Nunc Dimittis

Vital Moreira, no blog causa nossa, não hesitou em classificar como sinónimo de "crassa ignorância", o facto de um locutor de televisão, ter "traduzido" a palavra latina "Nunc", por... "Nunca"! A história também vem aí resumida e poupa-se esforço, transcrevendo-a...

"Segundo o seu "testamento", o papa João Paulo II terá considerado em certa altura a hipótese de renunciar. Recorreu a uma frase bíblica (cântico de Simeão), que reza assim: «Nunc dimittis servum tuum, Domine (...) in pace» [«Agora, Senhor, deixa partir este teu servo em paz»]. Pois um ignorante locutor de uma televisão nacional traduziu essa frase por «Nunca te demitas»! É evidente, não é? "Nunc" só poderia significar "nunca"! Pois não é verdade que o Português veio do Latim!?"

A causa desta ignorância crassa
, deste desconhecimento radical (do latim, radicale), ou seja, de raiz; essencial; fundamental, encontra-se facilmente no nosso sistema de ensino e particularmente nos programas.

O diagnóstico do mal que nos afecta a inteligência já se efectuou noutras disciplinas e por exemplo, ao sabor do Google, aqui se pode ler o que interessa, mesmo em sumário, passível por isso de desenvolvimento mais alargado e em livro branco, vermelho ou até negro...

"A maior parte dos países da União Europeia, incluindo os do alargamento de amanhã, reforça o ensino de línguas estrangeiras nos sistemas educativos. No Reino Unido o ensino do Latim começa na escola primária. Quando a Europa Unida acrescenta mais línguas, Portugal em contra-ciclo reduz o ensino das línguas nas escolas públicas.

Em Portugal o Francês, o Inglês, o Alemão, e as linguas clássicas Latim e Grego tiveram sempre um lugar indiscutível no Ensino Liceal. Hoje, no Ensino Secundário, o Francês desapareceu quase por completo e só recentemente começou a regressar à escola. Retirou-se o Grego como se fosse inútil. A erosão não deixou de atingir o Latim também e só as veementes reclamações das universidades impediram o seu eclipse total. Diminui o número de alunos que escolhem Alemão porque preferem opções "mais fáceis".

Ou seja, na hora em é urgente entender e comunicar com novos povos, não aumentámos o número de línguas estrangeiras na escola, pelo contrário reduzimos o número das línguas modernas e quase enterrámos as clássicas!"

A referência ao ensino do Latim, na Inglaterra, é interessante, além do mais, porque a língua inglesa deve muito menos aos latim (ou ao grego) do que a nossa língua pátria.

Porém, se escreve sobre estes assuntos, como por também acontece, usando os mesmos argumentos básicos de de senso comum. Lá como cá, o estudo do Latim é julgado necessário, além do mais, por estas razões...
Latin enhances the English skills of students by offering a grammar that contrasts highly with English.

Students acquire a sense of how languages work and a readiness to acquire additional ones, as needed. Latin is the mother tongue of English, contributing about 65% of all English words, and 90% of those over two syllables.

Moreover, Latin is the basis of 75-80% of all Spanish, French, Italian, and Portuguese words. Hence, Latin provides a useful key to building vocabulary in English and other European languages.

Unfortunately, Latin word roots and English grammar are skills to which many English teachers today give scant attention.

A background in Latin is an asset to any student who is pursuing a career that demands literacy and/or a technical vocabulary. It is especially useful for such professions as law, insurance, medicine, fictional or technical writing, library science, or management. Students of Latin develop skills and strategies for acquiring new vocabulary and sentence structures. Latin helps cultivate such mental processes as alertness, attention to detail, memory, logic, and critical reasoning. High technology and service companies that hire liberal arts majors seek prospective employees who can "think on their feet", write clear reports, and quickly master new concepts and technical vocabularies.

In addition, those who are pursuing careers in teaching English, History, Philosophy, Comparative Literature, or Modern Languages find that a background in Latin, ancient Greek, or Graeco-Roman civilization can greatly expand the boundaries of their majors.

É assim que se tem entendido ao longo destes últimos trinta anos de consulados de Grilos, Carneiros e Benaventes?!

É que apesar da evidência do falhanço, "nunca se demitem..."
.

Publicado por josé 11:40:00  

7 Comments:

  1. Luís Bonifácio said...
    O erro de tradução foi generalizado em todos os media internacionais. Não foi só dos Portugueses
    zazie said...
    Boa José! E aqui está mais um bom exemplo da tal diferença entre o ensino de outros tempos e o que veio depois.

    mas o latim é língua morta... como será que os liberais justificam que o mercado a escolha?
    josé said...
    Pois, caro Mano Pedro:

    Confesso que só há muito pouco tempo me rendi à evidência de me assumir cota, ao ver os da geração de 70, a comportarem-se como os da geração de 50- mas há vinte anos atrás...
    Mas agora, depois do que temnho visto, ouvido e lido, não tenho grandes dúvidas quanto às virtualidades da exigência de maior rigor na aprendizagem básica .

