O Embuste !

Jorge Sampaio encheu-se de coragem no final da sua legislatura, e acusou ontem o sector bancário de nada fazer pelo país. Como se grave não fosse, ainda sugeriu que muitas vezes a mesma banca promove o embuste, na contratação de créditos ao consumo, crédito automóvel ou no crédito á habitação.

A questão é simples para Jorge Sampaio. As empresas precisam de financiamentos, é necessário capital de risco, torna-se necessário apostar em projectos de inovação. E aqui Jorge Sampaio, afirma “Há oposição da banca no que respeita a arriscar alguma coisa para as empresas que querem inovar” e " a banca faz pouco pelo país".

Em primeiro lugar, o sector bancário directo é responsável pela criação directa de mais de 100.000 empregos. O sector da banca responde pela criação directa de 500.000 empregos. Mais de 500.000 famílias portuguesas, tem o seu sustento por via, da simples existência do sector bancário.

Durante anos, foi o próprio Estado, esse mesmo Estado, que cometeu os maiores erros para com o sector bancário. Primeiro foram as nacionalizações. Depois a impossibilidade da comercialização de determinados produtos, como o crédito à habitação, que estavam restringidos aos bancos do Estado.

Finalmente, e já com Jorge Sampaio como presidente da república, dele não se ouviram lamentos contra o Estado, pelo facto deste obrigar o pagamento de salários da função pública, de pensões, da domiciliação das contas das tesourarias da direcção geral do Tesouro, da venda de bilhetes da Expo 98, da venda de bilhetes do jogo da Santa Casa da Misericórdia, apenas num só banco...a Caixa Geral de Depósitos.

Muitas destas situações, hoje já estão “liberalizadas”, mas durante anos a fio, o próprio Estado, foi o principal agente limitador da prestação de serviços por parte da banca, criando um monopólio, assente no banco do regime.

É obviamente uma questão de posicionamento do Estado.

Mas o mesmo Estado, não pode acusar todo um sector de nada fazer pelo país, se durante anos, esteve quase impossibilitado de o fazer pelo próprio Estado.

Em segundo lugar, e ainda bem, a banca prima pela maximização do lucro. Ao contrário do Estado, e deste mesmo governo que Sampaio tanto apoia, que alinha com as suas medidas retraccionistas, no arrefecimento da economia. O mesmo arrefecimento na economia, que há-de encostar as empresas à parede.

O problema não está na falta de apoios á inovação.
Eles existem, e seria fastidioso enumerá-los aqui, mas Sampaio deveria conhece-los.
O problema está em na forma como os empresários se posicionam, na forma como eles procuram as oportunidades de negócio, na forma como arriscam.
Não é certamente por falta de apoios da banca, que a Zara, líder espanhola no sector do vestuário, não é portuguesa. Não foram os embustes que a banca promove, que impediram, os espanhóis de possuírem a única empresa no Algarve de produção de sumo de laranja. Não foram as prestações com pagamento diferido a 4 anos, que impediram, os empresários têxteis do Vale do Ave, de em vez de reorganizarem o sector, adquirirem veículos topo de gama e moradias no Algarve, á parte do destino que foi durante anos dado, aos fundos recebidos para formação profissional e para reorganizações empresariais.

Ora a banca, que se saiba, directamente não recebeu fundos comunitários alguns. Não desperdiçou aquilo que outros fizeram. Talvez por isso hoje, os lucros da banca sejam hoje motivo de inveja, pelo resto do país. A banca pode não ser um poço de virtudes, mas está muito distante de ser um palco de atrocidades cometidas, perante os cidadãos indefesos.

Se há alguém que contribuiu positivamente durante anos, o crescimento económico, esse alguém foi o sector da banca. Se houve alguém que durante anos, impediu a livre concorrência no sector bancário, esse alguém foi o Estado, preso a determinados interesses. Alguns dos projectos de inovação que deram o país a conhecer-se lá fora, estão precisamente no sector bancário, de quem são claro exemplo a rede Multibanco e os serviços por eles prestados, ou os pagamentos por via verde.
Ora se o problema é a inexistência de iniciativa privada, talvez Sampaio, devesse olhar para o país que lidera, e reparar na burocracia necessária para criar uma empresa. Na excessiva tributação que é pedida às empresas, quase que convidando as mesmas a optar por um regime fiscal menos transparente. O problema não é da banca. Parte do problema está em Bélem, mesmo que não exista vida para além do défice.
Embuste, é não reconhecer que o problema de Portugal não está num sector, mas sim num Estado despesista, desorganizado e mal conduzido.
Embuste, é não perceber que o problema de Portugal não é o défice, mas sim a falta de crescimento da economia e da criação do emprego.

Embuste, são os assessores que Sampaio, tem na sua Casa Civil, nos seus gabinetes e serviços afins, que consomem no orçamento geral de Estado para 2005, quase 14 Milhões de Euros, e que não conhecem por exemplo os PIN –Projectos Interesse Potencial Nacional, em grande parte financiados pela banca nacional, e que servem de bandeira ao governo para o seu famoso plano tecnológico.

