Velocidade na génese da sinistralidade rodoviária

Numa sociedade que tanto valoriza a velocidade, e em que a viatura constitui um símbolo de virilidade, pusilânime ao perverter o deleite dos preliminares na adoração concupiscente da natureza, é difícil veicular a informação de que o corpo humano suporta mal os choques e que as suas consequências dependem estreitamente da velocidade a que se produzem. A 80 Km/h, um passageiro sem cinto colocado tem ínfimas probabilidades de sobreviver a um embate frontal. Um choque a 100Km/h equivale à queda vertical de 40 metros. O esmagamento representa o mecanismo mais frequente na origem das lesões viscerais. O arrancamento provocado pela desacelaração importa sobretudo os órgãos pediculados, como o baço ou os rins. Quando o corpo humano, animado indirectamente de uma grande velocidade pela viatura, pára bruscamente a sua progressão, as vísceras abdominais recebem uma energia cinética proporcional à sua massa e ao quadrado da velocidade. Esta força arranca os orgãos melhor implantados, como é o caso do fígado. Por mais mecanismos de segurança passiva ou activa que se criem, a distância de travagem do veículo será sempre tanto maior quanto maior forem as suas velocidade e massa. Nunca inferior a 14 metros a 50 Km/h e a 93 metros a 130Km/h, incluindo o tempo de reacção. Por outro lado, nas curvas das estradas, aplica-se um princípio físico conhecido por força centrífuga, tendente a afastar um objecto do centro da sua trajectória, que é multiplicada por 4 quando a velocidade é multiplicada por 2. A negação destes factos científicos demonstra puramente iletracia iliteracia iletrismo.
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Publicado por Nino 22:08:00  

14 Comments:

  1. Joao said...
    "Um choque a 100Km/h equivale à queda vertical de 40 metros" de quê, de um Renault 4L contra uma parede? Ou de um Laguna? Ou é um copro humano animado de uma velocidade de 100 km/h. Números como estes só servem para enganar!
    Joao said...
    Depois de ter comentado... pensei e acertei: tinha de ser post do nino
    Anónimo said...
    Concordo com o post, e não é verdade que estes números só sirvam para enganar...

    '55 SAVES LIVES'

    O limite de 55 milhas por hora foi imposto nos EUA como medida de poupança de combustivel, na sequência da crise do petróleo de 1973.

    Alguém se quer dar ao trabalho de pensar nas razões que levaram o Governo Federal a manter esse limite durante tantos anos, depois da crise passar?
    TAF said...
    Este post é um exemplo de como invocar erradamente as leis físicas (fazendo simplificações grosseiras), esquecendo além disso vários outros factores que contribuem muito mais para a chacina que se verifica nas estradas. Não é assim que se contribui para diminuir a sinistralidade.
    Joao said...
    Um dos estados do EUA pensa aumentar o limite de velocidade. Pretexto? Maior rapidez no transporte de mercadorias. Penso que é Indiana. Na procura da noticia encontrei um comment de um blog de lá:
    Posted Feb 21, 2005, 1:00 PM ET by Eric
    I drive that same stretch of I-65 a few times a month. I generally cruise along at 75 without any hassle. I sometimes get hooked up with a group of cars out of Chicago and we hit 80-85. In the 8 months that I have been doing this regularly, I have never been stopped. If you think that Indiana is bad for speed limit enforcement, then I suggest you steer clear of Ohio. I am glad to hear that they are considering raising the limit, I heard this on NPR last week. It would make it nice to not have to worry about the cross over from Michigan into Indiana. I could just keep going 80 the whole time
    Nino said...
    O João é um condutor exemplar.

    "Depressa, passei dos limites, é difícil não o fazer durante 600 kms. Tive sorte, em dois troços onde vi radares, passei abaixo dos 140. Dizem que eles disparam a partir desta velocidade."

