Curiosidades de além mar

Corrijam-me se me engano.
Nos Estados Unidos da América o combate ao défice orçamental do Estado Federal é motivo de distinção política: os republicanos estão-se pouco lixando com o amanhã e rebentam alegremente com as finanças públicas, reduzindo os impostos que recaem sobre os rendimentos dos mais abastados e investindo exorbitâncias na área da defesa, por exemplo, enquanto minam tudo o que é função social do Estado (cuidados de saúde, segurança social, meios de comunicação social públicos, escolas públicas...), bem como, o estatuto dos funcionários públicos retirando-lhes regalias e direitos adquiridos.
Por lá são apenas os liberais (democratas) que erguem a bandeira do equilíbrio orçamental propondo a reposição da carga fiscal do passado, racionalizando as despesas militares (tentando pela via diplomática arranjar cofinanciamento para as soluções das aventuras militares que desencadearam quase unilateralmente), liberalizando o mercado dos medicamentos (um pouco na linha do que o actual governo português se está a preparar para fazer) e reafirmando o carácter universal dos cuidados médicos, entre outros. Reconhecem contudo que o equilíbrio das contas públicas é condição necessária para ser possível ter um estado interventivo e capaz de assumir as responsabilidades sociais e o carácter regulador, políticass mais caras à esquerda. No ar fica mesmo a sensação de que o desequilíbrio orçamental que George W. Bush iniciou ainda antes do 11 de Setembro de 2001 faz parte da agenda conservadora: não há nada mais eficaz do que rebentar com o Estado levando-o ao ponto de serem necessários varios anos de políticas com o fito quase exclusivo de equilibrar as contas para garantir que o Estado não terá condições de meter o bedelho onde os lobbys que dominam as políticas conservadores não querem.
Sendo ou não verídica esta interpretação o resultado prático das políticas dos republicanos terá inevitavelmente esta consequência.

Por cá, é virtualmente impossível perceber diferenças a este nível. Por cá, seguramente a esquerda não teve o seu Bill Clinton que conquistou um superavite em período de crescimento económico. Por cá todos, da esquerda à direita se preocupam com o défice, todos são corresponsáveis pela situação actual, todos apresentam as mesmas (más) soluções para o problema.
Pior que o ridículo tabu de Cavaco sobre as presidenciais (mais um, igualmente revelador do calibre da figura) é o tabu latente que se encontra na esquerda em querer enfrentar o problema pelo lado das despesas estruturais e definir e assumir os seus valores políticos.
Tão cedo não haverá outra maioria absoluta do PS, perante o desafio nacional existente e o singular ciclo eleitoral (com mais de três anos de poder executivo após as próximas autárquicas e presidenciais) tudo o resto deveria ser pouco mais que insignificante

Políticos com vistas largas perceberiam que esse também é o melhor interesse do partido socialista e, acima de tudo, do país.
(.)

Publicado por Rui MCB 22:45:00  

7 Comments:

  1. Anónimo said...
    Tralala... :o) o chamado "recorde(em valor absoluto)" á um ano foi de 3,5% do PIB.

    Este ano talvez por causa da descida de impostos e consequente dinamismo da economia arrecadou-se mais dinheiro do que nunca para os cofres dos EUA.

    Bush's Budget Update May Show Deficit Goal Being Reached Early

    July 11 (Bloomberg) -- President George W. Bush's administration will report this week that surging tax revenue is shrinking this year's budget deficit from the record 2004 level, possibly by as much as $90 billion, giving him a shot at fulfilling his deficit reduction promise three years early.

    With tax revenue running $1 billion a day ahead of the 2004 pace in late April and May, the deficit will likely decline to about $325 billion from $412 billion last year, according to the Congressional Budget Office and private forecasters such as Stephen Stanley, chief economist at RBS Greenwich Capital in Greenwich, Connecticut.

    ``An expanding economy, creating more receipts, is putting us on a very good path to deal with our deficit,'' Treasury Secretary John Snow said at a press conference in Calgary on July 8. ``It's pretty clear now the path we are on will take us below the president's initial target.''

    Bush promised during his election campaign last year that he would pare the annual deficit to about 2.25 percent of the nation's gross domestic product by 2009.

    As recently as February, the government was projecting the deficit would rise this year to $427 billion, or about 3.5 percent of the nation's gross domestic product. Some economists, including Mike Englund of Boulder, Colorado, research firm Action Economics LLC, now predict the shortfall will drop to 2.5 percent of GDP this year and as low as 2.0 percent next year. That would mean a deficit next year as low as about $250 billion.

    Revised Estimate

    Joshua Bolten, director of the White House Office of Management and Budget, will release the government's revised estimate for the fiscal 2005 budget deficit on July 13. The Bush administration's estimate likely won't be any lower than the $325 billion forecast by CBO, said Pete Davis of Davis Capital Investments. Bush's administration has a record of overestimating deficits ``and I don't see any particular reason that he would deviate from that practice,'' Davis said.

    ``CBO always is more accurate, both short term and long term,'' said Stanley Collender, managing director in Washington of Financial Dynamics, a business-consulting firm. ``OMB doesn't get credit for being right. Their job is to show the president in the best possible light.''

