
    A liberdade de expressão deve ter barreiras? Depende.
    Se for numa mesa de café onde todos falar abertamente, entre amigos,conhecidos ou menos ainda, não tem. Cada um diz o que lhe apetece, com o modo de falar que usa ou com abusos de linguagem que ninguém leva a mal. Diz-se mal deste ou daquele com o maior dos à-vontades; dá-se largo curso a boatos e a fofocas; diz-se o que vem á cabeça, etc.
    Há alguma responsabilidade cívica ou ética nesses lugares de convívio?! Pouca ou nenhuma, se a conversa não atingir nenhum dos presentes...e palavras leva-as o vento.

    Agora pensemos porque razões é que as pessoas falam de certos assuntos que não vêm nos jornais. A razão quanto a mim, tem a ver com a estrita necessidade de as pessoas falarem sobre isso, passe a tautologia.
    É preciso um forum para se discutir porque razões obscuras se opta de repente por construir grandes obras públicas, como a OTA e o Tgv; porque razão um ministro da educação não faz tudo para introduzir de novo o ensino técnico ou para discutir os pormenores escabrosos do caso da Casa Pia. A sociedade em geral, a que temos em Portugal, pelo menos, desde que lhe tenha sido dado o ingrediente espicaçante fundamental que se liga ao mistério e à intriga,ou até por simples voyeurismo, quer saber mais. Esses ingredientes são dados pelos media em geral que vivem disso, aliás.
    As notícias sobre a Casa Pia interessariam para alguma coisa ao público em geral, se não estivessem envolvidos indivíduos notáveis?! Para resposta, basta olhar para o caso dos Açores.
    Assim, como os media não podem fornecer a informação toda, mesmo que a saibam mais completa do que a que podem transmitir, as pessoas quererão sempre saber mais.
    Na política, leia-se, no exercício do poder executivo e não só que a política confere, o fenómeno atinge uma exponencialidade devastadora.
    Em democracia, tudo o que diz respeito aos cidadãos em nome dos quais se exerce o poder, deveria ser público, mas obviamente não é.
    Quando se suspeita que determinados indivíduos, em número cada vez mais alargado, se serve do poder para enriquecer e tomar lugares de vantagem competitiva, quem é que deveria fazer o papel de watchdog?! A imprensa! EM primeiro lugar, porque os tribunais são o que são e a polícia e o MP são o que são.
    Se a imprensa não cumpre satisfatoriamente esse papel fundamental de mostrar aos cidadãos como se governa em nome deles, quem o irá fazer?!
    COntenta-se com a palavra "ninguém"?!
    Eu não me contento.
    Mesmo correndo o risco de acusar injustamente, a imprensa também o faz e tem uma desvantagem: não é desmentida na hora e em directo e nos blogs pode ser.
    OUtro aspecto importante tem a ver com o exercício do direito de opinião: emitir uma opinião ou um juizo de valor, vale o que vale se não for fundamentada e mesmo assim...

    Se um burgesso anónimo qualquer se limita num comentário a um insulto gratuito que valor tem isso para o ofendido? Zero, meu caro David Justino! Zero, vírgula zero!
    Só ofende mesmo quem pode e não quem quer.
    Reparo que nos comentários que vi escritos na minha Loja aparece um ou outro anónimo que o insulta. Que vale isso?! Nada, meu caro.
    Se aparecer um anónimo a dizer que V. fez isto ou aquilo e V. não fez, tem imediatamente uma de duas atitudes que pode tomar: responder ou ficar calado.
    A mim já me aconteceu insultarem-me soezmente e aguento, porque apesar de me chatear, não me atinge a honra.
    A blogosfera não pode nem deve domesticar-se no tal "respeitinho". É essa a sua força. Se reparar nos blogs, diz-se muita coisa e pouca coisa se aproveita quando quem o diz não tem argumentos.
    Desabafa-se. Dá-se livre curso ao repentismo, ao imediatismo opinativo.
    Mesmo assim, há uma parte de informação e opinião que vale a pena ler porque ajuda a reflectir.

