A 3ª via da Cultura

João Miranda, no Blasfémias, apresentou duas alternativas de modelo de gestão para a Casa da Música. Basicamente, colocou a questão ao nível da missão do equipamento: com, servir um projecto artístico, baseado apenas na oferta, com elevados custos; e sem, torná-lo apenas num espaço de acolhimento, que actua apenas perante o estímulo da procura, com garantidos índices de rendibilidade. Pese embora o facto de, em Portugal, a gestão cultural se caracterizar muitas das vezes mais pela maximização da utilidade dos agentes culturais e administradores do que pelo cumprimento da missão de desenvolvimento cultural da população - o tal serviço público, continuo a preferir que tenha uma missão cultural e não de simples negócio e que seja levada a cabo com eficiência e, de preferência, com o contributo de personalidades como Artur Santos Silva que, por serem homens de negócios e, ao mesmo tempo, de cultura erudita e não só, com toda a certeza saberão conciliar a sustentabilidade do projecto, olhando não só à procura, mas também à necessidade de se ter uma oferta musical de qualidade para assim cumprir o objectivo que, não se tenha ilusões, só será possível com um forte contributo de financiamento público. É assim em Portugal e em qualquer parte do mundo aonde exista politica cultural.
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Publicado por contra-baixo 10:13:00  

36 Comments:

  1. Anónimo said...
    Alguém pode remeter-me, por favor (e agradeço desde já a atenção), para uma fonte onde se encontre escrito preto no branco que futuro os decisores pretendem para a Casa da Música. Gostava de ver um documento onde em vez de falar em milhões de euros, em vez de falar em actividades e mais actividades se arriscasse a TRAÇAR UM DESTINO. Queremos (nós, eles, os decisores) que a Casa da Música seja reconhecida por isto..., seja conhecida por isto..., seja associada a isto... Por um lado para mim, vulgar cidadão, permitiria julgar as futuras equipas de gestão, quando daqui a 5/10 anos se confrontar a realidade com esses desejos. Por outro lado, talvez por uma vez, as equipas de gestão antes de pensar no orçamento, do jobs e ... poderiam ver tudo isso como instrumentos para que a Casa da Música cumpra a sua razão de ser, a sua finalidade, a sua Missão.
    diógenes
    Anónimo said...
    Já agora, o que aprecio nas organizações sem fins lucrativos que em países como os EUA vivem do financiamento privado, é que esse financiamento será tanto mais possível e bem sucedido, quanto mais a organização se mantiver fiel ao seu propósito inicial. É tão fácil ao fim de alguns anos começar a perder de vista a finalidade inicial e arranjar como finalidade implicita por exemplo; o pagamento dos salários e regalias dos funcionários da organização (veja-se o caso dos governos civis). A necessidade de recorrer a financiamento, a apoio de privados obriga a fazer obra, obriga a ter contas claras, obriga a ter práticas de gestão. Interessante que o pai da gestão (Peter Drucker) croiu uma fundação de apoio à gestão de organizações sem fins lucrativos
    diógenes
    contra-baixo said...
    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
    contra-baixo said...
    caro diógenes:

    Tirando um trabalho encomendado pelo ex - administrador Manuel Alves Monteiro ao consórcio BPI/BCG e cujo conteúdo não é do conhecimento público, não existe qualquer documento com responda aquilo que procura, com excepção de alguns discursos e entrevistas dos vários protagonistas no processo que, como sabemos, valem o que valem. Tão pouco a página oficial da CdM dá qualquer indicação sobre a sua missão.
    zazie said...
    Contrabaixo:

    Eu também mandei umas bocas aquelas 2 vias do JM porque não passam de caricaturas das reservas mentais face a tudo que não ande na bolsa.
    Ainda assim também não vejo as coisas como tu: na verdade o que continua e continuará a haver é uma série de promiscuidade dos caciques de sempre em tudo que lhes venha à mão.

    A cultura ou a música são meros pretextos. A megalomania também não é só a que está à vista. Apenas lamento que se confunda um luxo artístico com a velha ciganice de mais uns dinheiros ao bolso.