    In the first eight months of the fiscal year the deficit was $272.2 billion, down from $346.3 billion at the same time last year, the Treasury said in a June 10 report. The monthly deficit fell to $35.3 billion in May, a bigger improvement than economists expected and the smallest gap for the month since 2001. Revenue rose 32 percent, with tax receipts from individuals surging 88 percent from May 2004, the biggest jump in five years. Spending increased 5.7 percent.

    ``Given the pace of income, wage and salary growth, there'll be plenty of money in the coffers,'' said Rich Yamarone, director of research at Argus Research Corp. in New York. ``I wouldn't be surprised with a $100 billion narrowing.''

    Deficits Since 2002

    The U.S. has run deficits each fiscal year since 2002 amid increased defense spending after the September 2001 terror attacks, tax cuts and rising costs for social services such as Medicare. The government reported annual budget surpluses from 1998 to 2001.

    Bush and his Republican allies can claim bragging rights for bringing the budget down in time for midterm elections, said Michael T. Darda, chief economist at MKM Partners LLC in Greenwich, Connecticut. Darda credits economic growth brought on partly by the 2003 tax cuts, which reduced the tax rate on capital gains to 15 percent from 20 percent and cut the rate on corporate dividends to 15 percent from 38.6 percent.

    After the 2003 tax cuts, ``that's when the economy really kicked into high gear,'' he said. The White House, he said, is ``definitely entitled to crow a little bit. You'd think they'd do a victory lap.''

    Not Assured

    A huge decline in the deficit next year isn't assured. One reason for the surge in tax revenue this year was a 10 percent increase in compensation in last year's fourth quarter because of large year-end bonuses, which probably won't be repeated this year, Lehman's Harris said.

    There is a danger that a shrinking deficit may lessen the resolve in Congress to restrain spending, or that expenditures required by law will erase any gains. Defense spending is up because of the wars in Iraq and Afghanistan, and another supplemental war spending request is expected later this year. Congress is considering an extra $1 billion for veterans health care, Medicare expenses are rising because of an aging population, and interest rate increases are raising the government's debt costs.

    Government spending rose 9.2 percent in June compared with the same month a year ago, the Congressional Budget Office said July 7.

    To contact the reporter on this story:
    Alison Fitzgerald in Washington at afitzgerald2@loomberg.net.

    http://www.bloomberg.com/apps/news
    ?pid=10000103&sid=aZgwyLsWjDDc

    lucklucky
    Anónimo said...
    o comentário sobre as finanças dos E.U.A. é muito superficial, e o confronto com o nosso caso impossível; nos E.U.A., o défice resulta de um esforço militar, e houve mais reduções de impostos para estimular o crescimento económico; passado o pico do esforço, o défice poderá ser rapidamente absorvido, como aconteceu com o défice de Reagan.
    Os resultados já existentes reforçam a credibilidade desta política. Nos bem precisamos de uma injecção de supply-side !
    Rui MCB said...
    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
    Rui MCB said...
    Grato pelos contributos e pelas reacçõe cordiais.
    Reconheço a superficialidade e a metáfora entre duas realidades que contêm traços absolutamente incomparáveis.
    A distinção na forma de encarar as contas públicas por parte das duas esquerdas (a de lá e ade cá) é razoável e particularmente importante (e trágica para nós) quando sabemos (será que sabem os nossos políticos?) que por cá não basta esperar pelo próximo ciclo económico para recuperarmos dos nossos défices. Bem vistas as coisas eram estes aspectos que queria sublinhar para consumo interno. A tragédia política vem da incapacidade da actual esquerda no poder em Portugal em assumir a dianteria na resolução do problema com a implementação de soluções poderosas que lhe permitam desenhar o melhor Estado possível com uma matriz de intervenção socio-económica sustentável. Provavelmente ninguém quer assumir que não haverá intervenção providencial, que não haverá injecção do suply side que venha resolver o problema. Mais parece que se limitam a querer arrastar a situação relegando o problema para o próximo ciclo político.
    Anónimo said...
    O problema Português não é a esquerda que faz o seu tradicional papel (embora seja um papel sem futuro) até se moveu de uma postura de hostilidade aos privados nos anos 80 para uma tolerancia pelo menos. Mas por cá a "direita" não se moveu depois dos anos 80, continuou no mesmo sítio , vide os comentários de Marques Mendes á OTA e TGV ou as políticas de Barroso e Santana sobre os mesmos. As vantagens da democracia diluem-se sobrando apenas a mudança pacífica de poder quando não há efectiva alternativa de politicas.

    A mudança na esquerda dos EUA deveu-se ao desastre dos anos 70. Por lá também se é muito menos dogmático e a ideologia tem menos peso do que os dados do mundo real.


    lucklucky
    Rui MCB said...
    Sem dúvida, lucklucky.
    O meu enviesamente à esquerda explica o sublinhado da esquerda no texto. Neste momento (por cá) caminhamos a passos largos para a conclusão pouco animadora que qualquer combinação de governo deu fracos resultados. Haverá uma crise criadora a caminho? Falta empreendedorismo político neste país, a somar às falta do outro.
    Temos um longo e árduo caminho pela frente...
    Anónimo said...
    Eu diria que temos , antes, um longo e árduo velório pela frente. Nem a esquerda (?), nem a direita (?) se apresentam minimamente capazes de resolver seja que problema for. Francamente falha, com tristeza o digo, ao nosso país, dimensão, em todos os aspectos. A nossa pequenez tira-nos a necessária complexidade essencial à subsistência e desenvolvimento de qualquer sistema.
    Cicuta

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