prioridades
quinta-feira, junho 23, 2005
O João Morgado Fernandes e o João Gonçalves não gostaram da manif dos polícias, um queixa-se que vai perdendo o respeito à autoridade, outro recorda o PREC. No Porto, e perante uma audiência selecta onde pontificava o sr. José Oliveira, braço armado do Major Valentim e personagem central do affair Dourado, Pinto Balsemão julgou ter descoberto a pólvora, o militante número um do PSD, Pinto Balsemão, alertou para a falta de grandes causas que devolvam ambição e orgulho, o défice, só por si, "não basta", ressalvou, apontando como prioridade a reforma da Justiça.
Aos três escapou o essencial. O facto é que desde há muito que existe - transversal à sociedade e a todos os sectores desta - um sentimento de desprezo, mais ou menos contido, quando não é de raiva, para com os políticos e a política. A política é vista como uma actividade pouco respeitável, nebulosa, como um meio de enriquecimento mais ou menos ilícito onde - com mais ou menos nuances - s(er)ão todos iguais e incompetentes. Em tempo de crise económica e de cortes cegos é natural e expectável que este sentimento só se agudize.
Não acreditando nos políticos, que é suposto representarem-nos a todos nós, não se acredita no sistema, e não se acreditando no sistema não se acredita em nada e desconfia-se de tudo. A lentidão da justiça associada a episódios pouco recomendáveis como o tratamente de favor - para não dizer mais - com que a olho nú o Dr. Pedroso foi tratado no caso pio faz com que até sistemas independentes do político como o judicial sejam confundidos com este por parecerem tomar também eles decisões políticas, segundo critérios e lógicas políticas.
Assim se chega ao pântano em que nos encontramos. Ora, enquanto não se perceber que enquanto não se encontrarem fórmulas estáveis de reintegrar toda a gente no sistema, de a fazer sentir, e não apenas quando é cortejada para ir votar, importante, relevante e tida em conta, enquanto não se reinventar o nosso sistema político de forma a este poder contar sempre com os melhores, e não com o refugo, nada, mas nada de essencial mudará.
Podem-se discutir reformas cirúgicas aqui, ali e acolá, mas enquanto o problema de fundo, que é também um de confiança, que é a relação dos portugueses com o sistema não for resolvido, nada se resolverá. Curiosamente não vejo por aí a falar seriamente de uma reforma - e digna desse nome - do nosso sistema político... Têm medo de abir uma caixa de pandora, não percebendo que já estamos todos é dentro de uma.
Publicado por Manuel 16:37:00
Concordo com a quase totalidade do seu texto.
Só que, o Manuel acredita em milagres.
Tendo o sistema politico sido "conquistado"por gente incompetente e com "ligações muito perigosas", quem vai fazer a reforma do sistema?
Os que lá estão ?
Milagre, não ?
Então quem ?
Concordo que o "sistema" tem que ser muito mudado, mas volto a perguntar:
Quem ?
Para o político português, no mais restrito sentido da palavra, é preciso chegar a 1º ministro para passar a supranacional.
Não foi o Guterres que falou no pântano?
O que me espanta e emociona diariamente é o tamanho do cadáver de Portugal, canibalizado há 500 anos. O que foi construído em 300 ainda durará outros 500?
Entristece-me a pequenez e a tacanhez dos nossos mandatados mesmo comparados com Salazar.
"Nós, você, eu, enfim, o povo".
Se está à espera do "povo" (o que é isto do povo?) para fazer seja o que for, o melhor é esperar sentado.
Quanto aos "nós, você, eu..." se não estivermos organizados, até porque somos muito poucos, é melhor nem pensar nisso, porque é o caminho mais directo para a depressão e o psiquiatra.
Para finalizar, quantas pessoas já "passaram" por aqui desde que colocou este texto?
Dezenas, centenas?
Comentários: os meus, o seu e o do "anônimo" das 6.56.
Este "nosso povo" é de comer e calar, nem se atreve a dizer (escrever) o que pensa, mesmo sendo "anônimo".
Não pretendo, com este texto, ser derrotista, mas um pouco de realismo para saber os caminhos que devemos trilhar para têr algum sucesso, parece-me da mais elementar prudência.
Chamo o 112 ?