    O problema não é a música ou a brilhante obra arquitectónica. é quem gosta de nos dar música à custa dela
    contra-baixo said...
    Zazie:

    Na posta não deixou de se referir:

    "Pese embora o facto de, em Portugal, a gestão cultural se caracterizar muitas das vezes mais pela maximização da utilidade dos agentes culturais e administradores do que pelo cumprimento da missão de desenvolvimento cultural da população - o tal serviço público ..."

    Para meio entendedor ...
    zazie said...
    ok, tens razão. Eu agora quero é lá ir ";O))
    josé said...
    Aqui há algum tempo fui ver a Orquestra Nacional do Porto, na sua sede, o convento de Santa Maria da Vitória, no Porto. A orquestra é excelente! Ponto final. Tão boa como as melhores, tirando as excepcionais. É verdade que tem muitos músicos do leste; é verdade que o conducatore é Marc Tardue. Porém, o profissionalismo e a exigência técnica na execução é de supina qualidade.

    Já nessa altura se falava que irian de malas e bagagens para a Casa da Música e senti pena porque o convento de S.M.Vitória tinha um cenário que a Casa da Música nunca teria. Enfim...

    Quanto a esta obra, no Domingo passado ouvi na TSF o pai dos manos Barreiros e que orienta uma escola de jazz no Porto, paga integralmente por propina dos alunos, dizer que lhe parecia que a Casa da Música era assim uma obra semelhante a um indivíduo que trabalha nas obras e que decide comprar um Rolls Royce. Dizia ele que gastar 100 milhões de euros numa obra daquelas, numa cidade que nem tem consercatório de jeito é um luxo pindérico ( a expressão é minha, mas o sentido é o mesmo).

    Não sei. Já ouvi dizer o mesmo do CCB e fui lá e gostei.
    Da Expo, idem. Do Euro, idem aspas.

    Se calhar, no fim de contas e apesar de tudo estou enganado e o pai Barreiros tem razão.
    Basta pensar que poderíamos a esta hora ter uma obra do Frank Ghery em Lisboa e estarmos aqui com os mesmos argumentos.
    Será que é precisa uma obra do Ghery em Lisboa?!!
    Acho que não e é por aí que se pode raciocinar a propósito da Casa da Música. Mesmo que seja louvada no NY TImes, a verdade é que não precisávamos de tal coisa.
    É um luxo! ´
    Sempre que lá passo, lembro-me agora das antenas parabólicas à entradas das barracas em Lisboa e dos carros de luxo à porta dos tugúrios.
    É uma imagem do país virtual que também somos.
    Se calhar estou a ser demasiado velho do restelo, mas já reflecti nisto e não saio disto...
    zazie said...
    É capaz de ter razão, José. Não sei se é luxo se é desperdício. Tenha sempre uma ideia muito positiva de um luxo e muito negativa de um novo-riquismo. Neste caso apenas me deixei levar pelo invólucro gosto da arquitectura. E vi umas fotografias no Last Tapes da Cris que não lhe digo nada...
    contra-baixo said...
    Venerável José:

    A questão aqui parece-me uma só: neste momento a cidade do Porto tem a CdM; Lisboa tem o CCB; a zona da Expo foi revitalizada; e os estádios de futebol estão aí para ficar. Podemos não ter o dinheiro para o conservatório de música do Porto (um escândalo), faltam hospitais, faltarão escolas, etc, etc., é verdade! Uma coisa me parece inquestionável o País tem mais património, não sei é se teria o que ainda falta se estes investimentos em geral e a CdM em particular não se tivessem concretizado.
    Não quero com isto dizer que o dinheiro foi bem gasto. Longe disse, ainda hoje comentava com um venerável desta loja que muito provavelmente a CdM poderia ter custado menos 30%, trata-se obviamente de um cálculo empírico baseado nas vicissitudes que são do conhecimento público, isto para além de ter sido uma obra que pura e simplesmente não foi planeada antes de iniciar, veja-se a este propósito as justificações para as derrapagens, de uma maneira geral todas elas mais ou menos aceitáveis, e não nos podemos esquecer que este edifício, dada a sua configuração pouco convencional, obrigou talvez a alguma experimentação feita em obra e não em laboratório ou atelier de engenheiro ou arquitecto com deveria ter sido, veja o exemplo da despesa com a abertura de uma entrada do parques de estacionamento para a avenida da Boavista e que a CMP pura e simplesmente "enterrou" mais ao dinheiro gasto. Não quero com isto dizer que, com a inauguração, tudo deva ser esquecido, sou dos que acha que deveria ser feita uma auditoria (que não daquelas de encomenda para salvar o coiro de uns e chamuscar o de outros) para apurar se os 100 milhões de euros justificam a obra apresentada.
    Há um dado que agora me parece importante, que é aquele que tem a ver com o valor imaterial do edifício. Pode não valer os 100 milhões €, mas uma coisa é verdade, depois do prémio europeu que o arquitecto Koolhaas recebeu; depois do reconhecimento do New York Times e das menções feitas e por fazer em revistas de arquitectura de referência mundial, com certeza que o seu valor aumentou consideravelmente, dirá o João Miranda: trata-se de um valor não sindicável pelo mercado, e então os Jerónimos, a torre dos Clérigos, o Mosteiro da Batalha, poderão sê-lo? Não me parece. Penso até que se fosse esta semana que o arquitecto tivesse sido contratado os seus honorários seriam seguramente muito superiores ao que foram, logo até por isto, acho que foi uma escolha da pessoa certa. Estou por isso convencido que os benefícios indirectos que se retirarão dos milhões gastos acabarão por justificar a médio e longo prazo o investimento feito.
    Por ora me fico, se necessário for voltarei ao assunto.
    zazie said...
    Contrabaixo:

    mais devagar! não se pode comparar com Jerónimos ou Torre dos Clérigos ou qualquer outro património que recue no tempo por mil e uma razões. Basta uma para os separar de tudo o resto: são obras irrepetíveis.

    Restam os gastos, resta a função e resta a obra.
    Eu apenas me pronuncio em relação à obra arquitectónica e digo que gosto. E muito. Ao contrário do CCB até aderi mais rapidamente. Mas ainda não vi lá por dentro. Só nas fotos da Cris do Last Tapes
    zazie said...
    Mas isto nada tem a ver com o post do JM e a resposta do Contrabaixo. O JM repetiu aquela visão de caricatura da cultura à Prado Coelho (porque não à Pedro Mexia, já agora...) em oposição à cultura à investimento privado ou tino-flores porque de outra privada bem podemos esperar sentados.
    O VPV colocou a questão de forma mais depurada. Ainda assim, na prática podem ter mais ou menos razão- quanto aos gastos- é óbvio- e só por isso o jogo está viciado; quanto ao interesse ou viabilidade de manutenção não sei; quanto à ideia de fundo: protecção estatal para “luxos” culturais ou lei do mercado, é óbvio que sou pela primeira. E já expliquei em poucas palavras o motivo: um país pobrezinho que perca essa noção de elitismo cultural está no caminho certo para perder o pouco que lhe resta.

    E, ano contrário do VPV, neste campo não penso que baste apenas por se tornar mais rico e mais instruído. Nem o ficava prescindindo da manutenção destes "luxos" elitistas nem conseguiria sê-lo se julgasse que temos escala em que as leis do mercado o proporcinariam.
    zazie said...
    já agora, culturalmene o CCB acabou por ser uma boa surpresa; a Expo foi novo-riquismo e, mesmo em termos práticos as marinas nem funcionam; quanto à Casa da Música não faço a menor ideia... a menor...
    zazie said...
    voltando à arquitectura: acham mamarracho? eu não! e nestas coisas costumo ser uma "cheirnhas" do caraças ":O)))

    Mas não sei como é por dentro, tirando as tais fotos da Cris...

    e parece que também usa aquelas cotas de malha metálica...
    estou com curiosidade nesse detalhe porque já as vi pessimamente usadas na biblioteca Fraçois Mitterand em Paris, apesar dos panegíricos que lhe têm tecido...
    contra-baixo said...
    Zazie:

    Não percebi:

    Então "não se pode comparar com Jerónimos ou Torre dos Clérigos ou qualquer outro património que recue no tempo por mil e uma razões" Porquê?

