Para variar, não me tem apetecido escrever. Não me apetece escrever, em mais este aniversário da revolução dos cravos, para ter de criticar Jorge Sampaio, esse insigne democrata, presidente de todos os portugueses nomeadamente de todos os maçons, que veio a terreiro defender a honra da maçonaria mais a perigosidade da lista de PIDEs, que o era, deixou de ser e voltou a ser.
Mas sobretudo não me tem apetecido particularmente escrever por causa do Congresso do CDS/PP, porque a escrever tenho que me render ao génio, ao absoluto génio, de um homem. Raras vezes, em política, se pode assistir a um espectáculo tão sublime, tão coreografado, tão subtil e eficaz, com o deste fim de semana. Absolutamente perfeito, simplesmente suberbo e a fazer lembrar Keizer Soze, o maléfico génio d' Os Suspeitos do Costume. E o melhor de tudo é que a esmagadora maioria da assistência, analistas e intérpretes, ainda não perceberam verdadeiramente o que se passou.
E o que se passou foi, ai que isto custa a escrever, que quando quer Paulo Portas é - "artisticamente" o melhor político português no activo. Paulo Portas é o único vencedor do Congresso do PP deste fim de semana, e, bem analisados os factos, o seu grande protagonista. Paulo Portas, na noite das eleições legislativas, percebeu que tinha que sair de cena, que respirar, para ter espaço para, se um dia o quiser, voltar. Sair era a parte fácil, deixar o partido de molho, preparado para o seu regresso, se e quando lhe aprouver, era o difícil, senão impossível. Portas transformara afinal o CDS/PP numa espécie de Partido unipessoal. E, no entanto, Portas conseguiu-o.
Não deixa de dar um certo gozo ler o que tem sido escrito. José Adelino Maltez, monteirista arrependido, já canta hossanas ao novo líder do CDS, sonhando porventura já com o regresso dos PNDs, que Monteiro já não conta, ao PP, outros como Rui Albuquerque ou José Bourbom, falam, embevecidos, numa vitória das bases, num sinal de vitalidade e vontade, contra os comentaristas, outros, ainda, preferem justificar as coisas com o discurso da vida de Ribeiro e Castro. O Dr. Portas deve estar a rebolar-se ainda, perdido de riso. Não foi bem assim. As coisas começaram a ficar claras no final da semana passada quando se soube que Abel Pinheiro, o homem das finanças de Portas e do PP, não iria apoiar Telmo Correia.
Sexta-Feira, durante o dia, Portas, himself, deu carta branca ao seu inner circle de colaboradores, para cacicarem abertamente a favor do corredor de fundo Ribeiro e Castro, deixando aliás descalço e no meio da rua o líder espiritual d'O Acidental, incumbido de redigir uma moção para nada. Nobre Guedes juntou o útil ao agradável, o seu pó a Telmo Correia, desde os tempos das guerras na Distrital de Lisboa, à prossecução dos seus interesses de médio prazo. O resto foram as leis da gravidade a funcionar.
Portas sabia que não podia entregar o partido a uma troupe vista como de meros portistas fiéis, com Monteiro aprendeu dos riscos de as criaturas, a prazo, ganharem vontade própria e se revoltarem contra o criador, também sabia que o portismo, sem ele, seria um fantasma que o perseguiria e só lhe limitaria ambições e margens de manobra futuras.
Portas sabia ainda que sem uma liderança forte, carismática, qualquer solução portista resultaria a prazo em deserções, ou cisões, uma coisa é Maria José Nogueira Pinto ou Lobo Xavier baixarem a bola perante um líder forte, outra, totalmente diferente, é manterem-se sossegados perante um novo líder que os despreza e que desprezam.
Portas sabia tudo isto, Telmo Correia não. De tabú em tabú, completamente inebriado, Telmo Correia resolveu imitar Portas e deu-se mal. Deu-se mal porque não tem um milésimo da massa cinzenta deste (e da de Nobre Guedes) e porque fundamentalmente não percebeu que sem Portas o PP não podia continuar a ser o mesmo.
Entra Ribeiro e Castro, suficientemente apagado para não gerar os anti-corpos de uma Nogueira Pinto, ou de um Lobo Xavier, suficientemente distante para federar todos os que não estiveram com Portas estes anos e suficientemente pragmático para não recusar o apoio de Portas himself. A sua vitória é a prova provada de que o PP, com Portas, foi mesmo um partido unipessoal, o aparelho sénior, concelhias e distritais, bem que se entregou a Telmo, mas bastou um sinal - Abel Pinheiro, para não falar em Nobre Guedes - claro e inequívoco do que realmente queria Portas para a plebe se render a Ribeiro e Castro. Absolutamente poético.
