A apagada e vil tristeza do fado

Na Visão de hoje, entrevista de 5 páginas ao nosso melhor cronista de jornal... Vasco Pulido Valente em todo o esplendor iconoclasta.

Sobre a cultura em geral- a literatura, pintura, teatro e cinema portugueses...

(...)não temos uma tradição literária. Viva, quem sabe, hoje , por exemplo, o que é o Garrett?

(...) Ninguém conhece Pascoaes. (...) Quem conhece hoje o Camões ou o Padre António Vieira? E ainda a literatura não é pior...a música e a pintura não existem. (...) Mas a dramaturgia, e já que se lemboru do Frei Luís de Sousa, ainda é pior. Nada, absolutamente nada. Desde o princípio que o teatro nacional, o D. Maria, não foi nacional. Só se representam traduções. (...) o Oliveira é uma mistificação para provincianos. A política de cultura em Portugal tem um efeito altamente nocivo: o de manter a ilusão de que as coisas que por aí se produzem têm qualidade.

(...) Criou-se a ficção de que existe uma cultura portuguesa flrescente e o Estado mantém essa ficção. ( ...) Se a realidade, sobretudo a realidade cultural fosse diferente, não estávamos como estamos. Como é que do vazio cultural pode sair alguma coisa?

O dr. Cavaco queria que os empresários portugueses lançassem marcas; o engº Sócrates quer um "choque tecnológico".

Mas como? A partir de quê? De que história, de que tradições?!

Sobre a comunicação social:

Não há público para quatro estações de televisão e para tantos jornais e revistas."


Sobre os políticos e o sentido da história...

Pegue aí num cacho de políticos e verifica que, desde o séc. XVI para cá, eles ouviram falar em Pombal, vagamente da República, do Salazar, do 25 de Abril e mais nada. Um ou dois mais sofisticados talvez se lembrem que existiu o Fontes Pereira de Melo, porque a certa altura era moda comparar Cavaco com ele. Os políticos, hoje, nascem sem passado, como se Portugal tivesse começado com eles, anteontem á tarade. E acreditam no que lhes apetece ou lhes convém: nas coisas mais absurdas.

Sobre os demais opinionistas de blog e de jornal...

Os colunistas suponho que têm blogs , que eu não leio. Ao humorista que me criticou na Visão, não acho muita graça. Vi-o duas ou três vezes na tv. O humor é crítico e o dele é vácuo, se é que se pode chamar humor.

Sobre a situação geral, actual, em Portugal...

Subir do nada, como em 1974, não é difícil, difícil é continuar a subir, quando já há uma base mínima. A imagem do país tornou-se negativa para as gerações mais novas, que não tinham qualquer memória da Ditadura. Com a agravante de que os goernos começaram a não satisfazer as expectativas que se iam criando. Pelo contrário, quase todos eles persisitram em políticas erradas, na saúde, na educação, na justiça e por aí fora. O resultado foi a impotência. Pior do que isso, uma desorientação geral.

Sobre as pessoas que estão a "refundar Portugal"...

São indivíduos que não conhecem Portugal e que se julgam importantes, porque dirigem grandes empresas. Não tenho paciência.

E pronto! Aqui ficam as palavras de Vasco Pulido Valente, originais como habitualmente, mas com uma novidade: o entrevistador (Fernando Dacosta), faz-lhe ver a certa altura que ele próprio, VPV, também faz parte da cultura da pobreza e o valente Vasco...lá confessa...
Pois faço. Até academicamente. Voltei para Portugal por causa da revolução e da democracia, é verdade, mas também por medo de competir lá fora.

Ah! Essa velha mania da competição! Como é que se compete nas áreas culturais? Um escritor é uma máquina de corrida para ver se vende mais ou influência melhor?

Um pintor, um escultor, um cineasta ou um dramaturgo competem?! Ou será que o génio da arte e da escrita pouco ou nada tem a ver com a competição e tem mais a ver com o material genético, mesmo o assimilado culturalmente, se isso for possível de dizer?

As escolas informais de cultura, mesmo popular, contam muito. Em Portugal há algumas. Do azulejo, por exemplo. Das rendas de bilros e dos tapetes de Arraiolos ou da arte de produzir vinho, no Douro.

Agora, pergunto eu: por que raio não se vêem escritores a descreverem essas coisas e a narrarem histórias á volta delas?! Por que razão, os filmes portugueses subsidiados têm que mostrar armas e tiros de pólvora seca que até soam mal, a competir pindericamente - isso sim! - com a indústria de Hollywood?

Querem um exmplo do que pode ser feito e que não depende da "competição"? Vêm no mesmo número da Visão: quase oito páginas sobre um ilustrador, um desenhador e artista português que em 1981 tirou o curso de Belas Artes , no Porto, tentou uma colocação como professor numa qualquer escola e emigrou para Londres para estudar artes no Royal College of Art, com uma bolsa da... Gulbenkian! Depois destes anos, Rui Paes, aqui muito bem retratado, é notícia na Visão, como já tinha sido ontem no DN, por causa de ter sido escolhido para ilustrar um livro de contos infantis da... Madonna, esse expoente cimeira da cultura musical anglo saxónica! E por isso mesmo, o lead da história é o assunto com a... Madonna - "A minha história com Madonna".

Não seria muito melhor um título sobre a arte de Rui Paes? Sobre as aguarelas? Sobre a escola inglesa das aguarelas? Sobre o barroco na pintura de Rui Paes?

