contra a corrente...
terça-feira, abril 19, 2005
sobre Karl Joseph Ratzinger, o pastor alemão perigosamente fundamentalista que excomungou o Monsenhor Lefébvre, perigosamente reformista...
Ratzinger foi eleito Papa, Benedictus XVI. Hans Küng, o seu antigo colega de seminário e antigo amigo, não, nunca chegou sequer a cardeal, e graças à sua prolífica prosa acabou proibido de ensinar teologia pela Congregação da Doutrina da Fé de... Ratzinger. São muito provavelmente os dois nomes mais importantes da Igreja Católica do Séc. XX. Ambos pivots no Concílio Vaticano II, ambos absolutamente brilhantes, e intelectualmente arrasadores, ambos fundamentais para se compreender os dilemas que atravessa a Igreja, neste início de milénio. Paradoxalmente ou talvez não, gosto dos dois. Gosto do estilo radical, de cortar a direito, de Küng, gosto da sua paixão pelo que defende, e aprecio ainda mais a certeza com que se sente infalivelmente embutido (irónico vindo de quem defende consistentemente a inexistência da infalibilidade papal); em concreto aprecio particularmente a sua eclesiologia, e não posso deixar de reconhecer rasgo à sua teologia, se bem que a ache demasiado avant garde, e excessivamente estilizada para meu gosto. Tem para terminar, há que o reconhecer, coragem: ainda agora quando o mundo inteiro se rendia numa homenagem monocromática a João Paulo II, o Homem, Küng, no Der Spiegel, arrasou o Papa. Ratzinger, que em 1966 Küng recrutou para ensinar teologia dogmática na sua faculdade, é o contrário, o oposto. Onde Küng é excessivamente palavroso e vistoso, Ratzinger é a sintese e a discrição em pessoa; onde Küng defende a ruptura, Ratzinger defende o compromisso, que não necessariamente a tradição. Duas visões, a mesma Fé, a mesma energia, a mesma Igreja.RATZINGER
O post de hoje parte do Mário. Ele escreve com ironia sobre Ratzinger. Eu nem tanto. Como lembrei no Independente outro dia, "o “politicamente correcto” via-o [ a João Paulo II ] como um “fundamentalista” ou mesmo como um “reaccionário” quando, na realidade, ele não podia ser outra coisa, sob pena de quase tudo perder sentido e passar a ser pura e simplesmente “outra coisa”. E acrescentei que, "na sua intransigência, na sua ortodoxia e, sobretudo, na sua fé, Wotjyla manifestou permanentemente, com método e sem desfalecimentos “intelectuais”, ao que vinha". Ora a escolha do novo Papa, olhada pelo lado da Igreja, passa por isto. É este o significado das palavras de Ratzinger na missa que antecedeu o conclave dos cardeais: "estamos a avançar para uma ditadura de relativismo que não reconhece nada como certo e que tem como objectivo central o próprio ego e os próprios desejos". Logo, exige-se uma fé "mais madura" e um combate sem tréguas ao "radicalismo individual" que nos faz "ser criança andando ao sabor de ventos das várias correntes e das várias ideologias". Ratzinger não representa a "evolução na continuidade". Ele é, como deve ser, radical na continuidade. Não podia, aliás, ser outra coisa.
João Gonçalves
Ironicamente, e pesem as vozes do mau agoiro, Ratzinger tem tudo para ser um bom Papa, tem a autoridade para meter os duros na linha (já o fez por diversas vezes no passado) e a inteligência para perceber os novos tempos. Dele é politicamente correcto dizer que não se espera nada; eu, católico, que nem sequer gosto da Opus Dei, e similares, espero tudo. Alguns verão neste texto uma contradição insanável, eu não. Que o Espírito Santo esteja com ele.
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Publicado por Manuel 18:18:00
11 Comments:
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Parabéns pelo conteúdo do post, que teve, pelo menos, o mérito de me estimular a pesquisar mais sobre o passado de Ratzinger
Do 'irmão' André
";O)
X
Até agora, o dito documento não foi publicado.
Esperava tudo menos Ratzinger (ou alguem do seu grupo conservador). Tanto Cardeal das Américas, de África, da Ásia e tinha de nos sair um ex-membro da Juventude Hitleriana...?
O Espírito Santo trabalha de forma misteriosa... vem S. João XXIII e ilumina-nos...