    Seja o latim, o grego ou a história pátria ou universal, se quisermos progredir na educação, teremos que regressar à exigência do saber estruturado na disciplina do estudo e do tempo imprescindível para o efeito.
    Também eu passei pelos bancos de ensaio do canto gregoriano, durante quatro anos de prè-adolescência.
    Essa experiência, assimilada aos quatro anos de exigência primária, foi a base de todo o saber fundamental.
    O segredo da aprendizagem parece-me relativamente simples:

    Programas exigentes e rigorosos, logo desde o 1º ano escolar. As crianças aprendem certas coisas melhor do que os cotas. COntas, música, línguas e tudo o que exija memorização intensiva deveria ser massiçamente ministrado logo antes dos dez anos.
    No meu tempo de 4ª classe a exigência em Português/ortografia era de zero erros!
    Não entendo por que razão se abandonou esse critério que para mim deveria ser básico.

    As declinações do latim, aprendem-se muito melhor com 10,11, e 12 anos do que depois com 20.
    COm esta idade, já nas faculdades, a exigência deveria ser colocada a um outro nível: superior, tal como a palavra o exige!
    Obviamente que não é assim e a responsabilidade por este estado de coisas é dos ministros da Educação pós 25 de Abril. Mas não admira muito: são quase todos formados em engenharia química pelo IST!
    Vá-se lá saber porquê...
    josé said...
    maciçamente, seria palavra de erro inadmissível, no meu tempo...
    Agora, tenho toda a condescendência- e não deveria ter!
    Anónimo said...
    "...[os Ministros da Educação] são quase todos formados em engenharia química pelo IST!"

    Hmmm... Assim de repente, dos que eram do IST, só me lembro de um Eng. Químico (Deus Pinheiro) e Três Eng. Mecânicos (Diamantino Durão, Couto dos Santos, Marçal Grilo), não contando com um recentemente falhado (vetado pelo actual MCTES???) e eterno candidato a ME que é Eng. Civil...

    Quem são os outros "Químicos"?!?!?
    António Balbino Caldeira said...
    José

    Você atreve-se a criticar a excelência dos pedagogos do politicamente correcto?!... Blasfémia!!!
    josé said...
    Ora bem. Os outros químicos são os mais importantes: são os alquímicos!
    A começar num Simão, passando por um Pinheiro...

    Estão AQUI todos os ministros da educação dos últimos 45 anos!

    Tope os alquímicos- e verá que são os mais importantes e os que fizeram modificações!

    NO ano passado, escrevi isto, num comentário:
    " Os primeiros documentos da reforma educativa surgiram nos primeiros meses de 1987. Uma mega-equipa de investigadores tinha sido chamada por João de Deus Pinheiro para a gigantesca tarefa de recolocar Portugal no mapa educativo. (...) Os eleitos- entre os quais se encontravam os mais tarde reitores, Meira Soares, Alberto Amaral e Machado dos Santos - e o futuro secretário de Estado da Educação, Joaquim Azevedo, traçaram as primeiras linhas do projecto. Criaram uma série de comissões e estruturas de controlo, avaliações e acompanhamento das variadíssimas fases do processo de reorganização da escolaridade.
    ROberto Carneiro e Marçal Grilo encontram-se no grupo de trabalho para propor a reorganização dos currículos dos ensinos básico secundário. Os técnicos superiores do Ministério da Educação juntam-se a Frausto da Silva - ministro da educação entre 82 e 83-para elaborar o documento que não deixa dúvidas sobre a importância do projecto. Um esforço verdadeiramente nacional é requerido.(...) O diagnóstico está traçado e tem cores tão negras que obrigam a soluções abrangentes: é preciso reorganizar currículos, mas também mudar a estrutura organizacional das escolas, mentalidades e qualificação dos professores, chamar a comunidade para o sistema educativo, acompanhar os alunos com diferentes ritmos de aprendizagem. É destas ideias que saem as ideias de ´territórios educativos` ,de projectos como `área escola`, do ´professor-tutor`ou mesmo e reforço do papel de formador de cidadãos que a nova escola deveria assumir."

    Acabei de transcrever uma parte de um texto do Expresso de há alguns anos( não muitos...) por ocasião do laçamento do documento O Futuro da Educação em Portugal. Tendências e Oportunidades 2020: 20anos para Vencer 20 décadas de Atraso Educativo, da autoria de...ROberto Carneiro e Marçal Grilo, os bravos e intrépidos guerreiros da " Área Escola"; dos "territórios educativos" e do "professor-tutor"!!

    Estamos conversados a propósito disto e também do recente veto do Presidente à Lei de Bases do Sistema Educativo.

    Só mais uma coisa:
    Tenho uma filha que nasceu em 1987, quando estas ideias revolucionárias desses génios começaram a germinar.
    Tenho agora outra, com oito e que daqui a dez, se Deus quiser, poderá ter outra perspectiva de vida e de educação. No entanto, vai sendo formada nesta "Área-escola", com professores-tutores e com a ideia genial de " chamar a comunidade para o sistema educativo"!!

    Desculpem-me senhores professores esta prosápia, mas o tempo do experimentalismo, ainda por cima com esses senhores, não me interessa. Porque acho sinceramente que são eles os autores do descalabro dos últimos vinte anos. COmo se vê, gostariam de repetir a dose por amis vinte...safa!"

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