Tenho a certeza que seria sobre esse ângulo que por exemplo, o suplemento de cultura de um Sunday Times olharia para a obra. Aqui, neste cantinho, o que supostamente vende, será a Madonna. Gostos pobres e de pobre, como de facto somos...
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Publicado por josé 10:02:00  

15 Comments:

  1. dragão said...
    Diz-me lá se não é o "Fado do Desgraçadinho", ó José, caro amigo?...
    zazie said...
    e triste sina...
    josé said...
    Epá! ( isto ainda são ecos do nosso Prezd...)
    O VPV desta vez, excedeu-se a cantar o fado remeloso. É verdade que o gajo é o nosso melhor artista, nesse fado vadio e de culto. E por isso leio e gosto. Do estilo e dos temas.

    Já sei que não gostas do que o gajo escreve e desconfio que nem toleras aquela especial tendência para a iconoclastia ambulante.
    Mas desanca, lá no sítio do Dragão ( ou aqui) que eu leio. E essa leitura é sempre um gozo pegado, porque o estilo é do mais original que temos por aí à solta!
    E agora que ceifaste a caixa de comments, fica mais plano e mais imediato- mas ainda mais livre.
    dragão said...
    Calma aí: eu não desgosto totalmente do gajo. Lastimo-lhe, não raras vezes, a falta de coerência do conteúdo. Mas reconheço-lhe a mais valia da forma (não fui porreiro neste linguajar economasta, hein?...).
    Agora, comparado aos outros que para aí gatafunham, o tipo é um génio.
    (Esta concessão rara é para a Zazie. Eu, como é óbvio e costume, não penso nada disto, mas ela fica toda contente. :O) )
    zazie said...
    ahahah este gajo é mesmo um dragão! quando se trata deles lança-lhes labaredas mas se entram elas fica mais docinho que nem dracolino de santa Margarida ":O)))

    beijocas e obrigada que aposto que o VPV também não se importa
    josé said...
    Então, Dragão, e já que andas por estas bandas, que dizes do errante blogonauta que vagueia pela blogosfera numa nave abrupta e que festeja feericamente o seu segundo ano de errância?!

    Hoje no Pùblico, o errante zurze em tonalidade cinzenta, os blogs "anónimos". Diz que não são de gente "séria", como ele, presume-se...!

    O errante blogonauta que assina habitualmente os postais ( neste caso, serão mesmo posts) enviesadamente telúricos ou etereamente astrais, aposta nos nomes que "dão a cara" e rejeita a legitimidade dos cobardes anónimos que lhe tosquiam o pelo hirsuto do pedantismo.

    Num outro lado, por causa disto, já me chamaram despeitado, analfabeto e até...zé ninguém!
    E acrescentaram que o errante abrupto é um mestre!
    Se calhar, é mesmo, pois cada um escolhe aqueles que pode...
    "Triste país o nosso..."
    dragão said...
    Muito me contas, caro José.
    Desconhecia esses primores. Estou-me rigorosamente cagando no gajo, no blogue do gajo e nas opiniões gordurosas e besuntadas do gajo.
    Não leio. Não quero saber. Desses onanistas e punheteiros do "sitemeter" contento-me em chatear os "blasfemos", os quais, ultimamente, e tem-me dado um certo trabalho, já estão a estalar no verniz.
    Mas em rigor, sobre a Abrupto figura, sempre te digo que, como em relação à generalidade da bosta, até pisar evito.

    Olha, o Afonso Henriques (no "portugraal") escreveu com muita propriedade acerca desse assunto.Vale a pena ler.
    zazie said...
    Ó José, enquanto eles se fiquem pela cara e não se lembrem de dar outras partes, cá por mim...
    zazie said...
    Assim como assim também há os que já lhes vimos o traseiro académico na tv mas não lhes acertamos com fronhas nem nomes...
    zazie said...
    o que eu preferia mesmo é que o Abrupto se deixasse de pruridos e botasse ali o NIB
    zazie said...
    quem diz o NIB diz o nº do cartão de crédito...
    josé said...
    Eu esperava um fogacho,uma leve aspiração de fogo, para chamuscar o estilo abrupto, mas isto?! Isto, foi a descarga de lança-chamas que não deixa máscara sob máscara do pedantismo, estilo avergonhado e espantado.

    Por mor desta cera que se gasta com defunto fraco, fui reler os ditos no Público que embandeira duas páginas de banalidades sobre os blogs "políticos".
    No dito do tal abrupto, o sítio " É visto por muita gente diferente, desde bombeiros(!!!), polícias(!!!!), autarcas(??!!) e...jornalistas"!
    Os pontos são meus; os leitores são dele!
    "pobre país o nosso" em que o blog Abrupto, segundo o artigo do Público,disputa a liderança de audiências na blogosfera, com um outro blog presumivelmente muito interessante- o "xupacabras"! Diz lá que é um blog de fotos eróticas!
    A audiência?! Não sei- mas se calhar é a mesma do tal que se espanta e avergonha...para inglês ver.
    dragão said...
    Mas olha, ó José, por ser para ti, vai passando lá na minha espelunca, antro de piratas, flibusteiros e gabirus, que eu prometo para breve uma demolição em forma dessas bacoquices. Já está no forno...
    zazie said...
    hummm tinha de ser, que é preciso é provocá-lo ";O)
    josé said...
    Caetano Veloso cantou ( em Sozinho) que " Quando a gente gosta
    é claro que a gente cuida" e por isso, esta prenda de aniversário merece destaque simbólico pela ternura das prendas e pela lucidez das dedicatórias. O visado merece o enlivo, aliás.
    Ah! Dragão! Não disfarças esse lado sentimentalão...

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