    NO meu caso concreto, e é a primeira vez que o escrevo, sou magistrado de profissão.
    Que é que isso tem a ver com aquilo que escrevo? Nada ou quase nada. Não faço aqui nos blogs uso da minha profissão a não ser como experiência. Não falo nem escrevo de processos em que intervenho; não falo nem escrevo de assuntos que envolvem directamente a minha vida profissional. É essa a minha ética e ela vale por si.
    É por isso que escrevo como anónimo. Para preservar a minha identidade, que essa sim, poderia ser aproveitada de outra maneira para me atingir e atingir as instituições, como aliás já sucedeu e que não pude evitar. Nesses casos,denuncio e explico.

    No seu caso, a notoriedade advém-lhe do facto de ter sido governante.
    Porém, agora já não é assim. Se leio o que escreve não é só por ter sido isto ou aquilo, mas pelas opiniões que transmite e pelo facto de elas poderem ter mais interesse por ter sido isto ou aquilo. Há portanto uma diferença entre os anónimos e os que não o são assumidamente. Mas não queiramos que todos sejam anónimos ou que todos o não sejam.
    VIva a diversidade!"
    Anónimo said...
    Meu caro Irreflexões

    Não posso estar mais de acordo consigo.

    Num país de redes de influências nada claras, de grupos de interesses ainda mais escuros, não conseguirem identificar (para pressionar ou perseguir) quem os denúncia, isso é que os deixa muito preocupados.

    Claro que é facilimo identificar os ditos "anónimos". Os autores pretendem sêr anónimos, mas os computadores não são. Cada um tem um número individual, assim a modos de um nome registado no registo civil.

    Portanto, a responsabilidade criminal ou civil não é nada difícil de funcionar.

    Quanto às pressões, perseguições e outras formas de condicionar, aí já se torna mais difícil.
    Nino said...
    Parabéns pelo artigo.

    Poderia acrescentar que, no que me concerne, não estou disponível para escrever fora deste espaço (que é o ganha-pão de toda a minha família) ou aceitar ser nomeado para um cargo político de refugo (os melhores lugares já foram apanhados), por isso enjeito quaisquer convites probos de revelação. Continuarei no "aninnimato".
    josé said...
    Sem dúvida que um dos aspectos que incomoda os "renomados" por oposição aos anónimos, é esse agora referido.

    Porém, deveria atentar-se que nem sequer se trata de uma anonimato puro, pois só mesmo no caso dos comentários sem qualquer nome, se pode dizer que estamos nos domínio do anonimato.
    Este anonimato restrito é que permite o maior abuso de linguagem e é óbvio também que as pessoas fazem um largo uso dessa vantagem sempre que entenderem. Que valor tem os insultos que provêm por essa via de esgoto? Zero! Quem se deve preocupar com o número zero? Os matemáticos das probabilidades mesquinhas.Quem lê blogs, não deve ter esse rigor aproximativo à nulidade.

    Assim, retomando, o que incomoda os "renomados"( antónimo de anónimos) dos blogs não deveria ser o anonimato. Se o não é, uma das razões pode muito bem ser a aduzida.

    COmo se pode ver, quem assina com pseudódimo constante, acaba por assumir uma identidade. Não sendo a verdadeira que vem no BI é tão ou mais respeitável que a outra, se tal lhe conferir o direito de aceder à liberdade de expressão.
    É sabido que o nome próprio, com referência à casa de morada de família, é o caminho mais directo para os poderes instituídos da mais diversa forma e feitio, exercerem o seu poderzinho de repressão.
    Qauem denuncia os "anónimos" que o não são verdadeiramente, como cobardes, esquece este pormenor ou quer exactamente que não se lembrem dele...precisamente para permitir o exerciciozinho repressor que permanece inalterado na idiossincrasia de raiz fascista.
    E então, à falta de melhor argumentação e precisamente porque não pode usar a que lhe seria mais natural e verdadeira, utiliza a palavra responsabilidade.
    Responsabilidade?!!
    Responsabilidade tem quem não é parvo para usar o nome próprio,com identenficação precisa, escrevendo o que escreve, pois todos sabemos que os poderes difusos deste Portugal pequenino estendem-se por toda a parte, porque são imensos como pequenos deuses caseiros que são.
    E quem trabalha numa dependência hierárquica tem sempre um chefe. Quem trabalha dependendo de encomendas tem sempre clientes que exigem; quem trabalha dependendo das boas graças dos políticos executivos tem medo como ninguém et pour cause; quem trabalha numa função pública está obrigado ao direitinho e caladinho da ordem etc. etc.