    Será que, por comparação com a dita arte secular, a arte contemporânea é inferior?
    zazie said...
    Contrabaixo:

    É óbvio que nunca se poderia comparar antes de mais porque a comparação nem é propriamente estética, é histórica, é uma marca de tempo que nunca pode ser repetida, e por isso mesmo é património. E isto não tem nada a ver com as possibilidades ou impossibilidades de se fazer hoje em dia uns Jerónimos, é bem mais importante porque contem informações iconográficas e técnicas e estilísticas e até arqueológicas que nos podem dar informação de uma época. Estas obras do passado não tiveram produção em série como as dos nossos dias, por isso mesmo são preciosidades únicas!

    E era bom que estas tretas fossem ensinadas logo na infantil aos putos para que depois não andem por aí adultos porfs universitários e não sei que mais a dizerem que c’a para mim os Jerónimos são isto,blá,blá,blã e que as igrejas ficavam bem como cafés porque a ateísmo é que é racional... e outras merdas do género como dizia um idiota que até é responsável por essa famigerada associação república e laicidade.

    É claro que tu não tens culpa mas eu passo-me com estas coisas e estava já com vontade de te dar com o contrabaixo na mona “:O))))
    zazie said...
    Até já li gajos em doutoramento em História da Arte Contemporânea a dizerem barbaridades bem próximas... como acabar-se com o brasão de Évora porque tem lá uns mouros a serem degolados e isso pode ser uma provocação a um árabe e outras anormalidades politicamente correctas do género.

    Esta malta passa a vida em beberetes alternados com a militância e depois é no que dá...
    zazie said...
    como é óbvio ninguém iria pôr á venda a Torre dos Clérigos a não ser que fosse anedota, já a Casa da Música ou o CCB até se podia caso não estejam classificados como património tuga ou mundial.

    E os autores estão vivos, a obra pode voltar a ser feita mesmo em caso de cataclismo e ainda mais o testemunho histórico que pode ter, até ao presente, pouco mais é do que a história do défice
    zazie said...
    understood?

    hããã? ehehehe
    zazie said...
    e essa da arte secular com arte contemporânea também foi cá uma ó sô Contrabaixo...

    então o palácio de Sintra ou a Torre de Belém são obras religiosas lá porque são antigas?

    e todas as obras modernas são laicas? e a capela Ronchamp não é património histórico e obra contemporânea do Corbusier? só para dar um exemplo?

    e o valor ou interesse é meramente estético? ai, ai, ai, mauvais, mauvais, mauvais...

    ":O)))
    zazie said...
    se até aquelas pegadas dos dinos são consideradas património querias tu agora comparar com a casa da música looooooooooolllll
    contra-baixo said...
    Oh Zazie:

    Embora este seja um tema da tua lavra, percebeste perfeitamente o que eu queria perguntar e não respondeste. Pela última vez, consideras, à partida, que a arte contemporânea, por comparação com o barroco por exemplo, é uma arte menor?
    contra-baixo said...
    Quanto à venda da Torre dos Clérigos, olha que já estivemos mais longe...
    Hoje em dia é até bastante recorrente a figura da "desafectação do domínio público" não é uma venda, mas olha que não anda muito longe.
    contra-baixo said...
    E, já agora, desculpa a minha falta de rigor, no que tocou à utilização do conceito de "secular"
    contra-baixo said...
    De outra maneira, devem os governos concentrar-se apenas na preservação do património histórico dos seus países ou, e também, apoiar e investir na criação contemporânea?
    zazie said...
    ó Conrabaixo, tu não sabes ler?

    onde é que eu não escondi que a arte contemporânea é inferior à do barroco?

    onde?!??! para te responder devia ficar por aqui.

    o que eu disse e que nem era preciso dizer porque sabes muito bem é que PATRIMÓNIO HISTÓRICO não se mede por GOSTO!!! não depende de ser bonito ou feio, É UM TESTEMUNHO. É um objecto semãntico que faz falar o passado e cuja raridade o retira de qualquer outro valor comercial, utilitário ou meramente estético.

