para que servem as maiorias absolutas (II)
sexta-feira, maio 27, 2005
(Já) Era esperado. José Sócrates no dia mais díficil (!) da sua vida anunciou aumentos, mais ou menos imediatos, maciços de impostos, e cortes simbólico-platónicos nas despesas. Errado, errado e errado. Errado economicamente e errado politicamente.
Admita-se de barato que o dinheiro é preciso, Sócrates, assessorado pelos seus magos da propaganda, achou politicamente mais sensato massacrar todo um país com um aumento de impostos que comprar uma "guerra" passageira e localizada em meia dúzia de locais abragidos pelas SCUTs. Estranhamente esta decisão de aumentar os impostos sendo de facto eleitoralista (as luminárias do PS acham que diluindo o descontentamento homogeneamente por todo o País perdem menos que focando-o nas zonas onde há SCUTs) é das mais imbecis de todos os tempos. E é-o porque não há sinais de que o petróleo vá descer (o que mitigaria o aumento do imposto sobre produtos petrolíferos, (70% do preço da gasolina já são impostos...)) pelo que o aumento dos combustíveis levará inapelavelmente a um aumento dos transportes, dos passes sociais, etc, etc... Sobre o aumento do IVA, bem, é comparar com o valor praticado em... Espanha.
Sobre o corte das regalias de que usufruem os dirigentes políticos alguém deve ter convencido o Eng. Sócrates de que se ia apresentar medidas que projudicavam toda a gente, incluindo os mais necessitados, então tinha de apresentar também uma ou duas que penalizasse os "favorecidos", e as vítimas foram os políticos. Patético. Patético porque Portugal tem uma classe política mal paga, e, goste-se ou não, a maioria das "regalias imorais" com que Sócrates quer agora acabar serviam como um parco estimulo, face à exiguidade dos salários, à boa moeda para esta a abdicar do conforto e segurança do sector privado e arriscar uma carreira política. É verdade que há políticos a mais, é verdade que a maioria são de qualidade sofrivel, mas a prazo o que Sócrates consegue com esta medida é apenas uma muito maior degradação da já péssima qualidade da classe política, porque "profissionaliza" ainda mais aquela classe, reduzindo cada vez mais os "incentivos" a quem não nasceu político numa qualquer jota a inveredar peal vida política. Depois do susto inícial os aparelhos partidários hão-de achar esta medida brilhante. Há ainda uma refinada hipocrisia nas medidas apresentadas por Sócrates já que só na superfície estas atingem o verdadeiro grosso dos beneficiados pelas tais "regalias imorais" de que goza a classe política - os autarcas. Mais uma vez todos iguais, mas com os autarcas a serem, mais uma vez, mais iguais que todos os outros.
Brilhante.
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Publicado por Manuel 12:04:00