    Vamos então amordaçar toda uma categoria generalizada de pessoas, a maioria delas tão bem formadas como todos os outros "renomados", ao silêncio compulsivo em nome do anátema e caça ao "anónimo"?!

    Os dislates, disparates e outros àpartes, ficam com quem os produziu e se o nome que assina é reconhceível, não será anónimo.
    Será quando muito, pseudónimo. O que é muito diferente; tem tradição em todo o jornalismo e está mais do que explicado e justificado quanto ás razões profundas para que tal aconteça.
    Haja senso!
    josé said...
    A questão chave, nestes assuntos de blgo é a...credibilidade!

    O que se escreve no Causa-nossa tem credibilidade?!
    O que se escreve no Abrupto tem credibilidade?!
    O que se escreve no Blasfémias tem credibildidade?!
    O que se escreve no DO Portugal Profundo tem credibilidade?!
    O que se escreve por aí, no BLoguítica ou noutros até com mais interesse e que agora não me ocorrem, tem credibilidade?

    Cabe ao leitor decidir.É essa a resposta. Liberalismo puro e duro!

    Quanto ao causa-nossa, a credibilidade de Vital Moreira advém-lhe de se ser um dos "renomados"?!
    Então punhamos a questão ao contrário:
    Que valeria o causa nossa se o Vital fosse um Vítor qualquer?! Alguém o leria com o mesmo interesse e atenção?!

    Que valeria a opinião de um Vítor, pseudónimo de Vital, se escrevesse sobre a OTa como escreveu, a defender propostas governamentais?!
    Alguém lhe ligaria um chavo de atenção?!
    É esse o problema dos "renomados": vivem na blogosfera do nome que tem!
    E não suportam, intrigantemente, quem escreve com pseudónimo...
    Terão dor de cotovelo, por não poderem fazer o mesmo?
    Podem, caros renomados! Podem sempre!
    Experimentem e verão!
    Anónimo said...
    Parabéns pelo texto brilhante. Estou totalmente de acordo. Considero que a opinião de David Justino é um atentado á liberdade de expressão. É opinião que quem se julga guardião de alguma coisa. Era o que faltava uma pessoa não assinar como bem entender. Não existe hoje em dia essa coisa do anonimato escondido, não vê isso quem não quer ou anda muito distraído. Há é muitas vezes um "ressabiamento" em quem mais o ataca. Esse sim, não tem mais nada que fazer.
    crack said...
    Excelente post.
    «ponto de referência nacional-bacoco do quem é quem» - está tudo dito.
    Anónimo said...
    Venerável Irmão José, acerca do seu comentário da 1:16 PM:

    Você tem toda a razão, acho eu. Se o Vital Moreira assinasse os posts como João Silva ninguém ligava pevide ao que ele escreve.

    Esqueceu-se de acrescentar que, ironicamente, a falta de anonimato da Ana Gomes tem o efeito rigorosamente oposto...
    E said...
    Muito bom o post do josé.
    "Liberalismo puro e duro!".