    era disto que se falava quando tu deste em comparar o "valor" da Casa da Música com os Jerónimos
    zazie said...
    como tudo isto começou quando aqui deixei uma série de comentários a valorizarem a Casa da Música pela sua qualidade arquitectónica,

    quando fui eu que a salientei e até disse ao José que à custa desse efeito de gosto até me estava a esquecer da possível desnecessidade de dinheiros e função que vai cumprir, é caso para perguntar de onde vem essa tua reactiva.
    zazie said...
    por último, fui também eu que deixei aqui a pergunta: acham que é um mamarracho?

    o que se depreendia que eu não acho, que embora a minha área seja mais virada para o passado sei distinguir as coisas.

    Gosto artístico não é a mesma coisa que necessidade de manter memórias.

    Para mim uma treta de um pequeno objecto qualquer mesmo muito tosco como uma gárgula tem tanto interesse como a Torre dos Clérigos,desde que seja "falante".

    E o lado estético é totalmente dispensável. Não faço parte daqueles que sentem necessidade de misturar as coisas ou só entendem uma delas.

    Por isso, voltando à pergunta: há pergunta: se me falasses em comparar S Carlo às Quatro fontes do Borromini com as Amoreiras a resposta ia já para o barroco.
    Se a pergunta é a da arquitectura como emblema político de uma época, aí digo-te que prefiro as pirâmides do Egipto.
    zazie said...
    mas, tal como no Egipto, parece que se aproveitava a mão-de-obra jovem no tempo de intervalo entre o trabalho do campo para construírem pirâmides. E como também se costuma dizer, isso até seria serviço público pois evitava desacatos, olha não sei. Não sei se não seria uma forma de resolver alguns problemas de marginalidade essa ideia do investimento do Estado na “Arte Contemporânea”... em vez de grafittis anormais...

    mas estava a brincar. Acho que sim, que há obras que devem ser investimento estético. Neste caso o único critério são as prioridades e os custos.

    Em termos de prioridades e em nome da Cultura a minha posição não é a do espectáculo enquanto se deixar a apodrecer manuscritos, iluminuras, arquivos por todo o país; enquanto nem sequer o que é raro e histórico tem direito a restauros, conservações ou até a ser catalogado.

    Esta é a posição da generalidade de quem lida ou se interessa com a cultura. Mas estes cuidados não dão o show off que os políticos precisam.
    zazie said...
    E desculpa este ar tão doutrinal com que tanto embirro. Não deveria nunca ser preciso possuir-se qualquer conhecimento especial para se entender que o passado e as raízes são património da humanidade. E é por via deste estúpido défice que, de facto, se pode perguntar para que servem certas obras se o que é básico não se entende...

    Não é nada de pessoal Contrabaixo, nada mesmo, mas assim como há quem sinta a politicam o futebol a mim esta deve ser a única coisa não pessoal que me entusiasma ou faz passar dos carretos “:O)))

    Se calhar este défice nem é apenas cultural, é bem mais profundo... é bem possível que esteja ligado a essa excesso de presente e de opinião. E olha, vale a pena ler o último post do Dragão. Fala precisamente disso. http://dragoscopio.blogspot.com/2005/04/doxocracia-e-doxofilia.html
    zazie said...
    e voltando à pergunta que disseste que não respondi: "consideras, à partida, que a arte contemporânea, por comparação com o barroco por exemplo, é uma arte menor?"

    qual arte do barroco? que arte contemporânea? em termos de quê? de avanço ou retrocesso em quê?

    As categorias de hoje não são válidas para todo o passado. Ainda assim, esteticamente ou apenas em termos de linguagem artística podem fazer-se confrontos. Simplesmente esses confrontos não são abarcáveis por uma categoria como “barroco” ou contemporâneo.
    Podes perguntar de outra maneira. Por exemplo: quem sabe hoje em dia utilizar o óleo como o Rembrandt? Parece que depois do Francis Bacon ou da Paula Rego poucos mais conseguirão. Foi um saber que se perdeu desde que a máquina fotográfica veio substituir o retrato.
    O que podemos é perguntar como se pode fazer hoje em dia figuração que tenha o valor de um Rembrandt que também nunca fez mero “retrato”- E aí até é capaz de já ter havido mas o balanço precisa de distância no tempo.
    O que se podia perguntar é se nos nossos dias não existe uma variedade e capacidade criativa tão grande ou maior em muitos aspectos que noutras épocas. E aí dizia-te que sim. Por todos os motivos, a arte disseminou os seus sentidos. Depois precisávamos de ir para diferentes áreas para se entender como avançaram mais umas que outras (música mais que artes plásticas, suponho) etc, etc...

