para o Dr. Carrilho em particular, e para o país em geral...

No espírito de serviço público e missão que nos define, recordamos aqui um evento imperdível da Culturgest. A primeira sessão foi ontem, mas dura até julho.

Para gente de esquerda, para gente de direita, para quem quiser ver um bocadinho aquém e além da espuma.

Teatro é feito por pessoas
por Jorge Silva Melo

Quem faz o teatro são pessoas de diferentes saberes. Há quem saiba música e quem saiba carpinteirar, quem sabe escrever e quem tem voz potente, quem sabe pintar e quem sabe gramática, quem sabe de sapatos e quem sabe de métrica, quem sabe línguas e quem sabe contas, quem sabe de costura e quem sabe de lavar lãs. No teatro o sapateiro sobe acima da sandália. Pois ele é o encontro de todos estas pessoas com saberes diferentes. Na sociedade actual, elas não se encontram, os professores universitários nunca tomam a bica com o carpinteiro, nem o poeta discute com a cabeleireira. Mas no teatro estas pessoas todas vivem juntas, a pergunta do aderecista é tão justa como a do dramaturgista, o saber do bilheteiro tão crucial como o do tradutor. E nesse sentido o teatro propõe uma ilha dentro da sociedade. É a ilha em que todos os saberes confluem para um momento pleno. Se pensarmos no anfiteatro grego, vemos que a ilha é a imagem do palco. E que a representação procura o momento certo num tempo certo. E essa é a sua semelhança com a acção política: a procura do kairos. Cinco aulas sobre os saberes do teatro e a sua oportunidade.

Jorge Silva Melo
(Artistas Unidos)


8 de Junho
Diante da porta
A morte é privada, o cadáver é público (o patente como cidadania)
Na tragédia grega, só vemos aquilo que é passível de interessar à comunidade. A divisão entre privado e público é clara desde Ésquilo – e tudo se passa do lado de cá da frontaria do palácio. Só o que é patente pode ser assunto de análise democrática. O teatro é o espaço da clarificação. Tudo é o que pode ser. Análise sumária de A Oresteia de Ésquilo.

15 de Junho
O segredo atrás da porta
A ameaça do passado e o drama burguês (o subentendido como comunicação)
Com a ascensão da burguesia, cresce o recalcado. As origens ( pecaminosas, ardilosas) são uma ameaça à aparência. Os "bons costumes" escondem lama. O teatro da ascensão social da burguesia supõe a ameaça de um passado: erótico, criminoso, psicológico, genealógico, político: nada é o que parece ser. Três peças: Os Espectros de Ibsen, O Leque de Lady Windermere de Oscar Wilde, O Nosso Hóspede de Joe Orton.

22 de Junho
A cena de rua segundo Bertolt Brecht.
Um fantasma assola a cidade?
Nem dentro de casa, nem fora do palácio, no cruzamento da rua: três formas de teatro que tomam a rua como espaço cénico: a zarzuela e a transformação de Madrid, Brecht, Beckett e as estradas de Godot. Três peças El Barberillo de Lavapiès, A Òpera dos Três Vintens de Brecht, À Espera de Godot de Samuel Beckett.

29 de Junho
Debaixo da rua, o corpo.
O teatro foge à razão?
E quando a razão não chega para nos aguentar? Antropologia, mitos, primitivismo, o corpo injustificado e a revolta anti-colonial.
Três peças As Criadas de Jean Genet, As Bacantes de Eurípides, Ruínas de Sarah Kane,

6 de Julho
São Genebro
Vadios, meliantes e maltrapilhos, piolhos e actores
A história de Jacques Copeau: a "confraria" mendicante como exemplo social. O Berliner Ensemble, ilha comunitária fora das leis comunistas. A "troupe" como utopia de vida colectiva: o teatro é o lugar de uma verdade social e não de uma fé privada.

Publicado por Manuel 12:55:00  

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