A discussão e aprovação do Orçamento de Estado Rectificativo para 2005 que hoje decorre no Parlamento está-se a revelar um espectáculo ainda mais confrangedor que o habitual. Grassa inimputabilidade.
O actual governo, coitado, que nunca suspeitou de nada nem vinha preparado para estas coisas, culpa o anterior acenando com números, por exemplo sobre os encargos com a titularização das dívidas fiscais ao Citybank e sobre a transferência do fundo de pensões da CGD, das operações que "credibilizaram" os OE anteriores e os fizeram cumprir o défice, e fala da insustentabilidade do OE em vigor da dupla Santana/Bagão, já as oposições à esquerda deliram e à direita desconversam.
O facto é que se o PS não aboliu - e mal - as SCUTS em quase quatro anos o anterior governo também não, o facto é que muitas das reformas, chamemos-lhe assim, que o PS se propõe, como pode e sabe, a fazer só fazem sentido porque a governação anterior que começou com Dr. Barroso e acabou com o Dr. Lopes foi, na melhor das hipóteses, sofrível. O facto é que ninguém quer falar verdade, e assumir as suas próprias responsabilidades e opções. Chega a ser penoso ouvir algumas alminhas, figuras gradas da anterior governação dispararem em todos os sentidos, onde estavam, estiveram, afinal, nos últimos anos ? Como é lamentável ver a figura triste de anjinhos que fazem membros responsáveis deste governo quando fingem surpresa.
Portugal precisava de um debate sério, e responsável, sobre contas públicas, mas isso só será possível quando todos, repito, todos, estiverem preparados para assumir as suas próprias responsabilidades.
Dito isto, espera-se até ao final do dia um pouco de consequência por parte do PS e do actual governo. Se, como dizem, parte das medidas de austeridade nomeadamente o aumento de impostos se devem à má qualidade do OE/2005 então que digam claramente que tendo esse Orçamento sido aprovado com o anterior governo já dissolvido, tendo sido os seus vícios plenamente apontados à época, a culpa - a responsabilidade política - é do Presidente da República, Jorge Sampaio, que irresponsavelmente e contra o mais elementar bom senso o aprovou. A não ser, claro, que seja tudo conversa da... treta.
Publicado por Manuel 13:13:00