    Sem querer fazer publicidade, isto pode vir a ser útil.
    Gomez said...
    Para o recorrente peditório em que se discute o anonimato, ou os nicks, na blogosfera, não tenciono voltar a dar. Aqui fica então um último comentário.
    Não julgo que seja sequer polémico, do ponto de vista jurídico, que o direito geral de personalidade comporta um verdadeiro “direito ao anonimato” nas intervenções no espaço público, se for essa a legítima intenção do titular. Ou que o exercício da liberdade de expressão – sem qualquer abuso da dita – em muitos casos pressupõe o recurso ao anonimato para poder ser efectivamente posto em prática. Ou que existirão incontáveis razões de legitimidade indiscutível, para que alguém opte pelo recurso ao anonimato no espaço público (ex. evitar confusões entre opiniões pessoais e instituições a que se esteja ligado, evitar formas de conquista de notoriedade deontologicamente discutíveis face às normas de certas profissões, ...).
    Por isso, o recurso ao anonimato / nickname, é opção que não só não deve ser excluída ou contestada, a priori, como – é preciso dizê-lo com clareza - corresponde ao exercício de um direito. Será, até, uma violação desse direito – e como tal geradora de responsabilidade – por ex. a divulgação não autorizada da identidade de um blogger anónimo, sem qualquer fundamento que legalmente o justifique.
    Também no plano ético nada obsta à ocultação da identidade, desde que ela não sirva para a prossecução de fins reprováveis ou para tentativa de desresponsabilização do autor pelos seus actos.
    O que é legal e eticamente vedado é a prática de ilícitos, civis e/ou criminais, nas intervenções no espaço público - sejam elas anónimas ou não.
    O anonimato – mas não só o anonimato – pode dificultar a investigação, prova ou sancionamento desses ilícitos? Pode. Como inúmeras outras circunstâncias também podem, em especial na internet. Mas não é impedimento absoluto e isso não pode servir para pôr em causa o direito dos que querem intervir anonimamente sem incorrer em qualquer ilícito.
    Critiquem-se / sancionem-se as condutas que o mereçam. Não se invente uma capitis diminutio para quem, sem violar quaisquer direitos de outrém, legitimamente não quer, ou não pode, ou não deve, assumir a sua identidade civil na blogosfera.
    Aliás, a recorrente fobia com a identidade dos bloggers anónimos insuspeitos da prática de ilícitos, parece não passar, em geral, de retórica de vencidos, ou tentação de inquisidores, ou voyeurismo puro e simples.
    As opiniões devem ser julgadas pela sua valia intrínseca, independentemente da identidade de quem as emite. Ponto final.
    Só aqueles que não têm factos ou argumentos para contrapôr se preocupam em aduzir questões pessoais, numa tentativa desesperada para desvalorizar as opiniões do contraditor (como lamentavelmente se constatou, uma vez mais, em certos debates recentes) - é a retórica dos vencidos.
    Há também os aprendizes de inquisidor, que querem simplesmente calar vozes incómodas, sabendo que as boas razões que ditaram a sua opção, legítima, pelo anonimato, ditarão o seu afastamento do espaço público, se aquele fôr comprometido.
    O resto, parece ser voyeurismo, que nada justifica e só qualifica quem insiste em o praticar.
    Tenho dito.
    P.S. - Também sempre disse que me identificaria perante quem tenha razões para me exigir responsabilidades pelas m/ opiniões.
    josé said...
    Caro Gomez:
    devido à qualidade e interesse ( embora o diga em causa própria) do seu comentário, vou colocá-lo em postal.
    Nunca é demais salientar certos aspectos que certos jornalistas teimam em não entender.
    Anónimo said...
    Ainda hoje ouvi numa TV uma "Personalidade" dizer que consultou uma série de Personalidades...
    E os anónimos?
    Os anónimos são consultados no dia das eleições.
    Mas amanhã (indefenido) numa daquelas manifestações espontâneas(?), dirá o Jornalista:
    -Estavam algumas Personalidades, tal e tal, (renomados, como diz o José), e muita gente anónima!
    PORRA! Afinal os anónimos sempre servem para alguma coisa.
    Os anónimos, no pensar desses senhores, são carne para canhão!

Post a Comment