    (http://atipico.blogspot.com/2005/04/pela-estrada-fora.html)

    Pois é, alguns não têm a sua sorte e morrem.
    Joao said...
    Ah! passei sim, como passo dos 50 em localidades, talvez até aos 60! O que considero mais perigoso, os 60 na cidade do que 150 numa AE. Agora em termos de condução, o nino não me conhece, mas posso dizer que em 22 anos nunca tive nem acidente nem multa. E perigoso sim, era, quando em 1980 andava com alguns copos a guiar.
    Joao said...
    E para completar o tema da velocidade, quem cumpre? os 20km/h 30 km/h que por aí proliferam? Ou há sinalização para ser seguida e outra que está lá por estar?
    Anónimo said...
    Velocidade pfft...
    Por que é que a falta de atenção não está nas estatísticas? conheço gente que só pára de acelerar quando "vè" o carro da frente a travar não quando este liga os stops ou quando se aproxima a 120km/h a 5 m do carro da frente; Este tipo de comportamento não tem nada haver com a velocidade há quem vá aos 200km/h na autoestrada é muto mais seguro que 50km/h numa rua de Lisboa apesar da primeira ser proibida e a segunda legal. lucklucky
    Anónimo said...
    Para começar escreve-se iliteracia.
    Mas isto está entregue aos Iliteratti. As leis da física são tão belas.
    Gostava que comentasse a taxa de sinistralidade nas autobahn onde não existe limite de velocidade, mas nas curvas mais apertadas aconselham a não as fazer acima dos 250 Km/h.
    Anónimo said...
    Na guerra colonial, de que tantos fugiram, muitos saõ governantes agora, morrreram, 13.000 homems em
    13 anos! 50% não morreram em combate mas sim em acidentes, em que os de transito tinham grande maioria.
    Agoram morrem 1200, por ano mais
    um numero identico que ficam inutilizados, para uma vida normal!
    Para dar dou que pensar aos pacifistas!
    Depois dou que pensar a uma sociedade que entra aos berros num hospital e concorre para ter uma sociedade de aleijados em tempos de paz? que tipo de educação tem esta gentalha?
    Não adianta fazer campanhas, se não houver pena de prisão de 5 anos
    para quem seja responsavel por uma morte causada por uma viatura, que
    se multiplicará pelo numero de mortos causados!
    è infANTIL O sOCRATES VIR FALAR EM
    PENAS DE CUMPRIMENTO CIVIL, QUANDO OS JUIZES, NÃO SABEM O QUE ISSO È
    NEM ELE sOCRATES, NÃO ESTANDO DEFINIDAS O QUE SERÃO E QUE CONTROLE TERÃO, ISTO È DE MIUDOS A BRINCAR À pREVENÇÃO RODOVIARIA.......................
    Nino said...
    Caro anónimo,

    Na verdade, nem "iletracia" nem "ileteracia" constam no dicionário de língua portuguesa da Porto Editora. O termo correcto em português, sem recorrer a neologismos, é "iletrismo". Faço a "mea culpa".

    Caro João,

    O facto de em 22 anos não ter sofrido nenhum acidente não significa nada estatisticamente em termos de saúde pública. É apenas a sua experiência, ou seja, é puro senso comum. Pelo contrário, os argumentos que desenvolvi no post são científicos.
    zazie said...
    Nino,

    com as cavalgaduras do asfalto não há diálogo possível. Como diz o VPV o problema é que é raro apanhá-los vivos e o azar que outros que o não são morram na sua vez.

    às vezes tenho devaneios de reforma e num deles imagino-me como mam' dalton de caçadeira a entreter-me a disparar-lhes para os pneus em noites de nevoeiro na Av do Infante...
    ":O.
    Joao said...
    Caro Nino

    Não concordo. Nos argumentos falta o factor "automóvel". De que automovel estamos a falar? Não haveria menos vitimas se veiculos de gama média fossem mais acessiveis, por exemplo. E a propósito de ciência, após "googlar" um pouco fui parar aqui: http://www.trajet.lu/documentation.html onde depois encontrei estes
    valores para travagem: 12.5m a 50km/h e 78m a 130km/h.

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