Embuste, é a suposta pretensão de Sampaio, em pretender abrir linhas de crédito na banca - naquilo que constitui um ataque claro e despropositado ao sector - de forma generalizada, sem qualquer rigor, como se de um segundo orçamento geral de estado se tratasse.
Embuste, é confundir capital de risco com as prestações de capital e juros decorrentes de uma renda ou de um financiamento bancário. Embuste é Sampaio de uma forma despropositada querer retornar aos tempos do antigamente. Obrigar a banca, a emprestar dinheiro, aumentar o endividamento das empresas, sem quaisquer critérios, para que daqui a uns anos, se chegue á conclusão que afinal, metade dos projectos não tinham ROI´s ou TIR´s atraentes, para a economia nacional.
Se é um modelo de crescimento com base no endividamento que Jorge Sampaio, pretende, então já o poderia ter dito. É que a economia portuguesa recusa-o. Da mesma forma como o lentamente vai recusando o que o Presidente da República afirma.

Embuste é a personagem que nos últimos 10 anos habitou em Belém.


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Publicado por António Duarte 12:12:00  

4 Comments:

  1. Luís Bonifácio said...
    Hoje no fórum da TSF, um responsável por uma associação de PME's, colocou o dedo na ferida. Os apoios comunitários à "inovação", são gastos nas Universidades a subsidiar os Srs. Professores Catedráticos e suas manias. Os fundos nunca são completamente utilizados e passados alguns anos e uns milhões gastos, o resultado cifra-se em 4 patentes. Patentes essas imediatamente vendidas ao desbarato ao primeiro estrangeiro que apareça.
    Anónimo said...
    Pois é, a Banca é a nossa "vaca sagrada".
    Não é verdade que seja obrigatório os pagamentos dos vencimentos dos funcionários tenham que ser na Caixa. Há muitos anos (+ de 10) que podem ser feitos em qualquer banco.
    A publicidade dos bancos é tudo menos transparente e quem contrai um empréstimo vê-se frequentemente onfrontado com o pagamento de taxas e comissões que lhe tinham sido ocultadas na altura da contracção do crédito. Se não é embuste anda lá perto...
    José manuel
    Carlos said...
    É evidente que cada um é livre de ter as opiuniões que entender sobre este assunto. Todavia não é legítimo apoiar esses pontos de vista em visões deturpadas da realidade.

    Refere o Sr. Duarte que " o sector bancário directo é responsável pela criação directa de mais de 100.000 empregos. O sector da banca responde pela criação directa de 500.000 empregos". Bom em que ficamos 100000 ou 500000? Mas será que o número de empregos criados é um indicador significativo por si só? É que neste caso seria interessante observar a evolução do emprego no sector desde a privatização.

    Mais adiante acrescenta "alguns dos projectos de inovação que deram o país a conhecer-se lá fora, estão precisamente no sector bancário, de quem são claro exemplo a rede Multibanco e os serviços por eles prestados, ou os pagamentos por via verde".
    Ora o lançamento do multibanco data do tenebroso período da banca nacionalizada, que o Sr. Duarte tão duramente critica. E quanto à via verde o seu valor exemplar deve-se muito mais à BRISA do que ao sector bancário. Por outro lado sendo exemplos de excelência e inovação como explicar a incapacidade para exportar o coneceito e oferecê-lo noutros países europeus?

    E concui o Sr. Duarte "Se é um modelo de crescimento com base no endividamento que Jorge Sampaio, pretende, então já o poderia ter dito. É que a economia portuguesa recusa-o". Será mesmo que recusa? Então como explicar a explosão no endividamento privado a que se tem assistido nos últimos anos?

    Sendo verdade que a banca é, por comparação com outros sectores da economia portuguesa, gerida de forma mais profissional e responsável, não deixa de beneficiar duma situação de oligopólio. Portugal é dos países que apresentam uma maior concentração neste sector com três instituições (privadas) a dominarem o mercado e a beneficiarem duma posição de privilégio no controlo de grandes empresas que operam em regime de quase monopólio (p.ex. BES-PT, BCP-EDP).
    António Duarte said...
    Caro Carlos

    Emprego directo na banca - 100.000

    Emprego criado pela banca e por empresas do sector não financeiro mas pertencentes aos grupos financeiros - 500.000

    Desfeita a dúvida. O número do emprego no sector financeiro e não financeiro, apenas demonstra que não se está a falar de um qualquer sector.

    O lançamento do Multibanco tal e qual ele funciona hoje, surge pela mão da SIBS - consorcio de bancos -, aquilo que a banca nacionalizada possuía eram cash-dispensers .

    A Via Verde ganhou vários prémios internacionais, e o seu conceito vendido lá fora. Mas quando diz como explicar a incapacidade de exportar esse conceito para o estrangeiro, tocou no ponto. O problema não está no acesso ao crédito, mas sim na forma como os empresários de posicionam.

    Infelizmente, o endividamento não é apenas privado. o Estado vive para além do défice, as famílias para além das dívidas. Caso não se tenha apercebido, uma das funções da banca é conceder crédito. Ainda que admita que nalgumas situações, os bancos possam "facilitar" em demasia a obtenção de crédito, não é menos verdade, que aos consumidores sempre foi dito, que os créditos bancários, são para amortizar.

    Finalmente, o modelo de endividamento. Perdoe-me, mas não concordo minimamente com o modelo de sustentação do consumo privado assente no endividamento com os riscos inerentes a flutuação das taxas de juro.

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