    Daí que a tua pergunta apenas deva ficar por esta constatação: é preciso muito mais que fazer um quadro ou uma casa para que ele seja vivido e entendido nos nossos dias.

    È capaz de ser por essas e por outras que há quem diga que sem a escola não vale a pena o monumento. Olha, se for para ouvir o 4'33'' do Cage, não “;O)
    zazie said...
    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
    zazie said...
    Bom, para não ficares chateado com o excesso na reacção “patrimonial” ha um bom exemplo artístico que muito me agrada. O Goya que vendia aquelas Caprichos na perfumaria da Calle do Desengano, fez uma ciganice ao rei e ficou com umas depois de lhe vender os direitos. E sabes o que dizia quando ele próprio as decidiu publicar mais tarde? “
    "para tener el gusto de decir eternamente a los hombres que son unos bárbaros"

    Assim o fizessem que só tínhamos a ganhar...

    2:31 AM
    zazie said...
    Já que me puxaram pela língua aqui vai mais uns paradoxos do mercado e do património...

    O nosso caso é de tal modo catastrófico que creio que a maior parte dos portugueses nem sabe. Não sabem sequer os “letrados” quanto mais os eleitores...

    São manuscritos, cartórios, iluminuras, esculturas e igrejinhas a desaparecerem por falta de cuidado. No caso de manuscritos a calamidade é irremediável, no caso das pinturas a fresco nem se fala, no caso da arqueologia a vergonha é tal que nem se fala... e por aí fora.
    E depois o mercado entrou na dança e hoje em dia, o que não desaparece por incúria dos governantes desaparece por arte do mercado privado. As escolas de restauro servem para uma única coisa. Formar piratas. Ainda hoje me contava um amigo que até faz parte de uma. Quando não são os estrangeiros que levam são os da casa que exportam. Tanto vai a pintura mural da igreja como os mosaicos das ruínas como as páginas dos livros da Torre do Tombo. Os primeiros para venda, os segundos para aumentar o valor das edições privadas. Basta cortar uma página de uma edição guardada para que a segunda que se possui suba logo a cotação. Se o património já se tornou negócio (e do mal o menos, antes vendido que destruído) que sentido faz pensar-se em importância nacional de fazer arte patrocinada pelo Estado se o Estado não tem dinheiro nem para cuidar da que é rara e está in loco e muito menos para cobrir ofertas da que pode ir para qualquer lado?
    contra-baixo said...
    Pronto, zazie, já percebi.

    Um último esclarimento a este comentário:

    "era disto que se falava quando tu deste em comparar o "valor" da Casa da Música com os Jerónimos"

    Citando-me, disse:

    "trata-se de um valor não sindicável pelo mercado, e então os Jerónimos, a torre dos Clérigos, o Mosteiro da Batalha, poderão sê-lo? Não me parece"

    Eu não comparei o valor artístico do Jerónimos. Alías eu acho até que a arte não pode ser comparada, posi se assim for acabariamos por estar a utilizar categorias de valor, o que na arte não faz sentido, pois não exsite, acho, arte maior e menor. já basta o paleio da popular e da erúdita.
    A menção aos Jerónimos era os recados para os JM(s, aqueles para quem tudo se mede pelo preço que é formado no mercado, perguntando-lhes se conseguem avaliar aqueles monumentos.
    Ficamos esclarecidos?
    zazie said...
    ok, ficamos esclarecidos mas tanto tu como eu somos uns líricos ehehe

    já viste estas últimas do apoio ao Burmester...

    pois, andamos nós para aqui a pensar em arte e estética e eles vão logo direitos ao "assunto" ":O.

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