Podem por aí perorar à vontade sobre derivas à esquerda, à direita, liberais ou ao centro, o CDS/PP está hoje onde Portas o quer, e sobretudo está unido e federado. Portas deixa assim o CDS mais ou menos como o encontrou antes de Monteiro, cinzento, respeitável e inócuo, um misto de senadores e patrícios, sem rasgo nem chama. E sobretudo deixa o PP numa posição dócil de não frontamento ao PSD, mas sobre isso falaremos noutra altura...
Ribeiro e Castro dará um bom feitor, todos os excluídos da era portista estão agora devidamente reintegrados, até os freitistas... e quanto aos boys de Portas, liderados por Telmo, resta-lhes o consolo que um dia, mais tarde ou mais cedo, Portas voltará. Resta saber se nessa altura Portas ainda precisará deles...
Em tempos do Diabo se disse que o seu maior feito foi ter convencido a Humanidade que (já) não existia...
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Publicado por Manuel 22:17:00
Estarei noutras barricadas valorativas e noutros estilos de vida política", tal como lamentar "não haver um partido não confessional à direita, imune à pulsão reaccionária e sempre a pedir um "nihil obstat" à Conferência Episcopal" criticando a "via restauracionista do Centro Católico Português e do Partido Nacionalista de Samodães e Quirino Avelino de Jesus". Tal como há meses era qualificar-me como um "enigma" dependente do adrianismo, que estaria em guerra no PND contra o Carlos Abreu Amorim. Sempre disse o mesmo em todos os sítios onde estive e nunca estive no PP.Nunca foi "ista" de ninguém! Amen!
José Adelino Maltez
Porém, com tanta flexibilidade a pivotar nos mesmos princípios e valores, torna-se mister definir as referências fundamentais, para que não suscite dúvida a aparente ambivalência.
Também sofro do mesmo mal e como remédio só encontro o chamado independentismo, ou noutra acepção menos simpática e actual, a "não-inscrição".
Não me inscrevo em partidos e movimentos politico-partidários.
O que não significa que por isso, perca a liberdade de os analisar e medir do lado de fora.
A constatação de que falta uma força política "não confessional, não reaccionária, à direita" é uma declaração, quase um manifesto porque pressupõe a vontade da mesma poder vir a existir.
Mas verificar essa lacuna grave no espectro politico português implica um esforço de análise que deve ser partilhado por outros- e é aí que começa o drama, na definição das cambiantes dessa componente futura e desejada, do actual espectro cromático.
É nesse sentido- o de adivinhar as tonalidades possíveis e desejáveis que tenho vindo a ler o que JAM escreve.
E é assim que julgo compreender o que escreveu aqui no comentário.
A vida universitária, na vertente clubística!
Para os futricas das cátedras não é claro nem sequer por aproximação especulativa, o modo como se ascende a postos de chefia em lugares de poder público.
Sem qualquer maldade da minha parte, sugeria que JAM escrevesse sobre esse fenómeno a que julgo estar imune, pelo que leio.
Como é que se estratifica o poder universitário em Portugal? Como é que se escolhem os presidentes de COnselhos Científicos e reitorais?
Qual o papel dos clubes nessa escolha?
Estará a Universidade corrompida nesse aspecto?
Estará o poder universitário que advém do saber que se transmite em lições de sebenta, corroído pela erva daninha da ambição do poder político ou pelo menos de administração e de prebenda em sinecuras?
Será JAM ca+az de escrever livremente sobre isso?!
Pela minha parte, acho que era um grande serviço público. E até acho que a renovação político-partidária terá algo a ver com isso.
Basta ver que entre líderes e acompanhantes de líderes, na nomenklatura de dirigentes dos três principais partidos há sinais desse fenómeno que gravita nos corredores do poder das universidades ou pelo menos nos detentores de algumas cátedras.
Assim, é notório que os chefes de partido vão buscar às Universidades o saber de que carecem para pôr em prática os programas que adoptam.
COmo tal fenómeno me parece evidente, põe-se o problema de saber como se faz a escolha: pela competência indiscutível ou mais pelo lado do cartão de clube?
E será que esses "competentes" não se sentirão forçados a uma adopção clubística por saberem que sem o cartão, não há "pão"?!
Não haverá já uma distorção nesse fenómeno e um efeito perverso que compartimenta as competências dos adeptos dos vários clubes?!